Bloomberg Línea — O Banco do Brasil, líder na concessão de crédito consignado para funcionários públicos, pretende alcançar a liderança também no mercado de empréstimo consignado privado via e-Social, novo instrumento de crédito que deve ser lançado em março pelo governo Lula.
“O consignado e-social é uma linha revolucionária para o mercado. Vamos conseguir ceder crédito com taxas muito mais atrativas que as oferecidas pelo crédito pessoal”, disse a presidente do BB, Tarciana Medeiros, em entrevista coletiva com jornalistas nesta quinta-feira (20) para comentar os resultados do banco no quarto trimestre.
Atualmente, o crédito consignado privado atende empregados de empresas que firmam convênios com instituições financeiras – mercado dominado por Itaú e Santander.
Com o e-Social, o governo será o intermediário dessas operações, o que permite que qualquer banco autorizado ofereça crédito aos trabalhadores de empresas cadastradas.
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Medeiros disse que o consignado e-Social será o próximo anúncio do presidente Lula para a frente de crédito e que é uma das grandes apostas do BB para o ano de 2025.
“Nessa linha, há a ambição de crescer mais que o mercado. Espero que o presidente Lula fique muito feliz com o desembolso do Banco do Brasil [no consignado privado]”, completou.
O guidance da instituição prevê um crescimento para este ano de até dois dígitos na carteira para pessoas físicas – na faixa entre 7% a 11% –, já com o impulso do consignado privado. No total da carteira, o BB espera crescer entre 5,5% e 9,5%, ante uma faixa de 8% da média de mercado.
A CEO definiu a oportunidade como um “oceano azul” para o Banco do Brasil, que tem 41,3% de sua carteira de crédito para pessoa física atrelada ao consignado.
A estimativa do BB é que o mercado de consignado privado cresça dos atuais R$ 40 bilhões até um patamar de R$ 300 bilhões.
O Banco do Brasil também pretende avançar em linhas mais arriscadas e de maior spread, como cartão de crédito, mas sem deixar de lado a preocupação com inadimplência em um cenário de juros mais altos.
“Temos um guidance bastante ambicioso, mas ele está atrelado a boa gestão do risco de crédito. Tanto que entregamos a inadimplência de pessoa física nos menores patamares históricos”, destacou o vice-presidente de riscos do BB, Felipe Prince.
O crédito do segmento PF avançou 9,8% em 2024, para R$ 138,7 bilhões. A carteira de crédito total do BB somou R$ 1,28 trilhão no último ano, um crescimento de 15,3% em 12 meses.
A inadimplência do BB para pessoa física caiu de 4,79% em dezembro de 2023 para 4,66% ao fim do último ano – a maior queda entre os segmentos de crédito do banco.
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Recuperação no agronegócio
Enquanto o segmento pessoa física tem recuo da inadimplência, o agronegócio segue como ponto de preocupação de analistas e investidores.
O agro, que representa 30% da carteira de crédito do BB, enfrentou um ano desafiador em 2024, com mudanças climáticas que afetaram especialmente os plantios de soja e milho na região Centro-Oeste, além da queda das cotações.
O resultado foi um salto de 0,96% para 2,45% na taxa de inadimplência da carteira agro do banco em um ano. Ainda assim, a deterioração não foi acompanhada por um aumento nas provisões, que caíram 8% em um ano, aumentando o temor sobre os resultados futuros do banco.
Analistas do Itaú BBA apontaram que a qualidade da carteira de crédito do BB está pressionada, enquanto os do Goldman Sachs destacaram uma redução da qualidade da carteira com aumento da inadimplência e queda nas provisões.
A CEO do banco estatal destacou uma visão macro da carteira de crédito.
“Nossa carteira tem, sim, muita qualidade – é preciso ter um modelo extremamente pessimista para dizer o contrário. A carteira do BB é o sonho de consumo de qualquer banco: 30% agro, 30% pessoa física e 30% empresas. Esse mix nos dá tranquilidade de apresentar resultado com equilíbrio”, afirmou.
Sem precisar datas, Medeiros e o CFO, Geovanne Tobias, disseram que a carteira de crédito do agronegócio deve se recuperar ao longo do ano, acompanhando as perspectivas positivas para o setor e a chegada de novas safras de clientes ou empréstimos no balanço.
“A expectativa para este ano é de safra recorde, de modo que esperamos que os agricultores consigam regularizar sua situação. Esperamos colher os frutos uma vez passada essa turbulência”, disse Tobias.
O CFO ressaltou que o BB já tem atuação em segmentos em que os bancos privados ambicionam entrar, como é o caso do agronegócio.
‘Muito melhor que o Itaú'
Questionado sobre o ceticismo de analistas com o banco estatal frente aos pares privados, disse que não precisar convencê-los da capacidade de entrega de resultados do BB.
“Não sou o Itaú, sou muito melhor que o Itaú. Queria ver os bancos privados fazendo o que nós fazemos, tendo um terço da carteira no agronegócio e atuando como atuamos em cadeia de valor”, disse.
Na avaliação do CFO, as ações do Banco do Brasil (BBAS3) estão descontadas por “preconceito”. O múltiplo preço/lucro do BB é de 6,13 vezes, enquanto o do Itaú (ITUB4), maior banco privado do país, é de 7,8 vezes.
Na bolsa, as ações do Banco do Brasil recuavam mais de 3% por volta das 16h30.
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