Volkswagen avalia fechar fábricas na Alemanha pela primeira vez em sua história

Montadora prevê medidas sem precedentes em seus 87 anos diante de pressão sobre os resultados na era de transição para elétricos, o que abriria confronto com os poderosos sindicatos locais

Manufacturing At The Volkswagen AG Wolfsburg Plant
Por Monica Raymunt - Christoph Rauwald
02 de Setembro, 2024 | 03:52 PM

Bloomberg — A Volkswagen considera o fechamento de fábricas em uma decisão sem precedentes na Alemanha, o que sinaliza um confronto com os poderosos sindicatos locais, enquanto o setor mais importante da economia do país luta pelo seu futuro.

As possíveis medidas também incluem a tentativa de encerrar o pacto de três décadas da empresa com os trabalhadores para manter os empregos seguros, informou a empresa nesta segunda-feira (2).

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O principal alvo da VW é sua marca homônima de carros de passeio de baixo desempenho, cujas margens de lucro têm sido espremidas em meio a uma transição para veículos elétricos e uma desaceleração dos gastos do consumidor.

Qualquer fechamento de fábricas seria inédito na Alemanha nos 87 anos de história da empresa. As ações da VW fecharam em alta de 1,3% após a notícia, mas ainda acumulam perdas de 13% neste ano.

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Oliver Blume, CEO da Volkswagen e da Porsche: pressão de investidores sobre os resultados (Foto: Krisztian Bocsi/Bloomberg)

“O ambiente econômico tornou-se ainda mais difícil e novos players estão entrando na Europa”, disse Oliver Blume, CEO da Volkswagen, em um comunicado. “A Alemanha, como ambiente de negócios, tem ficado cada vez mais para trás em termos de competitividade.”

Uma disputa trabalhista completa seria um grande teste para o CEO - que também comanda a marca de carros esportivos Porsche - depois que os conflitos sindicais derrubaram vários de seus antecessores da VW.

Aumentar os retornos da marca Volkswagen tornou-se mais difícil com o aumento dos custos de logística, energia e mão-de-obra. A margem da marca caiu para 2,3% durante o primeiro semestre, em comparação com 3,8% no ano anterior.

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A empresa também perdeu força em seu maior mercado, a China, com sua linha de modelos elétricos muito atrás dos concorrentes, enquanto carros elétricos chineses mais baratos “invadem” a Europa.

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O confronto iminente em uma das maiores empresas da Alemanha ameaça um consenso do pós-guerra - mais precisamente, da Segunda Guerra Mundial - em que os trabalhadores têm uma influência significativa.

Acordos com décadas de existência estão sendo pressionados à medida que novos concorrentes miram o alicerce industrial da Alemanha e partidos populistas ganham força.

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No domingo (1), os resultados das eleições em dois estados do leste da Alemanha foram de derrota para os social-democratas do chanceler Olaf Scholz e seus dois parceiros de coalizão.

O partido Alternativa para a Alemanha ficou em segundo lugar na Saxônia, onde a VW possui uma fábrica de veículos elétricos em Zwickau, e venceu as eleições na vizinha Turíngia, o primeiro triunfo de um partido de extrema direita em uma votação estadual alemã desde a Segunda Guerra Mundial.

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“Estou profundamente preocupado com o fato de a administração do Grupo VW não estar mais descartando o fechamento de fábricas e as demissões compulsórias”, disse à Bloomberg News o legislador do SPD Bernd Westphal, porta-voz de política econômica do grupo parlamentar de Scholz.

“O grupo parlamentar do SPD está firmemente do lado dos funcionários e espera conversas construtivas” com os conselhos de trabalhadores e sindicatos, completou.

300 mil trabalhadores na Alemanha

A VW emprega cerca de 650 mil funcionários em todo o mundo, dos quais quase 300 mil estão na Alemanha.

Metade dos assentos no conselho de supervisão da empresa é ocupada por representantes dos trabalhadores, e o estado alemão da Baixa Saxônia - que detém uma participação de 20% na montadora - frequentemente fica do lado dos órgãos sindicais.

Essa configuração faz parte de um sistema de governança “labiríntico” em que a administração precisa obter o apoio da família bilionária Porsche-Piech e dos trabalhadores para tomar decisões importantes.

A chefe do conselho de trabalhadores, Daniela Cavallo, disse que a administração da VW alertou que a marca que fabrica os modelos Golf e Tiguan corre o risco de perder dinheiro, de acordo com um comunicado separado.

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A empresa avalia o fechamento de pelo menos uma fábrica de automóveis de grande porte e uma unidade de componentes na Alemanha, disse ela, juntamente com a abolição de acordos salariais.

A VW também “questiona” a produção de um modelo de SUV elétrico compacto na principal fábrica de automóveis em Wolfsburg a partir de 2026, fundamental para preencher a capacidade da fábrica, disse o conselho de trabalhadores.

O modelo Trinity, atualmente planejado para Zwickau, corre o risco de ser adiado.

No ano passado, a Volkswagen fabricou cerca de 9 milhões de veículos, em comparação com a capacidade total de 14 milhões.

O governo da Baixa Saxônia disse que apoia os esforços de corte de custos da VW e acrescentou que opções alternativas devem ser exploradas em conversas com representantes dos trabalhadores.

“Esperamos que a questão do fechamento de fábricas não seja necessário com o uso bem-sucedido de alternativas”, disse Stephan Weil, primeiro-ministro da Baixa Saxônia e membro do conselho de supervisão da VW. “O governo estadual dará atenção especial a isso.”

Outros confrontos

Conflitos anteriores encerraram ou encurtaram os mandatos de altos executivos, incluindo o ex-CEO Bernd Pischetsrieder, o ex-chefe de marca da VW Wolfgang Bernhard, além de Herbert Diess, antecessor de Blume como CEO. Todos os três tentaram promover eficiências, especialmente nas operações domésticas da VW na Alemanha.

Os planos correm o risco de agravar o mal-estar econômico na Alemanha, onde as empresas industriais têm reduzido seus investimentos.

O valor de mercado da VW caiu para cerca de 51 bilhões de euros (US$ 56,5 bilhões), mesmo que a empresa continue a registrar lucros, com uma receita operacional de 22,6 bilhões de euros no ano passado.

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O impopular governo de coalizão da Alemanha, liderado pelos social-democratas de Scholz, é assolado por brigas internas, com mudanças abruptas de política que dificultam a governabilidade.

No ano passado, o governo removeu repentinamente os incentivos aos veículos elétricos depois que os legisladores rejeitaram os planos orçamentários.

A queda nas vendas no maior mercado de automóveis da Europa tem sido um obstáculo desde então e prejudica uma série de grandes fornecedores, incluindo a Bosch, a ZF Friedrichshafen e a Continental.

“O setor automotivo enfrenta grandes desafios em todo o mundo e passa por uma profunda transformação que exige que as empresas tomem decisões estratégicas”, disse o Ministério da Economia em um comunicado. “É essencial que as empresas e a administração ajam de forma responsável e em estreita consulta com os parceiros sociais.”

Os planos da VW sobre novos cortes seguem um anúncio feito em julho, com detalhamento do possível fechamento de uma unidade em Bruxelas que produz Audis elétricos.

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A fábrica tem enfrentado dificuldades com os altos custos e a baixa demanda pelo luxuoso Q8 e-tron, o único modelo que produz. Na época, a montadora reduziu seu guidance para o ano, em parte devido aos prováveis custos envolvidos no fechamento da fábrica.

A última vez que a VW fechou uma grande fábrica de automóveis foi há mais de 30 anos - então a sua única planta de montagem nos Estados Unidos, perto de Pittsburgh.

Na Alemanha, a marca Volkswagen tem unidades de produção de componentes em Brunswick, Kassel, Salzgitter, Hannover e Chemnitz, bem como fábricas de automóveis em Wolfsburg, Emden, Zwickau, Dresden, Osnabrück e Hannover.

- Com a colaboração de Kamil Kowalcze e Michael Nienaber.

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