Bloomberg Línea — Pioneiro no modelo de atendimento à população com uma rede de clínicas independentes há mais de uma década, o Dr. Consulta planeja acelerar uma fase em que buscará a melhora mais significativa dos chamados indicadores clínicos, que medem de desfechos de tratamento a condições de saúde de pacientes de modo geral.
Para tanto, planeja adotar uma série de iniciativas do ponto de vista de estrutura e de gestão. Uma das medidas é a chegada ao conselho de administração de Nelson Teich, médico com extensa experiência em gestão de saúde, que fundou e comandou por anos o Centro de Oncologia Integrado (COI) no Rio de Janeiro, depois adquirido pelo UnitedHealth Group (UHG). Ele foi também ministro da Saúde.
“O mercado atravessa um momento de oportunidade e também responsabilidade maior de empresas que complementam o que é oferecido pelo sistema privado de saúde. Temos a visão de endereçar mais essa necessidade do brasileiro e vamos avançar nessa frente”, disse Massanori Shibata Júnior, CEO do Dr. Consulta desde agosto de 2023.
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Médico por formação com atuação extensa como gestor e executivo de empresas privadas, Massa, como é conhecido no mercado, chegou com experiência de 20 anos em saúde suplementar.
Em 2024, o primeiro ano integral sob seu comando, o Dr. Consulta chegou ao inédito breakeven, com crescimento de 22% no que é classificado como receita core (consultas e exames) e de 14 pontos percentuais em receita recorrente, segundo números antecipados à Bloomberg Línea. Os valores não são divulgados.
A expansão em receita recorrente veio na esteira da alta de 41% na base de clientes ativos do chamado Cartão Dr. Consulta, que tem valores que vão de 12 parcelas de R$ 14,90 (só odontologia) a 12 parcelas de R$ 39,90 (atendimento médico e odontológico).
Os resultados, segundo o CEO, atestam a eficiência da estratégia, pois corroboram que é possível alinhar o propósito social com o lado financeiro. “É uma empresa com impacto social e também com fins lucrativos, que tem investidores e que, no fim do dia, precisa entregar resultados.”
Desde a sua chegada, houve também mudanças no time executivo, que, em sua avaliação, hoje está preparado para o novo momento do mercado e da companhia.
Mas faltava um nome de perfil mais técnico, operacional e estratégico da área de saúde no conselho, predominantemente financeiro.
Teich será o único médico do conselho, formado por representantes de fundos que investem na companhia, como Kamaropin, do Pátria Investimentos, Lightrock, Kaszek e LTS.
“Nelson traz a experiência e o conhecimento do mercado privado mas também do setor público, que é a área em que o Dr. Consulta atua de forma complementar”, disse Shibata Júnior.

A previsão é que Teich tenha uma atuação que vá além do conselho e que possa contribuir também no dia a dia da operação, como na frente de estruturação de dados, algo que existe desde a fundação em 2011 pelo empreendedor Thomaz Srougi (veja mais abaixo).
“Hoje se comemora promessa ou acesso, quando deveríamos comemorar entrega com qualidade para os pacientes”, disse Teich, citando casos de mutirões de saúde pública com desfechos negativos a uma parcela ampla dos pacientes atendidos.
O CEO citou a expectativa de que, com a presença de Teich, será possível ao Dr. Consulta atuar de maneira mais assertiva na oferta de serviços à população alinhado com protocolos do SUS (Sistema Único de Saúde), com o efeito final de ampliar as entregas e a qualidade do atendimento.
Atenção à qualidade da entrega
Teich citou dados recentes que apontam que cerca de 30% dos gastos com saúde têm origem no bolso do próprio paciente, o que evidencia a necessidade de evolução contínua dos tratamentos.
“Quando olhamos para os indicadores de performance do sistema, vemos resultados pobres”, afirmou o médico e ex-ministro. Ele citou o programa Previne Brasil, que costumava ser usado como uma das referências para os repasses do governo federal para os municípios.
A métrica era calculada a partir de indicadores básicos, como medir a pressão e a hemoglobina glicada no caso de doenças crônicas, entre outras. “No último quadrimestre do ano passado, que é o dado mais recente, dos 5.570 municípios do país, só 4,5% bateram a meta”, disse Teich.
“Quando conversei com o Massa, falamos sobre a necessidade de ajudar as pessoas mais humildes, que são aquelas que gastam do próprio bolso porque não recebem ajuda do governo.
Massa destacou o entendimento de que o negócio na área de saúde está vinculado a parâmetros de tempo, distância e preço. “E o preço não é o mais baixo, mas aquele que entrega um atendimento de qualidade dentro da necessidade que o paciente tem. Essa é a nossa proposta.”
“Quando uma empresa atua mais no B2C, no contato com o cliente, a questão de marca e de experiência é muito importante. E o uso de dados e de tecnologia para ancorar esse atendimento é fundamental para que possa aumentar o engajamento e a recorrência”, disse o CEO.
“Não adianta falar em acesso se passamos ao paciente uma prescrição que ele não consegue pagar. Investimos muito em tecnologia para conseguir endereçar as necessidades de cada paciente com a atenção ao perfil socioeconômico, com personalização a partir de sua entrada.”
Indicadores que vão de NPS (Net Promoter Score, métrica universal de satisfação do consumidor) a outros de caráter clínico continuarão a ser monitorados para avaliar essa evolução, segundo eles.
A preocupação sempre esteve presente na proposta de valor da empresa, fundada inicialmente como uma clínica no bairro de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, e atendimento em geral a pacientes da classe D.
Em seus primeiros anos, oferecia o acesso a clínicas, mas, posteriormente, passou a atuar com consultas com médicos especialistas e a exames complementares, com um público predominante de classe C e até B2. Isso levou a uma ampliação do rol de especialidades e de entrada para a atenção secundária.
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