XP supera projeções no 3º tri, mas vê retomada ainda distante para o varejo

Em call com analistas, CEO Thiago Maffra diz que empresa não precisa mais de grandes investimentos para crescer e que vai usar o banco XP como controlador para baratear o funding

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Bloomberg Línea — Depois de meses de ajustes para corrigir o que classificou de “excessos” da pandemia, a XP (XP) está mais preparada para a retomada do mercado de investimentos, ainda que seja prematuro apontar em que momento isso deve ocorrer, segundo disseram o CEO, Thiago Maffra, e o CFO, Bruno Constantino, em teleconferência de resultados do terceiro trimestre na noite desta segunda-feira (13).

Analistas esperavam no consenso um lucro líquido ajustado de R$ 1,15 bilhão no terceiro trimestre e a empresa atingiu R$ 1,18 bilhão, uma alta de 2,6% ano contra ano. A empresa teve receita líquida de R$ 4,13 bilhões, um aumento de 14% ano contra ano, versus estimativa de R$ 3,84 bilhões.

Já a receita bruta foi de R$ 4,36 bilhões, um aumento de 15% contra uma estimativa de R$ 4,05 bilhões.

O crescimento foi alcançado a despeito de condições de mercado descritas como ainda desafiadoras para o seu principal segmento, o do investidor de varejo.

“Quando estamos falando de clientes de varejo, eles ficam para trás, não vão se mexer. O nível das taxas de juros é muito alto, mas, mais importante do que isso, se você olhar o desempenho dos ativos mais arriscados, nos últimos 12 ou 24 meses, quase todas as classes de ativos estão perdendo a taxas absurdas”, disse o CEO da XP.

“A única classe de ativos que não está perdendo é a de LCI, LCAs. Ainda não vemos nenhum retorno dos clientes de varejo”, disse Maffra.

Trata-se de um cenário difícil dado que as pessoas “estão sendo bem remuneradas para manter seu dinheiro rendendo a 12% ao ano”, complementou Constantino em referência ao CDI.

Ainda com receitas desafiadoras no varejo, a XP tem procurado controlar as despesas. Maffra disse que, para o próximo ano, a empresa não precisará fazer nenhum grande investimento para crescer. “Não precisamos de mais investimentos para gerar mais receitas no negócio principal.”

Ainda assim, ele disse que ainda não é possível saber quando a XP verá a recuperação nas receitas do varejo, “mas, uma vez que isso aconteça, esperamos que vocês tenham ganhos de margem”, disse em mensagem direcionada aos acionistas.

“O que posso dizer é que para o próximo ano continuaremos buscando melhores índices de eficiência. É claro que não podemos garantir e não daremos qualquer guidance para o próximo ano, mas vocês têm o nosso compromisso de que buscaremos índices de eficiência ainda melhores em 2024.”

Impacto nas despesas

Mas houve impactos de eventos extraordinários. A XP também disse, em resposta a analistas, que o evento Expert, realizado em agosto, a dissolução do SPAC com a Superbac e a integração do banco Modal vão somar despesas de R$ 200 milhões para o quarto trimestre.

A empresa recebeu a aprovação da integração com o banco Modal em julho e disse estar “bem no início” desse processo.

Chu Kong, líder do braço de Private Equity da XP, estava à frente da gestão do SPAC da empresa, o XPAC, que tinha tinha anunciado fusão com a empresa paranaense de fertilizantes Superbac para levá-la à bolsa.

Mas, em maio deste ano, a Superbac informou que havia encerrado o contrato por causa de “condições desfavoráveis do mercado público, desvantagens da listagem pública e ausência de investimentos Pipe [que envolveriam emissão de dívidas, garantias e debêntures conversíveis com geração de recursos pra um ‘minimum cash condition’ para fusão].

Kong deixou a gestão do SPAC, mas investiu R$ 300 milhões na Superbac via private equity. O SPAC da XP foi deslistado e seu ticker foi comprado pela Zalatoris II Acquisition Corp. O impacto, segundo os executivos da XP, foi em torno de R$ 40 milhões.

“Tivemos o encerramento do SPAC e houve uma despesa associada. Mas o impacto líquido para o Ebit foi zero″, disse o CFO da XP durante a teleconferência.

Produtividade dos agentes autônomos

A XP aumentou o número de funcionários em cerca de 700 pessoas, chegando a aproximadamente 6.600, segundo analistas.

Questionado na call sobre se há alguma sinergia de custos a ser alcançada na integração com o Modal, Maffra disse que o desempenho dos ativos de risco tem a ver com o ambiente macroeconômico, mas que a produtividade dos agentes autônomos está “muito baixa” por alguns motivos.

“Os números do IFA (agentes autônomos) são feitos por humanos, por consultores. Quando o mercado voltar, estaremos prontos para conquistar participação e crescimento. Mas, novamente, pelas mesmas razões, o nível de produtividade é muito mais baixo”, disse. “Com certeza temos muitas sinergias [de custos com o Modal]”.

“Acreditamos que é uma parte cíclica do nosso negócio. E ainda estamos investindo porque é cíclico. A maré vai virar em algum momento e estaremos prontos e maiores. O ecossistema agora é muito maior”, disse.

Segundo Maffra, a XP investiu em consultores para inovar na indústria de agentes autônomos, agora chamados de assessores de investimento: “estamos investindo em pessoas que estão fora do setor financeiro e que desejam fazer uma mudança de carreira”.

“Usamos toda a parte educacional da nossa empresa como facilitadora. Começamos como uma empresa de educação e temos usado tudo isso por meio de treinamentos para formar consultores porque acreditamos fortemente que é um negócio de relacionamento, um contato humano”, disse.

“Procuramos as pessoas certas com as habilidades interpessoais. E nós damos as ferramentas para que eles entendam o mercado financeiro e possam criar esses interesses de relacionamento com o cliente.”

Banco como controlador

Maffra disse ainda que a XP é conservadora em termos de balanço, mas vê espaço para aumentar a alavancagem um pouco mais, “principalmente considerando que temos um banco agora e que estamos em reestruturação societária no nosso grupo para ter o banco como controlador”.

“Isso é algo em andamento no Banco Central e que nos dará a possibilidade de usar melhor o banco.” O plano é usar os depósitos como instrumento de financiamento para reduzir o custo de funding.

“Esperamos continuar aumentando nossos ganhos e não precisamos reter capital para continuar a crescer. Com isso em mente, pode-se esperar que continuamos a distribuir capital para os acionistas à medida que avançamos.”

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