Efeito Ozempic: bulas são atualizadas para tratamento além de obesidade e diabetes

Nos EUA, instruções de uso já apontam o potencial impacto positivo na redução de episódios como infarto e AVC, além da saúde dos rins e do fígado, diz VP da Novo Nordisk em entrevista global a jornalistas

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Bloomberg Línea — A Novo Nordisk (NVO), empresa farmacêutica que desenvolveu o Ozempic e o Wegovy, tem atualizado as bulas de suas canetas injetáveis originalmente para tratamento da diabetes tipo 2 e obesidade em alguns mercados, à medida que ocorrem novas comprovações de benefícios adicionais do princípio ativo da semaglutida em pesquisas.

A informação foi dada por Martin Lange, vice-presidente executivo de Desenvolvimento da Novo Nordisk, nesta quinta-feira (6) em conferência online global com jornalistas, a qual a Bloomberg Línea esteve presente.

Nos Estados Unidos, por exemplo, as instruções de uso já apontam o potencial impacto positivo do remédio na redução de episódios graves como infarto, AVC (Acidente Vascular Cerebral), além de efeitos benefícios para a saúde dos rins e fígado.

Lange também apontou ensaios que demonstram que o princípio ativo da semaglutida (semelhante ao hormônio GLP-1, que reduz o nível de açúcar no sangue) diminuiria eventos de insuficiência cardíaca, renal e hepática, além de benefícios adicionais para o tratamento do Alzheimer e de demência.

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“Começamos com o Ozempic para diabetes e obesidade. Já vimos que também é benéfico para reduzir grandes episódios cardiovasculares e relatamos o benefício para rins e fígado na bula dos Estados Unidos”, afirmou Lange.

O impacto positivo do princípio ativo para o tratamento do abuso de substâncias como o álcool também está sendo analisado pelo laboratório. “Nossos próximos produtos podem indicar esses benefícios para doenças hepáticas decorrentes do abuso de álcool”, citou o VP.

Durante a entrevista coletiva, o CEO da Novo Nordisk, Lars Jørgensen, disse garantir o fornecimento da semaglutida no mercado norte-americano, apesar da política protecionista do novo governo.

O executivo disse que a companhia investiu US$ 2,5 bilhões na construção de uma fábrica na Carolina do Norte para produzir o princípio ativo.

“Temos tanques enormes do produto, em vez de ter em pequenas localidades no mundo. Assim obtemos ganhos de eficiência e de escala. Estamos investindo em outra plataforma também nos EUA. Estamos confortáveis em atender ao mercado americano”, afirmou Jørgensen.

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Camilla Sylvest, VP de Estratégia Comercial e Negócios Corporativos do laboratório dinamarquês, alertou para a falsificação do Ozempic e do Wegovy no mercado norte-americano.

“O problema dos medicamentos falsificados, que não são regulados e não têm origem comprovada, é uma preocupação, porque podem colocar em risco os pacientes.”

A executiva destacou o potencial da semaglutida de redução de comorbidades, condições médicas que ocorrem simultaneamente com uma doença principal. Por exemplo, uma pessoa com diabetes pode ter comorbidades como doença cardíaca, doença renal ou obesidade.

“Temos ensaios [clínicos] com mais de 71.000 pacientes. Existe potencial de redução de comorbidades, o que traz um benefício econômico para os sistemas de saúde. Há um impacto de 3% do PIB mundial só com complicações e tratamentos hospitalares”, citou Sylvest.

Estratégia após fim da patente

A patente da semaglutida expira no Brasil em março de 2026, o que tem o efeito prático de permitir ao mercado de lançar similares e genéricos do medicamento, com aumento do acesso pela população em razão da redução dos preços.

“Seria um movimento natural do mercado isso [redução dos preços] acontecer. Vai depender de uma estratégia comercial. Mas o período de patente é importante para continuar a inovar, estudar, trazer novas soluções e investir em terapias”, disse Priscila Mattar, vice-presidente da área médica da Novo Nordisk Brasil, à Bloomberg Línea, com a ressalva de que o tema de política de preços não é da esfera médica.

Sobre a eventual oferta gratuita de medicamentos de combate à obesidade nos sistemas públicos de saúde, Mattar disse que a iniciativa exigiria volume significativo do orçamento público, dado que mais de 50% da população brasileira se enquadra na condição de sobrepeso ou obesidade. Também dependeria de negociações com diversas autoridades.

“Em 2024, a Novo Nordisk tentou a submissão da liraglutida [regulador de glicose] para o tratamento da obesidade. Todo o racional científico e as provas de segurança foram bem aceitos pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS), mas a questão orçamentária impactou [a decisão]”, disse.

A VP da Novo Nordisk apontou a obesidade como uma questão de saúde pública, altamente prevalente, como a hipertensão e diabetes.

“Para essas duas doenças crônicas, o Brasil tem excelentes políticas de saúde pública com bastante medicamento disponível. A obesidade entra nessa conversa. É uma questão em que diferentes atores vão estar envolvidos para a solução, mas vemos alguma evolução”, avaliou.

Neste ano, a Novo Nordisk aguarda resultado da análise da Conitec sobre o Wegovy para tratamento da obesidade.

“Já fizemos essa submissão e esperamos a avaliação. Não é uma responsabilidade única, obviamente, portanto, isso é uma conversa entre diferentes atores da sociedade para conseguir uma solução nacional. Já temos no Brasil alguns estados que disponibilizam alguns medicamentos”, afirmou Mattar.

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