Sem bala de prata, foco é o longo prazo, diz CEO da Dasa. Mas resultados já aparecem

Em entrevista à Bloomberg Línea, Lício Cintra diz que geração maior de caixa que estabiliza a dívida, aliada a aporte de controlador, gera tranquilidade para avançar com agenda de ganhos de eficiência

Lício Cintra, CEO da Dasa (Foto: Divulgação)
16 de Agosto, 2024 | 06:52 AM

Bloomberg Línea — “Não há carta na manga nem mágica que vai transformar o resultado da noite para o dia.” Essa frase tem sido uma espécie de mantra reiterado pelo CEO da Dasa, Lício Cintra, a interlocutores ao explicar o que se deve esperar do processo de recuperação de um dos maiores grupos de saúde do país.

Mas isso não significa que, em dado momento, a evolução não será mais perceptível do que em outros. Esse parece ter sido o caso no segundo trimestre, cujos resultados divulgados na noite de quarta-feira (14) mostraram uma empresa que cresceu na ordem de dois dígitos, reduziu custos e atingiu pela primeira vez em três anos uma geração de caixa operacional suficiente para estabilizar a dívida.

“O trimestre trouxe boas notícias relacionadas ao que desenhamos no fim do ano passado de busca de excelência operacional em várias frentes, que consiste basicamente em fazer mais com menos, com revisão de processos e padronização de materiais e medicamentos, entre outras iniciativas. Foi uma combinação de fatores”, disse o CEO da Dasa em entrevista à Bloomberg Línea.

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Como reflexo, pela primeira vez desde a reabertura de capital no segundo trimestre de 2021, a dívida líquida (incluindo aquisições a pagar e antecipação de recebíveis) ficou praticamente estável em relação ao período imediatamente anterior, graças ao aumento da geração de caixa operacional.

O resultado financeiro, combinado com a capitalização de R$ 1,5 bilhão da família Bueno, acionista controlador, concretizada no fim do trimestre, “nos dá uma tranquilidade maior para o futuro porque representa pagamentos menores de juros da dívida para os eventos subsequentes”, disse o executivo.

A dívida financeira líquida passou de R$ 9,62 bilhões ao fim de março para R$ 8,39 bilhões em junho, o que, aliado ao aumento de capital e ao crescimento da geração de caixa, levou a alavancagem a recuar de 4,20x para 3,47x o Ebitda ajustado nos últimos 12 meses para efeitos de covenants.

“Terminamos o segundo trimestre com caixa 70% superior a todas as nossas obrigações de pagamento até dezembro do ano que vem”, disse o CEO da Dasa. “É outra realidade.”

A reação inicial de investidores ao resultado foi positiva: as ações subiram 6,07% nesta quinta, em uma das principais altas da B3. Em 12 meses, no entanto, a queda acumulada ainda está na casa de 75%, o que indica o caminho a percorrer para a retomada da confiança no mercado.

O CEO da Dasa ressaltou a avaliação de que se trata de uma jornada que está no começo. “Temos muitas frentes abertas [de busca por ganho de eficiência] e isso exige uma disciplina de execução muito grande. Estamos olhando muito mais para dentro”, disse em referência indireta à percepção de mercado.

“A nossa expectativa é que gradativamente tenhamos melhora de margem por meio de redução de G&A [despesas gerais e administrativas], de melhora de processos, de padronização de medicamentos, de disciplina de receitas etc. Estamos trabalhando de olho no longo prazo”, reforçou.

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Houve crescimento de 10% no segundo trimestre nas receitas na comparação anual, para R$ 4,3 bilhões, com avanço semelhante tanto em oncologia (+11%) como em diagnósticos (+9%).

“É um resultado mais saudável que segue a agenda de não buscar o crescimento a qualquer custo, abrindo mão de margem. Mostra que nossas estruturas na ponta são bem avaliadas pelos clientes e médicos e isso gera uma demanda natural”, afirmou.

O Ebitda, métrica de geração de caixa operacional, subiu 27% na base anual, para R$ 668 milhões. Como reflexo de aumento de receitas e queda de despesas, a margem Ebitda subiu de 14,5% para 16,9% em um ano.

No período, houve fechamento de 47 unidades de diagnósticos (equivalente a 5% do total) consideradas ineficientes e de sete NTOs (Núcleos Técnicos Operacionais), responsáveis pela produção de exames, o que atestou, segundo o executivo, justamente o ganho de produtividade dado o avanço das receitas.

“Eram unidades de diagnósticos com margem de contribuição negativa, com baixo crescimento ou potencial de crescimento e em regiões que não são consideradas estratégicas”, disse. Como reflexo da medida e do aumento do volume de atendimentos, a margem bruta ajustada dessa divisão de negócios subiu de 32,2% para 34,0%.

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No caso das NTOs, que realizam o processamento de exames de sangue, apesar do fechamento de sete unidades, houve aumento de 10% da capacidade. “Estamos ganhando escala.”

Também como reflexo das iniciativas, as despesas caíram em termos nominais, de R$ 536 milhões no segundo trimestre de 2023, equivalente a 14,8% da receita líquida, para R$ 517 milhões no período neste ano (13,1%).

Outro destaque, segundo Cintra, foi o que classificou como “disciplina de capex”: os investimentos ficaram em R$ 85 milhões no período, o que representou queda de 47% versus o mesmo período de 2023. “Isso reflete como temos alocado recursos em áreas que de fato precisam e, mais do que isso, o nosso foco em otimizar os recursos nos ativos em que mais investimos nos últimos anos.”

JV em hospitais: alavancagem menor

O CEO da Dasa destacou também uma nova perspectiva para a saúde financeira da futura operação de hospitais, fruto da joint venture anunciada há dois meses com a Amil. A aprovação pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) é aguardada para o fim do ano.

Na ocasião do anúncio, segundo Cintra, houve um descasamento entre dívidas e Ebitda nos cálculos de alavancagem da futura companhia, que levou em conta a geração de caixa operacional com base nos números do exercício de 2023 - de R$ 777 milhões (R$ 600 milhões da Dasa e R$ 177 milhões da Amil), consideradas apenas as 25 unidades dos dois lados que entram de fato no negócio.

“Tivemos no primeiro semestre um Ebitda de R$ 378 milhões nos nossos hospitais que entram na joint venture. Ou seja, só o nosso perímetro de hospitais já vai entregar praticamente todo o Ebitda anunciado do grupo”, disse o executivo em referência ao dado anualizado de R$ 756 milhões. “Estamos otimistas de que a nova empresa vai nascer muito menos alavancada do que o mercado tem projetado.”

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.