Bloomberg — Se você tomou uma vacina contra a covid-19 ou a gripe, a vacina pode muito bem ter saído de um frasco feito pela Stevanato Group (STVN), uma das poucas empresas italianas listadas na Bolsa de Valores de Nova York. Tudo o que foi preciso para chegar lá foi “uma fase inicial de startup que durou 30 anos”, disse Franco Stevanato, o modesto presidente executivo da empresa, que abre a porta pessoalmente para cumprimentar os repórteres que visitam os escritórios do Stevanato Group, em Milão.
Mas agora, a empresa de 75 anos, que começou fabricando garrafas e recipientes no polo vidreiro ao redor de Veneza, se prepara para dar um salto ainda maior, buscando entrar no grupo dos cinco principais produtores globais de dispositivos de injeção de medicamentos.
Uma nova onda de medicamentos biológicos e o sucesso de tratamentos para perda de peso e diabetes tendem a impulsionar a demanda pelos produtos da empresa, disse o presidente, o que faz a companhia almejar uma posição de liderança.
A Stevanato já produz 11 bilhões de peças anualmente em 19 unidades em países como Estados Unidos, China, Brasil e Itália, principalmente frascos, cartuchos, seringas pré-cheias, canetas injetoras e autoinjetores, além de sistemas sofisticados de aplicação no corpo. No Brasil, ela tem uma unidade em Sete Lagoas (MG).
Leia também: Como a fortuna em bolsa do bilionário Richard Branson desapareceu em um ano
Tudo começou com inovações idealizadas pelo fundador Giovanni Stevanato, um carpinteiro de profissão com “um talento para a invenção”, disse o presidente, apontando para as ideias de automação do seu avô que reduziram radicalmente os prazos de entrega.
Isso proporcionou o ímpeto para que o pai de Franco, Sergio, agora com 81 anos, continuasse a expandir o negócio por meio de aquisições, à medida que a empresa progressivamente se afastava de recipientes para os setores de alimentos e fragrâncias em direção à indústria farmacêutica, que é mais lucrativa.
É uma transformação para uma empresa pertencente a uma família humilde como os Stevanatos, que ainda vivem agrupados em torno da sede da empresa em Piombino Dese, uma pequena cidade a cerca de 32 quilômetros de Veneza mais conhecida por suas vilas renascentistas do que pelo burburinho corporativo.
Franco Stevanato, um bilionário que dirige um Volkswagen, dispensa roupas de grife e diz que às vezes viaja na classe econômica de trens para conviver com estudantes, lidera uma família com patrimônio de cerca de US$ 7 bilhões que faz parte de um grupo seleto de famílias ricas na Itália mais conhecida por nomes como Agnelli e Berlusconi.
E embora a abordagem discreta possa ser uma questão de escolha pessoal para o executivo de voz suave que passa os finais de semana levando seus quatro filhos para competições esportivas locais, ela também reflete o que ele diz ser uma obsessão da família: manter a dívida sob controle.
O presidente lista as principais razões da empresa para optar por uma abertura de capital nos EUA em 2021: “tornar-se visível por estar próximo aos clientes encurtando suas cadeias de suprimentos e arrecadar recursos para construir fábricas nos EUA - mantendo nossa dívida sustentável”, disse.
Isso significa manter a alavancagem em um nível máximo de duas vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, disse Stevanato. A dívida da empresa era de € 324 milhões (US$ 350 milhões) no final do ano passado.
O esforço para manter a dívida baixa remonta aos anos 1980, quando o Grupo Stevanato estava à beira da falência depois que um cliente fundamental deixou de usar os produtos da empresa e passou a optar por recipientes de plástico.
O período subsequente teve seu preço para a família, e mesmo depois da bem-sucedida oferta pública inicial, Stevanato lembra-se de seu pai dizendo: “Wall Street é tudo muito bom, mas nossos trabalhadores estão seguros?”
Ações da Stevanato aumentaram cerca de 40% desde o IPO. Isso se alinha com a abordagem incremental da empresa aos mercados. “Fomos criticados por nosso free float”, disse Stevanato, com o número atualmente em 16%. “Mas preferimos ser prudentes, dando um passo de cada vez.”
Um desses passos aconteceu no final de março, quando a empresa e a holding familiar venderam cerca de 14 milhões de ações para levantar cerca de US$ 380 milhões, reduzindo sua participação controladora para cerca de 74% - e colocando a fortuna total dos Stevanatos em cerca de US$ 7 bilhões, de acordo com o o Bloomberg Billionaires Index.
O Grupo Stevanato registrou receita de € 1,1 bilhão no ano passado, um aumento de 10% em comparação com o ano anterior, com margem de lucro bruto ligeiramente menor, de 31% para 33% em 2022. A empresa espera um crescimento de receita “mínimo” de dois dígitos baixos até 2027, disse o presidente.
Apesar do desempenho irregular das ações este ano - embora o preço das ações ainda esteja bem acima do preço de IPO de US$ 21 - Stevanato diz que quer vender progressivamente pacotes de ações no mercado para financiar a expansão e aquisições.
Isso significa aproveitar oportunidades na cadeia de suprimentos para injetáveis biofarmacêuticos, incluindo medicamentos biológicos, insulina, vacinas e chamados GLP-1s, disse o presidente.
Depois que Franco Stevanato, 50 anos, encerra a entrevista numa tarde de sexta-feira em Milão, ele pode ser visto atravessando o estacionamento da empresa em direção ao seu carro - sem lugar reservado perto da entrada para o presidente.
Com a viagem de três horas de volta para Piombino Dese pela frente, o executivo diz que está ansioso para pegar a estrada e voltar para o seu complexo familiar. O irmão Marco, 51 anos, que comanda o escritório da família, e o pai Sergio estão entre os Stevanatos que estarão esperando. Mas eles não vão falar sobre negócios durante o fim de semana, diz ele. “Vamos todos fazer um grande churrasco juntos.”
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também:
Prédios comerciais perdem até 50% do valor na Irlanda, em sinal de alerta para o setor