Bloomberg Línea — A Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, enfrenta um desafio em sua operação no Brasil: uma demanda superior às suas expectativas de vendas no país, a tal ponto que há um quadro de desabastecimento em redes de farmácias do país que deve se prolongar até o fim do primeiro semestre deste ano.
Em São Paulo, os estoques do medicamento esgotaram em unidades de grandes redes como a Drogaria São Paulo, segundo constatou a reportagem de Bloomberg Línea em visitas a diferentes unidades e no marketplace nos últimos dias. A retomada das vendas deve acontecer apenas em fevereiro.
A operação local da companhia dinamarquesa informou à Bloomberg Línea que a ausência do Ozempic em farmácias não se deve a questões de qualidade ou regulatórios com o produto.
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“Como fornecedora responsável e sempre preocupada com a saúde e segurança de seus pacientes, a Novo Nordisk comunica que haverá disponibilidade intermitente da apresentação de Ozempic (semaglutida 1mg) ao longo do primeiro semestre de 2025, devido à demanda maior que a prevista”, informou a farmacêutica dinamarquesa na nota à Bloomberg Línea.
“Disponibilidade intermitente” significa, na prática, a interrupção temporária do fornecimento de Ozempic, o que indica as restrições de estoque pela fabricante e as dificuldades de abastecimento do varejo farmacêutico.
“Dada a complexidade envolvida na cadeia de distribuição de medicamentos a nível nacional é esperado que o estoque do produto no mercado se restabeleça de forma gradual, e não de imediato, uma vez que a disponibilização do medicamento compreende etapas que não podem ser aceleradas”, acrescentou a Novo Nordisk na nota.
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A disponibilidade de Wegovy e Rybelsus, outros dois medicamentos da companhia que têm a semaglutida como princípio ativo, a exemplo do Ozempic, permanece inalterada, informou a Novo na nota.
O Wegovy, lançado em julho de 2024, é o único tratamento da Novo Nordisk com indicação para o tratamento da obesidade. Na nota, a Novo Nordisk reforçou a importância para pacientes de seguir prescrições médicas e não adotar o uso off-label de medicamentos.
Previsão de retomada
Em razão do seu valor elevado (acima de R$ 1.000 a caneta) e da margem estimada, o Ozempic se tornou um item importante para a composição das receitas de grandes redes do varejo farmacêutico.
O Brasil é um dos principais mercados da Novo Nordisk no mundo. A demanda em alta favorece um ambiente em que há versões falsificadas do produto a preços mais baixos, o que tem servido de alerta para a comunidade médica no país.
“A recente falta de estoque da Ozempic (estimada em aproximadamente 4% das vendas da RD Saúde) e suas substituições graduais pela Wegovy também devem pressionar os resultados da companhia no curto prazo”, apontou o analista Rodrigo Gastim, do Itaú BBA, em recente relatório.
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Em seu site, a Drogaria São Paulo ainda anuncia a promoção de Ozempic (semaglutida 1 mg) a R$ 1.063, com desconto anunciado de 18% (valor cheio de R$ 1.292,78), mas não é possível completar a compra porque o sistema de venda online da rede indica falta do produto em estoque.
A RD Saúde (RADL3), que lidera o varejo farmacêutico brasileiro com mais de 1.800 lojas da Drogasil e 1.300 da Raia, informou à Bloomberg Linea que apenas as unidades nos estados do Nordeste estão com abastecimento irregular de Ozempic.
“O fabricante se comprometeu a entregar novas remessas até sábado (25)”, disse a RD Saúde em nota.
Outra grande rede de farmácias do país, a Pague Menos (PGMN3) não respondeu imediatamente ao pedido de comentários sobre a escassez de Ozempic no mercado brasileiro.
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