Bloomberg — O futuro retorno dos bilionários irmãos Batista para o conselho de administração da JBS os colocou de volta aos mais altos círculos do poder do Brasil menos de três semanas após sua nomeação.
Wesley e Joesley Batista receberam nesta sexta-feira (12) o líder da nação em uma de suas plantas industriais que começará a exportar para a China.
Ambos conduziram a transformação do grupo fundado pelo seu pai como uma pequena loja de açougue na maior produtora de carne do mundo, em especial na segunda metade dos anos 2000, com ajuda do BNDES em governos passados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e depois se envolveram em um escândalo de corrupção que derrubou diversos políticos.
O encontro em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, faz parte da aposta de Lula de que o aumento das exportações agrícolas para a segunda maior economia do mundo pode ajudar a reproduzir os bons momentos impulsionados por commodities do qual se beneficiou no início do século.
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Eles se encontraram em uma fábrica da JBS (JBSS3) que fará o primeiro embarque de carne para a China como parte de um novo acordo de exportação alcançado após a viagem de Lula ao país no ano passado. Um total de 38 plantas brasileiras recebeu recentemente autorização para enviar produtos para a nação asiática.
“Nesta família todos estão predestinados a ter sucesso”, disse Lula durante o evento na fábrica da JBS.
“Joesley e Wesley foram os responsáveis por essa empresa se transformar na maior empresa de proteína animal do mundo. Isso para mim é motivo de orgulho, saber que, se a gente quiser, a gente faz tudo o que a gente sonhou”, disse o presidente da República.
A JBS planeja investir cerca de R$ 150 milhões para dobrar a capacidade de produção diária da unidade de Campo Grande para 4.400 cabeças de gado, disse o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, durante a cerimônia.
O Brasil já conta com a China para mais da metade de suas exportações de carne bovina e para 70% de seus embarques de soja. Mas, no ano passado, Lula enviou centenas de líderes do influente setor agropecuário do país para Pequim, na esperança de convencer o governo de Xi Jinping a aprofundar ainda mais sua dependência dos produtos agrícolas brasileiros.
A autorização das 38 plantas deve aumentar o saldo comercial do Brasil em R$ 10 bilhões no próximo ano, disse Roberto Perosa, secretário de comércio e relações internacionais do Ministério da Agricultura, em uma coletiva de imprensa na quinta-feira (11).
A medida chega em um momento crucial para Lula: um ano após uma safra recorde ter impulsionado um boom de exportações e um crescimento do PIB melhor do que o esperado, a maior economia da América Latina deve desacelerar ao longo de 2024, segundo estimativas, em parte devido à incerteza persistente sobre a força da China.
Para Joesley e Wesley, que controlam a JBS por meio de sua empresa de participações familiar J&F Investimentos, o evento é o mais recente passo em seu retorno à posição de destaque no Brasil e no mundo.
Os irmãos que lideraram a expansão internacional da empresa há mais de uma década tiveram que deixar a operação e o conselho depois de confessarem suborno a centenas de políticos em um acordo de delação premiada feito em 2017 com as autoridades brasileiras.
Ambos fizeram parte da delegação que Lula enviou à China no ano passado. E, no final de março, eles foram nomeados para o conselho da JBS, em decisão que ainda depende dos acionistas, mas que abre o caminho para seu retorno à gigante da carne que seu pai fundou como um pequeno açougue há mais de 70 anos.
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A JBS é agora o maior fornecedor mundial de carne bovina e frango. No Brasil, seus R$ 364 bilhões em receitas anuais em 2023 a colocaram em segundo lugar entre as empresas brasileiras, atrás apenas da Petrobras (petr3, petr4), a gigante do petróleo controlada pelo estado do país.
Os irmãos estão prontos para se juntar ao conselho no momento em que a empresa se apronta para listar suas ações nos EUA, à medida que tenta obter financiamento mais barato e ampliar o patrimônio para crescer ainda mais.
O esforço tem enfrentado resistência de legisladores no Reino Unido, que alegam que suas práticas representariam uma ameaça ao meio ambiente.
Ainda não está claro se o governo de Lula apoiará a empresa que uma vez ajudou a impulsionar. O banco nacional de desenvolvimento do Brasil, o BNDES, que será fundamental para a aprovação da proposta, ainda não disse publicamente se apoia o movimento.
Questionado sobre a posição do governo em 10 de abril, o ministro da Agricultura, Carlos Favaro, não comentou.
- Com a colaboração de Beatriz Reis.
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