WeWork diz que operação no Brasil não é afetada por recuperação judicial

Empresa atua no país de forma independente e em joint venture com o SoftBank Latin America Fund; em nota à Bloomberg Línea, disse que pedido no Chapter 11 nos EUA não inclui a região

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Bloomberg Línea — A WeWork LatAm, que engloba as operações de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México, disse à Bloomberg Línea que o pedido de recuperação judicial por parte da WeWork (WE) nos Estados Unidos não inclui nem afeta a operação nesses mercados.

“Essa ação não tem impacto nos nossos membros, seus vínculos, serviços ou acesso aos nossos prédios na América Latina. Não causa nenhuma mudança nem exige qualquer ação”, disse a WeWork LatAm em nota enviada nesta manhã de terça-feira (7).

A WeWork entrou com um pedido de recuperação judicial pelo Chapter 11 da Justiça dos Estados Unidos no fim de noite de segunda-feira (6), reportando quase US$ 19 bilhões em dívidas.

A empresa com sede em Nova York disse ontem que havia chegado a um acordo de reestruturação de dívida com credores que representavam cerca de 92% de suas notas garantidas e que simplificaria seu portfólio de aluguel de espaço de escritório, de acordo com um comunicado.

O pedido de recuperação judicial listou ativos de US$ 15 bilhões.

A WeWork LatAm é uma joint venture com o SoftBank na América Latina desde 2021, em que a WeWork global tem uma parte das operações da empresa na região, enquanto o SoftBank Latin America Fund detém participação majoritária.

As entidades da companhia dos EUA e da América Latina operam de maneira independente, o que significaria que um pedido de proteção contra credores no Chapter 11 não afetaria membros, serviços ou acesso aos edifícios na região.

“A WeWork LatAm continua focada em oferecer uma experiência excepcional enquanto continua a executar seu plano para fortalecer seu negócio na região”, disse a empresa na nota.

Segundo o Wall Street Journal há uma semana, a WeWork global perdeu o prazo de pagamentos de juros que eram devidos a detentores de títulos em 2 de outubro, dando início a um período de carência de 30 dias no qual precisa honrá-los. Não fazer isso seria considerado um evento de inadimplência.

Na terça passada (31), a empresa disse que chegou a um acordo com os detentores de títulos para permitir mais sete dias para negociar com as partes interessadas antes que uma inadimplência fosse acionada.

Em entrevista em agosto, o líder do SoftBank na América Latina, Alex Szapiro, disse estar “muito feliz com a WeWork na América Latina”. Questionado pela Bloomberg Línea se a história da WeWork na América Latina era diferente da operação global, Szapiro ressaltou que os sócios são diferentes.

Ele não abriu, contudo, qualquer informação sobre se há lucro na joint venture nem se a operação da região está melhor em termos financeiros do que a global.

“O que temos visto aqui, crescimento, toda essa questão de volta ao trabalho, trabalho híbrido, de certa forma começamos a a ver empresas que fecham escritórios e vão efetivamente ao modelo híbrido”, disse Szapiro, acrescentando que “não posso comentar nada das operações de fora da América Latina”.

Não é só na América Latina: a WeWork acertou algumas parcerias estratégicas ao redor do mundo, como na China, quando em 2017 anunciou uma joint venture com a Hony Capital e a Legend Holdings. Essa joint venture adquiriu a operação existente da WeWork na China.

Também em 2017, a WeWork formou uma joint venture com o SoftBank no Japão. No mesmo ano, a WeWork adquiriu a SpaceMob, uma startup de coworking com sede em Singapura e anunciou uma JV com a empresa para expandir na região do Sudeste Asiático e na Coreia do Sul.

Em abril deste ano, a Bloomberg News reportou que uma joint venture da WeWork americana com a gestora de Private Equity Rhone Group deixou de pagar uma dívida para um empréstimo de um prédio em São Francisco.

WeWork na América Latina

A WeWork da América Latina informou em agosto à Bloomberg Línea que sua taxa de ocupação era na ocasião de 70% e que seu fluxo de caixa operacional no segundo trimestre de 2023 havia crescido 88% ano contra ano e 62% na comparação com o primeiro trimestre de 2023.

A WeWork México iniciou operações em setembro de 2016 no edifício Varsovia, na Cidade do México, como o primeiro mercado da empresa na América Latina.

Embora o Brasil seja a maior economia da região, com o primeiro escritório em São Paulo em 2017, o México é o maior da América Latina em termos de números de membros, segundo a WeWork.

O México é o quarto em âmbito global, atrás apenas de EUA, Reino Unido e Índia, com 25 edifícios na Cidade do México, em Monterrey e Guadalajara. Segundo a Cushman & Wakefield, existem aproximadamente 420 mil metros quadrados de espaço de coworking no México e mais de 50% pertencem à WeWork.

A joint venture da WeWork com o SoftBank na América Latina está presente em 12 cidades e 77 locais no México, na Argentina, no Brasil (em quatro cidades e 32 locais), no Chile e na Colômbia. São mais de 50 mil membros e mais de 5.400 empresas atendidas pela WeWork na América Latina.

No Brasil, alguns FIIs (Fundos de Investimento Imobiliário), que compram participações de shoppings, prédios comerciais e galpões logísticos para receber rendimentos mensais provenientes dos aluguéis desses imóveis, possuem propriedades com locação para a WeWork no Brasil. Entre os fundos que, em relatórios de outubro, apresentaram exposição estão o VINO11, o KNRI11 e o BRCR11.

Segundo Danilo Bastos, sócio-fundador da Ticker Research, em declaração na semana passada, “não necessariamente a WeWork entrando em recuperação judicial quer dizer que ela não vá pagar aluguel, pelo contrário, a recuperação judicial pressupõe pagar as obrigações que ela tem”.

Ele disse ainda que, “se a WeWork reduzir as operações e sair de alguns edifícios no Brasil, o impacto no VINO11 seria algo em torno de 5%”. “Não é algo tão relevante assim.”

A WeWork disse ainda nesta terça-feira (7) que concluiu a primeira metade do ano com um crescimento superior a 31% na receita comparado ao mesmo período do ano passado e um crescimento de receita 26% maior no segundo trimestre de 2023 comparado ao mesmo período em 2022.

“Estamos confiantes de que temos solidez financeira e o melhor time trabalhando na construção de um futuro no qual o trabalho se tornará uma experiência inspiradora e enriquecedora para todos os nossos membros, pelos próximos anos”.

Prejuízos globais

Em agosto, em uma conferência de resultados do segundo trimestre que durou 13 minutos, a direção da WeWork global disse que seu principal desafio para que a empresa alcançasse lucratividade e fluxo de caixa livre continuava sendo a falta de liquidez e os gastos com locação de imóveis.

No segundo trimestre, esses itens foram equivalentes a 74% da receita e mais de dois terços dos gastos operacionais totais. Na época, a joint venture da América Latina disse em nota oficial que “o balanço recentemente publicado pela WeWork Global reflete a melhoria em vários indicadores da empresa, incluindo um aumento na receita, bem como uma redução nas despesas.” A empresa reportou prejuízo líquido de US$ 397 milhões no segundo trimestre, abaixo dos US$ 635 milhões um ano antes.

“Apesar dos desafios no mercado imobiliário, a WeWork LatAm continua avançando para manter sua liderança em espaços flexíveis e impulsionar ainda mais o seu crescimento”, disse a empresa, que não divulgou números para sua operação na América Latina na ocasião.

O market cap da empresa caiu para cerca de US$ 121,42 milhões na semana passada, o que contrasta com um valuation de US$ 47 bilhões em 2019 após rodada com o SoftBank.

Enquanto isso, seu ex-CEO e cofundador Adam Neumann, que foi deposto do cargo executivo da WeWork em 2019, tem um patrimônio líquido estimado em US$2,2 bilhões, segundo a Forbes.

Em agosto, a WeWork disse em comunicado à SEC (Securities and Exchange Commission dos EUA) que havia “dúvidas substanciais” sobre a sua capacidade de seguir operando, citando perdas contínuas e o aumento dos cancelamentos de assinantes.

A WeWork tem 3.700 funcionários pelo mundo.

-- Com informações da Bloomberg News.

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