Bloomberg — O governo de Joe Biden decidiu propor uma regra que exigiria que o governo dos EUA cubra o tratamento com medicamentos para perda de peso, o que potencialmente expande o acesso para milhões de americanos com obesidade e cria uma nova e enorme conta médica para o presidente eleito Donald Trump.
O programa de seguro Medicare atualmente paga por medicamentos como o Ozempic, da Novo Nordisk, e o Mounjaro, da Eli Lilly & Co., para pessoas com problemas de saúde como diabetes.
De acordo com a Casa Branca, a nova regra daria a cerca de 3,4 milhões de americanos mais velhos que usam o Medicare e a mais quatro milhões de adultos nos programas Medicaid para os pobres um acesso a tratamento para perda de peso.
A proposta reduziria os custos diretos em até 95% para os medicamentos que podem custar até US$ 1.000 por mês, de acordo com um funcionário da Casa Branca.
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O Medicare, que oferece cobertura a cerca de 52 milhões de americanos idosos, atualmente não paga por medicamentos relacionados, como o Wegovy e o Zepbound, para obesidade. Apenas 13 programas estaduais do Medicaid cobrem os medicamentos de sucesso para perda de peso.
A eventual medida do governo americano poderá influenciar agências reguladoras de outros países em decisões semelhantes. No Brasil, tratamentos com tais medicamentos não fazem parte da cobertura prevista no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), e pacientes que desejam o reembolso de planos de saúde o fazem por meio de ações na Justiça.
A medida será uma vitória para os fabricantes de medicamentos Novo Nordisk e e Eli Lilly, que ainda enfrentam desafios para assegurar o acesso aos medicamentos diante da “explosão” de demanda.
Espera-se que o mercado em expansão de remédios para obesidade atinja US$ 130 bilhões até 2030, e ambas as empresas correm para convencer as seguradoras de que vale a pena pagar por esses medicamentos.
As ações da Novo subiram até 3,4% nesta manhã de terça-feira (26) em Copenhague - e estão em alta de cerca de 9% no acumulado do ano. A ação da Eli Lilly subiu 2% nas negociações pré-mercado nos EUA, depois de já ter ganhado quase 30% em valor neste ano.
A proposta, que ainda precisa passar por um processo formal de regulamentação, também representa um desafio para o governo Trump, que fez da redução dos gastos do governo um objetivo fundamental.
Se a regra entrar em vigor ainda no governo Biden, que acaba em 20 de janeiro de 2025, qualquer esforço para controlar os custos reduzindo o acesso no futuro seria uma medida extremamente impopular.
Os pacientes e os médicos têm defendido um acesso mais amplo aos medicamentos, e os esforços para remover as restrições à cobertura do Medicare ganham força no Congresso.
Ainda assim, observadores e analistas do setor não esperavam que as mudanças ocorressem até o próximo ano, no mínimo.
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A cobertura dos medicamentos pelos preços atuais não será barata em termos agregados. A expansão da cobertura do Medicare para as injeções provavelmente custará US$ 35 bilhões em nove anos, de acordo com uma análise do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês) divulgada no mês passado.
No entanto o CBO também disse que espera que a semaglutida, o ingrediente ativo do Wegovy, do Ozempic e Rybelsus, todos medicamentos da Novo Nordisk, seja incluída nas negociações de preço do governo sob a Lei de Redução da Inflação em 2025, o que poderia ajudar a reduzir os custos.
A regra proposta para os medicamentos para perda de peso entraria em vigor ao mesmo tempo que o programa para reduzir os custos dos medicamentos por meio de negociações de preços, disse o funcionário da Casa Branca.
Enquanto isso, a Novo Nordisk e a Lilly vêm realizando estudos para mostrar que as injeções trazem benefícios à saúde além da perda de peso, parte de seu esforço para expandir a cobertura do seguro em diferentes mercados.
Em março, as principais seguradoras de saúde começaram a pagar pelo Wegovy da Novo para alguns beneficiários do Medicare com doenças cardíacas, o que abriu a porta para um acesso mais amplo ao medicamento.
A Lilly lançou frascos de Zepbound mais baratos e de uso único em agosto, em parte para oferecer aos beneficiários do Medicare uma forma de receber os medicamentos.
- Com a colaboraçnao de Deirdre Hipwell.
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