WeWork: empresa atrasa pagamento do aluguel em quatro prédios em SP e preocupa FIIs

FIIs Vino Offices, Santander Renda de Aluguéis, Torre Norte e Rio Bravo Renda Corporativa informaram que não receberam o valor de maio da rede de coworking; procurada, empresa não comentou

A WeWork co-working office space. Photographer: Kiyoshi Ota/Bloomberg
02 de Julho, 2024 | 10:18 AM

Bloomberg Línea — A WeWork que opera no Brasil e na América Latina está inadimplente em quatro imóveis que ocupa em São Paulo – são ao todo 25 na capital paulista, além de Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, segundo informações em seu site.

Até a manhã desta terça-feira (2), quatro fundos imobiliários (FIIs) anunciaram que não haviam recebido o pagamento de junho da empresa de coworking referente a maio – e uma fonte do mercado disse à Bloomberg Línea, sob condição de preservar sua identidade, que outros atrasos podem estar no horizonte.

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Em fato relevante divulgado na sexta-feira (28), a Vinci Partners afirmou que não tinha recebido até a data o aluguel da WeWork no empreendimento localizado na Rua Oscar Freire, no bairro do Jardim Paulista, em São Paulo, que ocupa uma área de 3.594 metros quadrados.

O imóvel faz parte do portóflio do Vinci Offices (VINO11), fundo imobiliário de lajes corporativas e que possui cerca de 154 mil cotistas.

A WeWork atua na América Latina e no Brasil como uma operação em joint venture com o SoftBank, à parte da crise financeira que levou a unidade americana e global a entrar com pedido de recuperação judicial no fim de 2023 (veja mais abaixo).

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Leia também: WeWork tem plano de recuperação aprovado pela Justiça nos Estados Unidos

Segundo o documento da Vinci Partners, o aluguel devido representa cerca de 5% das receitas totais do fundo e 4% da área bruta locável (ABL) total. “A gestão, em conjunto com seus advogados, está atuando para tomar as ações cabíveis em prol do fundo e de seus cotistas”.

O comunicado veio dois dias depois de um de mesmo teor publicado pelo FII Santander Renda de Aluguéis (SARE11), que informou no dia 26 de junho que também não havia recebido o pagamento de maio.

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A empresa de coworking que é líder global no segmento ocupa quatro unidades na Ala B do Condomínio WT Morumbi, localizado na avenida das Nações Unidas, na zona sul de São Paulo, e é um dos maiores inquilinos do FII. Com patrimônio líquido de R$ 814 milhões, o fundo tem cerca de 41.000 cotistas.

“O administrador e a gestora informam que estão envidando os melhores esforços de cobrança, sendo que, permanecendo essa inadimplência, haverá um impacto negativo na distribuição de rendimentos em aproximadamente R$ 0,05 por cota.”

O fundo imobiliário Torre Norte (TRNT11) também emitiu no dia 13 de junho um fato relevante informando sobre a inadimplência da WeWork no Centro Empresarial das Nações Unidas, em São Paulo.

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A WeWork foi notificada e afirmou que quitaria seus débitos no dia 28, o que não aconteceu, segundo uma pessoa próxima do assunto que falou à Bloomberg Línea.

De acordo com o documento, que cita também a falta de pagamento de outra empresa, a Infracommerce, o impacto negativo é de R$ 0,15 por cota, com impacto total das inadimplências na distribuição de rendimentos em cerca de R$ 0,25 por cota.

Procurada pela Bloomberg Línea, a WeWork não respondeu até a publicação da reportagem.

Em nota, a Infracommerce afirmou que o pagamento do aluguel referente à maio de seu escritório foi liquidado em 14 de junho. “A empresa reforça seu compromisso com a transparência e a responsabilidade perante seus clientes, parceiros e o mercado.”

Além do VINO11, do SARE11 e do TRNT11, o FII Rio Bravo Renda Corporativa (RCRB11) informou na noite de ontem que a WeWork atrasou o pagamento com vencimento em 17 de junho referente ao aluguel do espaço locado no Edifício Girassol, na Vila Madalena.

“Desde o primeiro dia de atraso, o time de gestão está monitorando o pagamento. A locatária já foi notificada e seguimos em tratativas diretas para que o pagamento do montante de aluguel em atraso ocorra o mais rápido possível”, diz em fato relavante.

O impacto mensal negativo na receita imobiliária do fundo é de R$ 0,11/cota, segundo a Rio Bravo. A Bloomberg Línea havia noticiado anteriormente que o fundo seria o próximo a informar o não pagamento da WeWork.

Em nota, Anita Scal, sócia e diretora de investimentos imobiliários da Rio Bravo, disse que a inadimplência no RCRB11 está atualmente em 2,5% e que esta “deve ser sanada em breve”.

“Um dos nossos locatários, a We Work, tem um boleto vencido faz cerca de 15 dias, o que ainda não consideramos inadimplência. As demais despesas, como IPTU e condomínio, até o momento, estão sendo quitadas. Eles já foram notificados e nosso departamento jurídico já está acionado”, escreveu.

Recuperação judicial nos EUA

A WeWork global entrou com pedido de proteção contra credores no Chapter 11 nos EUA (equilavente à recuperação judicial no Brasil) no fim do ano passado, declarando dívidas de quase US$ 19 bilhões. O processo foi aprovado por um tribunal especializado no fim de maio.

Sob o comando do cofundador Adam Neumann, a WeWork chegou a ser a empresa de coworking de crescimento mais rápido do mundo.

Leia mais: Modelo de negócios flexível é diferencial do Brasil, diz CEO da WeWork LatAm

O ex-CEO conduziu a empresa em uma trajetória de crescimento agressiva, assumindo dezenas de contratos de aluguel de longo prazo com proprietários, reformando espaços de escritórios e, em seguida, alugando-os para trabalhadores ou empresas por períodos mais curtos.

Em 2019, a WeWork era o maior locatário do setor privado em Londres e Nova York, dois dos maiores mercados de escritórios do mundo. A empresa também se preparava para realizar um dos IPOs mais esperados da década. No entanto queimava caixa e não tinha um caminho claro para a lucratividade.

A aposta de Neumann acabou sendo desastrosa para a WeWork. No processo para o IPO, investidores e membros do conselho de administração ficaram preocupados com a falta de governança corporativa e as estratégias agressivas de crescimento. Pouco tempo depois, a empresa disse que adiaria seu IPO e Neumann foi “convidado” a deixar a companhia, ainda que como acionista relevante.

No fim de maio deste ano, a WeWork disse que a reestruturação reduziu pela metade suas obrigações futuras de aluguel, ou cerca de US$ 12 bilhões no total.

A empresa reestruturada valerá entre US$ 665 milhões e US$ 865 milhões quando sair do Capítulo 11, disse a empresa em documentos judiciais. Isso é uma fração do valuation máximo da empresa, que chegou a alcançar US$ 47 bilhões em 2019, antes do planejado IPO que não saiu do papel.

Em entrevista à Bloomberg Línea em novembro passado, a CEO da WeWork na América Latina, Claudia Woods, tinha afirmado a recuperação judicial nos EUA não comprometia a autonomia e a saúde financeira das operações latino-americanas. Segundo ela, a flexibilidade contratual da empresa com clientes e locatários era um diferencial crítico das operações no Brasil.

-- Atualização em 8 de julho com o posicionamento da Rio Bravo

-- Atualização em 3 de julho para incluir o posicionamento da Infracommerce

-- Matéria atualizada no dia 2 de julho com os novos casos de inadimplência da WeWork em imóveis dos FIIs Torre Norte e Rio Bravo Renda Corporativa.

-- Com informações da Bloomberg News.

Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.