Vale volta a elevar a aposta em minério de ferro após dúvidas sobre metais básicos

A mineradora comprou uma fatia de 15% em complexo da Anglo American de olho no aumento da produtividade de seu principal negócio

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Bloomberg Línea — A Vale (VALE3) voltou a elevar a aposta em minério de ferro após colocar boa parte de suas fichas em metais básicos, usados na produção de carros elétricos. A companhia anunciou a compra de uma fatia do complexo Minas-Rio, da Anglo American, em um horizonte que vem se mostrando incerto para a expansão do mercado de veículos zero emissões.

O complexo pertencente à mineradora britânica foi idealizado pelo empresário Eike Batista e inclui uma mina de minério de ferro em Minas Gerais, além de um mineroduto que vai até o Porto do Açu, no Rio de Janeiro.

A Vale anunciou a aquisição de uma fatia de 15% no complexo, com opção de compra de outros 15%. Pelo acordo, haverá desembolso de caixa de US$ 157,5 milhões e reservas de uma das minas da companhia, Serpentina.

Com a transação, a Vale terá direito a 15% da produção de pellet feed (concentrado de elevado teor de ferro) do Minas-Rio, o que representa aproximadamente quatro milhões de toneladas.

As ações da empresa subiam 0,65% às 17h42 (horário de Brasília) nesta sexta, depois de avançar até 2,57% no início do pregão depois de a mineradora divulgar o balanço trimestral na véspera.

O movimento ocorre após a mineradora brasileira vender, em julho do ano passado, uma fatia de 13% da sua divisão de metais básicos por US$ 3,4 bilhões, em meio à crescente demanda da indústria automotiva.

No entanto, mais recentemente, montadoras vêm anunciando a reorganização de estratégias ligadas a veículos puramente elétricos, o que, entre outros motivos, contribuiu para derrubar as cotações de metais como o níquel, usado nas baterias. A Ford (F) informou nos Estados Unidos um corte de produção na linha da picape F-150 elétrica, diante da demanda enfraquecida.

Ainda no mercado norte-americano, a Hertz (HTZ), uma das maiores locadoras do mundo, anunciou que vai devolver 20 mil carros elétricos e investir em modelos a combustão.

Paralelamente, no último dia 21 a Vale recebeu um ofício da Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Pará comunicando a suspensão da licença de operação da mina de Sossego, da Vale Metais Básicos.

No dia seguinte, a mesma secretaria comunicou a suspensão da licença de operação da mina de Onça Puma, também da divisão de metais básicos. Nos dois casos, a mineradora informou que avalia as medidas necessárias para restabelecer a vigência da licença de operação das minas.

Enquanto isso, executivos da Vale reforçaram a importância do complexo Minas-Rio.

“A parceria com a Anglo American nos permite maximizar o negócio [de minério de ferro] e assegurar oferta adicional de produtos de alta qualidade para suportar a crescente demanda por esse tipo de insumo”, disse o CFO da Vale, Gustavo Pimenta, nesta sexta-feira (23) em teleconferência com analistas.

O Itaú BBA afirmou em relatório que a aquisição da fatia no complexo Minas-Rio é “pequena, mas estrategicamente positiva”. Na visão do banco, o negócio está alinhado aos esforços da Vale para melhorar a qualidade média de seu portfólio.

“Em nossa opinião, parece ser uma decisão estrategicamente acertada rentabilizar esse ativo. O impacto da operação no desembolso e na alavancagem é insignificante”, disseram os analistas.

Sobre o cenário para o minério de ferro, o vice-presidente executivo de soluções de minério de ferro, Marcello Spinelli, afirmou que o mercado global está pressionado e deve ficar ainda mais na Ásia.

“Do lado da oferta, o principal crescimento está vindo do Brasil, da Vale, e o que vemos na Austrália é [uma oferta] estável. A Índia está se voltando para o mercado doméstico”, esclareceu.

Sucessão na Vale

Sobre a sucessão na Vale, o CEO Eduardo Bartolomeo disse na teleconferência que ele não pode comentar sobre a renovação de seu mandato.

O executivo destacou que esse tema cabe ao conselho de administração da companhia. Segundo Bartolomeo, a atual administração está focada na gestão da mineradora.

Nesta quinta-feira (22), a Vale divulgou uma queda de 58% do lucro líquido em 2023, para US$ 8 bilhões. No ano, o Ebitda recuou 9%, para US$ 19 bilhões.

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