Bloomberg Línea — Em um ano de recordes, a Vulcabras, empresa dona da Olympikus e que opera a Mizuno e a Under Armour no Brasil, fechou com receita líquida de R$ 3,05 bilhões, um resultado histórico para a companhia com origem no Rio Grande do Sul. O valor representou um crescimento de 8,2% em relação aos números de 2023. O consenso da Bloomberg com analistas indicava uma receita em R$ 3,012 bilhões.
O lucro líquido no período somou R$ 544,1 milhões, com alta de 11,1% em comparação com o ano anterior. A margem líquida recorrente ficou em 17,8%, aumento de 0,4 ponto percentual.
Os números acompanharam o 18º trimestre consecutivo de balanços positivos para a companhia. Nos últimos três meses do ano passado, a Vulcabras chegou a R$ 905,7 milhões em receita líquida, um aumento de 14,5% contra o mesmo período de 2023.
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O Ebitda recorrente (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, que expressam uma métrica de geração de caixa operacional) fechou em R$ 192,2 milhões, com 8,2% de alta na base anual, enquanto a margem Ebitda recorrente ficou em 21,2%, uma redução de 1,3 ponto em igual comparação. O valor ficou um pouco abaixo do consenso da Bloomberg, que apontava R$ 193,33 milhões.
“Nós vimos um cenário mais desafiador em 2024 e não dá para dizer que tivemos um vento positivo. Vimos um país ainda com muitas dúvidas, com os nossos clientes cautelosos para não fazerem grandes apostas de longo prazo”, disse Pedro Bartelle, CEO da Vulcabras, em entrevista à Bloomberg Línea.
“Mas nós estamos há 18 trimestres consecutivos crescendo e encontrando oportunidades porque, mesmo em um momento de incertezas, continuamos a investir e a encontrar caminhos que não dependem só do que já fizemos”, disse o executivo.
A Vulcabras deve direcionar parte dos recursos para ampliar a capacidade produtiva, disse Wagner Dantas, CFO da companhia, na mesma entrevista.
Há aumento do parque industrial, com nova ampliação do pavilhão de cabedais em knit (a parte superior dos tênis) e aquisição de novas máquinas para suportar a demanda. O valor somou R$ 203,3 milhões em 2024, montante que deve seguir em linha para este ano.
A companhia apresentou ainda no ano passado uma expansão das vendas nos canais digitais, que passaram a representar 14,2% da receita líquida total. No intervalo de um ano, as vendas avançaram 55%, de R$ 279,8 milhões em 2023 para R$ 433,7 milhões em 2024.
“Olhando para a frente, prevejo investimentos que, além de promover a expansão de capacidade produtiva, tragam consigo também a captura de componentes de inovação, seja avanço no processo produtivo, sejam melhores eficiências, que são bastante bem-vindas”, disse o CFO.
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A companhia acompanha o aumento da demanda por práticas esportivas no país no pós-pandemia, especialmente a corrida. E se prepara para dobrar a aposta, ampliando as linhas de produtos para os corredores em suas três marcas (veja mais abaixo).
As movimentações com os novos modelos representam uma espécie de “all in” da companhia no universo da corrida, que representou uma espécie de “pivotagem” do modelo de negócio para marcas esportivas entre os anos de 2017 e 2018.
“Esse segmento de corrida cresce muito e nós aproveitamos isso em todas as marcas. Nós vínhamos crescendo em um ritmo perto de 10%, mas no quarto trimestre ficamos perto de 15%. É uma tendência nova aqui na empresa. Estamos vendo um outro patamar e queremos rentabilizar os investimentos que temos feito”, afirmou Bartelle.
Uma recém-finalizada pesquisa da Olympikus, encomendada à consultoria Box 1824, revelou que o Brasil conta com mais de 13 milhões de corredores, sendo que 75% começaram no esporte a partir de 2021 e 2022.
Na Vulcabras, a categoria de calçados cresceu 16% no quarto trimestre e 9,2% no consolidado do ano.
Novas apostas da linha Corre
O carro-chefe da companhia é a própria Olympikus, que transformou a linha Corre em uma família que cresce e hoje é formada pelos modelos Corre, Grafeno 3, Max e Corre Trilha e Supra. Caso de sucesso no mundo esportivo brasileiro, a linha elevou o status da marca - anteriormente uma força em modelos de entrada não voltados para a corrida - e tem feito com que chegue a mais pontos de venda.
“A Olympikus sempre teve o produto mais vendido e mais distribuído, mas tinha um pouco de dificuldade de entrar em shoppings premiums, em lojas mais especializadas. Entrava um produto, uma ação, mas agora a marca tem uma parede, uma coleção. Só que agora não existe mais loja no Brasil que não tenha uma coleção de Olympikus. A loja que não tem hoje está perdendo venda”, disse Bartelle.
A companhia prepara a marca para ir além desse posicionamento, para brigar em outro nível de preços. Os produtos da linha Corre chegaram ao mercado no início da década na faixa de R$ 500,00 e, à medida que caíram no gosto do consumidor, ganharam versões mais “parrudas” em termos de tecnologia. O mais avançado é o Supra, lançado no ano passado com valor em torno de R$ 1.200,00.
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Para os próximos meses, a marca prepara novos produtos para ampliar ainda mais a família Corre.
“Nós vamos atuar em toda e qualquer faixa de preço, inclusive buscando o melhor produto possível para competir com qualquer modelo em alta performance no mundo. Iremos trazer produtos e evoluções tecnológicas muito importantes neste ano”, afirma o CEO sobre os itens que devem entrar no mercado entre maio e junho.
“Como eu fui piloto de automobilismo, vou fazer uma analogia: nós estamos preparando também o pneu macio para fazer a volta mais rápido”, acrescentou, em sugestão de que vem um modelo voltado para performance em provas mais rápidas.
Além da Olympikus, a Vulcabras também planeja localmente uma linha de tênis de corrida para a Under Armour, marca cujo apelo está mais voltado para o público de academia e atividades como o crossfit e que fora do país é mais conhecida pelas roupas do que pelos tênis.
A estratégia inicial é apostar em um modelo multifuncional, na categoria de super treino e que resolva as demandas do dia-a-dia dos consumidores.
Para a japonesa Mizuno, marca com um extenso portfólio de corrida, a novidade são os Neo Vista e o Neo Zen, modelos com solado mais achatados e apelidados por Bartelle como “canoa”. Os produtos são importados, mas ganharão versões nacionais.
”No segundo semestre, as ‘canoas’ nacionais, clonadas e desenvolvidas por nós, serão uma revolução em marcas de running, como é a Mizuno. É uma opinião com bastante humildade”, disse. Os preços estarão no intervalo entre R$ 500,00 a R$ 1.500,00.
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