Bloomberg Línea — Em uma conferência de resultados trimestrais que durou 13 minutos, a WeWork (WE) disse nesta manhã de quarta-feira (9) que seu principal desafio para que a empresa alcance lucratividade e fluxo de caixa livre continuam sendo a falta de liquidez e os gastos com locação de imóveis.
No segundo trimestre, esses itens foram equivalentes a 74% da receita e mais de dois terços dos gastos operacionais totais. A empresa não divulgou números para sua operação na América Latina.
Na sessão de perguntas de analistas, enviadas por escrito e selecionadas previamente, a WeWork respondeu apenas duas questões sobre um potencial desdobramento de ações, sobre uma eventual extensão de suporte de crédito do SoftBank e sobre tendências de ocupação em diferentes regiões, mas, novamente, sem mencionar a América Latina.
As ações da WeWork caíam cerca de 33% nesta manhã, por volta das 11h30 (de Brasília), negociadas a US$ 0,14. O market cap caiu para cerca de R$ 300 milhões, ante US$ 47 bilhões em 2019 (veja mais abaixo).
Na noite de terça-feira (8), após a publicação dos resultados do segundo trimestre, as ações chegaram a despencar 25,7% depois que a empresa disse em comunicado à SEC (Securities and Exchange Commission dos EUA) que há “dúvidas substanciais” sobre a capacidade de seguir operando, citando perdas contínuas e aumento dos cancelamentos de assinates.
No ano, a queda das cotações é da ordem de 90% já contando as negociações nesta manhã.
Segundo o CEO interino da WeWork, David Tolley, os escritórios compartilhados da empresa nos Estados Unidos e no Canadá tiveram uma ocupação de 67% no segundo trimestre, em queda em relação aos 69% um ano antes. Na Índia, está em torno de 78%, e na região do Pacífico, estável, em torno de 83%.
Em entrevista à Bloomberg Línea em janeiro deste ano, Claudia Woods, CEO da WeWork na América Latina, disse que o modelo na região é diferente do que existe globalmente porque a empresa conta com autonomia. O produto de marketplace, por exemplo, é algo exclusivo da região.
A operação dos principais países da América Latina que estão sob a direção de Woods tem dois sócios principais: a WeWork e o SoftBank, com o qual foi acertada uma joint venture em agosto de 2021.
Segundo Woods à época, a WeWork na América Latina tem independência e não precisa seguir uma estratégia global - tampouco reporta seus números para uma estrutura global, mas, sim, para um conselho.
A Bloomberg Línea procurou entre ontem (8) e hoje o SoftBank e a WeWork sobre as operações na região. O SoftBank disse que não abre os números. A WeWork disse que “o balanço recentemente publicado pela WeWork Global reflete a melhoria em vários indicadores da empresa, incluindo um aumento na receita, bem como uma redução nas despesas.”
“Apesar dos desafios no mercado imobiliário, a WeWork LatAm continua avançando para manter sua liderança em espaços flexíveis e impulsionar ainda mais o seu crescimento”, disse a empresa.
Na entrevista em janeiro, Claudia Woods disse que em 2022 a WeWork viu “o mundo voltar” ao presencial, saindo de 30% de ocupação para cerca de 80% dos espaços ocupados no Brasil. Em 2022, a empresa na América Latina teve um crescimento de 27% na quantidade de membros.
O investidor boliviano Marcelo Claure, ex-COO do SoftBank e que agora está à frente do fundo de growth Bicycle Capital e como presidente do conselho da Shein para a América Latina, foi o responsável pela reestruturação da WeWork global quando ainda estava no grupo japonês.
Claure assumiu o comando da WeWork como presidente depois que o co-fundador Adam Neumann deixou de ser o CEO em 2019, depois de uma série de denúncias e revelações de condutas consideradas inapropriadas.
Em entrevista à Bloomberg Línea em maio de 2022, Claure disse que o SoftBank conseguiu “consertar a empresa durante a pandemia e prepará-la para o IPO”.
A WeWork, que já foi avaliada em US$ 47 bilhões no começo de 2019, acabou se tornando pública por meio de um SPAC em outubro de 2021 com uma avaliação de US$ 9 bilhões. “Agora a empresa está no caminho certo para entregar lucratividade nos próximos trimestres”, disse Claure à época.
Mas esse cenário não se concretizou. A WeWork reportou prejuízo líquido de US$ 397 milhões no segundo trimestre, ainda que abaixo dos US$ 635 milhões um ano antes.
“Junto com o restante da nossa equipe, estou focado de forma intensa em resolver essa questão, que é crucial para nosso sucesso e crescimento lucrativo futuro”, disse o CEO interino da WeWork, David Tolley, durante a teleconferência com investidores nesta quarta-feira.
O executivo destacou um contrato recente com uma grande empresa de tecnologia em 15 mercados diferentes e anunciou a nomeação de quatro novos diretores independentes para o conselho.
“Dado o ambiente de mercado desafiador, é fácil esquecer que continuamos a ocupar uma posição única e importante nos mercados que atendemos. Nossa proposta de valor inclui a escala global, o design e a qualidade de nossos espaços, nossos serviços de hospitalidade de primeira classe e nossa capacidade de oferecer serviços complementares que vão além do espaço para empresas de qualquer tamanho”, disse.
O CEO interino disse ainda que passou um tempo com a equipe em Chicago e elogiou o apoio dos funcionários para navegar esse momento. A WeWork tem 3.700 funcionários pelo mundo.
“A proposta de desdobramento reverso de ações aprovada pelos nossos acionistas na última assembleia de acionistas está na pauta da nossa próxima reunião do conselho. Assim que o conselho tomar uma decisão, forneceremos uma atualização ao mercado. Como lembrete, temos até meados de outubro para efetuar o desdobramento reverso de ações”, disse.
Um “reverse stock split”, ou desdobramento reverso de ações, é uma operação financeira realizada por uma empresa na qual múltiplas ações existentes são consolidadas para formar uma única ação. Isso resulta em um aumento no preço por ação, enquanto o número total de ações em circulação é reduzido. No desdobramento reverso, várias ações de menor valor são combinadas para formar uma única ação de valor nominal mais alto.
A WeWork prorrogou o prazo de um empréstimo concedido pelo SoftBank até 2027 como parte de sua reestruturação de dívidas. Tolley disse ainda que espera que o processo de prorrogação dos empréstimos subjacentes seja iniciado ainda neste ano ou no início do próximo ano.
-- Atualizada às 18h com comunicado de imprensa da WeWork
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