Bloomberg Línea — A Vila 11, empresa pioneira no Brasil no segmento multifamily, projeta mudar de patamar neste ano, com mais prédios em operação do que empreendimentos em desenvolvimento.
A empresa começou o ano com a entrega do nono empreendimento dos 25 programados até 2030. Outros seis estão na fase de construção e devem começar a operar ainda neste ano, o que levará a um total de 15 empreendimentos em operação e colocará a Vila 11 em posição de gerar caixa pela primeira vez desde sua criação em 2020.
“O ano de 2025 será de inflexão, um ano em que passamos da ‘adolescência’ para a fase ‘adulta’”, afirmou o CEO e fundador, Ricardo Laham, em entrevista à Bloomberg Línea.
Laham foi executivo da Brookfield, gigante global de real estate, por mais de duas décadas antes de ser procurado pelo fundo americano Evergreen para estruturar a operação da Vila 11 no Brasil.
Leia mais: Locação de R$ 28 milhões da JFL em multifamily em SP sinaliza nova fase no segmento
Pioneira em multifamily no país, a empresa estreou no mercado paulistano com um investimento inicial de US$ 200 milhões do Evergreen. O mandato era de colocar 14 prédios em operação para renda residencial em São Paulo em até seis anos.
No modelo multifamily, a companhia desenvolve e mantém todos os apartamentos sob sua propriedade, para geração de renda com aluguel.
A validação da tese aumentou o investimento: foram mais US$ 85 milhões em dois aportes, que aceleraram o crescimento no mercado paulistano. A Vila 11 conta hoje com atuação em 12 bairros de São Paulo nas zonas mais valorizadas da cidade. Entre eles, Itaim Bibi, Pinheiros, Jardins, Higienópolis, Paraíso, Berrini e Bela Vista.
Todos os pacotes do modelo multifamily da Vila 11 incluem aluguel, IPTU, luz e água, além da administração centralizada da empresa. Para unidades de um dormitório, os valores partem de R$ 3.800 nas regiões de entrada, como a Bela Vista, e podem chegar a até R$ 15.000 nos maiores apartamentos dos Jardins e no Itaim Bibi. A meta é alcançar R$ 120 milhões em faturamento nos próximos três anos.
“Ao iniciar uma tese de investimento do zero como desenvolvedor do empreendimento, passa-se muito tempo consumindo caixa, já que, entre comprar o terreno e começar a alugar, é um ciclo de mais de três anos. Neste ano, a operação começa a se sustentar sozinha”, disse o CEO.
Com um mandato ostensivo, a Vila 11 conseguiu chegar ao breakeven sem precisar buscar novos financiamentos. Agora, com as contas equilibradas, a empresa não vê necessidade de procurar o mercado para crescer no curto prazo – ao menos não com juros de dois dígitos.
O cenário pode ser diferente a partir do próximo ano, contando especialmente com um maior conhecimento do mercado de crédito para o multifamily. A expectativa de Laham é que as linhas de financiamento para o segmento cresçam.
“É um setor defensivo do ponto de vista cíclico. Uma carteira de recebimentos residenciais é muito mais segura do que uma de recebimentos de prédios corporativos, por exemplo”, defendeu.
Leia mais: Empresa de multifamily pioneira no país planeja até 25 prédios e vê demanda em alta
Multifamily em cenário de juros altos
O caráter defensivo da renda residencial pode ser também uma vantagem para a demanda da Vila 11 neste ano, na avaliação do CEO. Isso porque os juros mais altos encarecem o financiamento imobiliário e afetam a busca por imóveis à venda, o que coloca a locação em destaque.
“É preciso 10% de aumento de renda a cada 1% de subida nos juros do financiamento de habitação. E a renda não cresce nesse mesmo compasso – não apenas em São Paulo ou no Brasil mas em toda grande cidade”, disse.
O foco da Vila 11 é o chamado long stay, a locação de longa duração, que atrai quem quer morar na região em vez de passar uma temporada. Laham admite que os valores do short stay em opções como o Airbnb são mais atrativos, mas defende que eles não se encaixam com a tese de investimento da Vila 11.
“A deterioração do ativo de quem não mora é muito maior do que a de quem mora. E do ponto de vista de longo prazo, ter o aluguel de um morador é mais defensivo do que depender de short stay. Especialmente em uma cidade como São Paulo, que não é turística.”
Ainda assim, o cenário macroeconômico traz desafios, especialmente na frente de incorporação, que sofre com falta de mão de obra, inflação de materiais e competição intensa por terrenos.
A conjuntura fez a Vila 11 voltar suas atenções, desde o ano passado, para o mercado de retrofit, processo de reformulação total de prédios antigos. A companhia já tem dois empreendimentos no portfólio que serão “retrofitados”, um nos Jardins e outro na Berrini.
As maiores oportunidades, no entanto, estão no centro de São Paulo, região que já foi o centro financeiro da cidade e atualmente conta com diversos prédios corporativos com baixa ocupação.
“É uma região que mudou completamente de vocação em três décadas e tem muitas oportunidades de prédios, inclusive para nossa expansão para novas faixas de renda”, afirmou.
A expectativa do CEO é que os futuros empreendimentos da Vila 11 no centro sejam mais acessíveis, com o pacote de aluguel custando, pelo menos, 10% a menos que a unidade mais barata da Bela Vista, por exemplo.
Santa Cecília, Vila Buarque e República são os bairros no radar para a próxima expansão.
Leia mais
Moura Dubeux diversifica atuação para liderar em produtos imobiliários no Nordeste
Pioneira na ‘Dubai brasileira’ vê nova onda de valorização com revitalização de orla
MRV amplia perdas, mas volta a gerar caixa e vê consolidação de melhora operacional