Vale se prepara para cenário desafiador da demanda após reportar queda do lucro

Segundo executivos, a companhia deve focar na otimização do portfólio, com destaque para o desenvolvimento do projeto de Carajás

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Bloomberg Línea — A Vale (VALE3) se prepara para um cenário desafiador da demanda, após reportar queda do lucro em 2024. Segundo executivos, a companhia deve se concentrar na otimização do portfólio, com destaque para o desenvolvimento do projeto de Carajás.

Na semana passada, a companhia anunciou o Programa Novo Carajás, com foco na retomada e manutenção dos volumes de minério de ferro e expansão da produção de cobre, com investimentos da ordem de R$ 70 bilhões de 2025 a 2030.

“Há muitas oportunidades e convergências em termos do que é bom para o Brasil e para a Vale. A companhia pode ser um importante investidor em minerais críticos, [isso] é bom para o país, gera receita, mas também nos permite crescer”, disse o CEO da empresa, Gustavo Pimenta, em teleconferência com investidores nesta quinta-feira (20).

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O executivo acrescentou que a companhia tem obtido apoio dos governos para tocar agendas importantes. “Estou otimista. Temos a oportunidade de fazer investimentos que fazem sentido para a companhia e também para a sociedade em que atuamos. Vocês podem esperar que continuemos com foco no que faz sentido para a empresa, mas entendendo que muitos desses investimentos fazem sentido também para o Brasil”, afirmou.

Os papéis da companhia operavam em alta nesta quinta-feira (20) em São Paulo, com avanço de 2,77% por volta das 14h (horário de Brasília).

A aposta da companhia ocorre em meio à desaceleração da demanda da China, responsável por metade do consumo global de commodities.

Neste contexto, as principais mineradoras globais, as chamadas majors do setor, reportaram queda do lucro em 2024.

No consolidado do ano, a Vale registrou uma queda de 26% do lucro líquido, para US$ 5,9 bilhões. A receita líquida no período caiu 9%, para US$ 38 bilhões. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado alcançou US$ 14,8 bilhões, retração de 20% na mesma base de comparação.

Analistas do Itaú BBA apontaram em relatório que o desempenho da companhia no ano veio acima do esperado, principalmente devido aos custos menores do que o projetado.

Já analistas do Goldman Sachs destacaram em relatório que a Vale segue promovendo melhorias em eficiência operacional, que não têm se refletido adequadamente no preço das ações.

Segundo a instituição, apesar das incertezas sobre o minério de ferro -- em um contexto de preocupação acerca da atividade chinesa --, preferência dos investidores pela exposição ao cobre (no setor de commodities) e ventos contrários na macroeconomia, principalmente acerca da relação comercial entre Estados Unidos e China, analistas veem espaço para a Vale recuperar a competitividade.

Os estoques de minério de ferro da mineradora apresentaram crescimento no quarto trimestre, o que segundo o vice-presidente executivo comercial e desenvolvimento, Rogério Nogueira, está associado ao aumento do volume beneficiado.

Conforme o executivo, com a concentração de minério fora do Brasil a companhia ganha um ciclo mais longo entre a produção e as vendas. “Não é que vamos continuar aumentando os estoques indefinidamente. Em algum momento podemos reverter essa estratégia. Se isso não gerar valor, o inventário pode até cair”, afirmou.

Executivos salientaram que a indústria siderúrgica chinesa está operando com excesso de capacidade e margens muito baixas, além de estar passando por um processo de consolidação.

Segundo eles, ainda não é possível saber se a indústria chinesa passará por uma reestruturação de capacidade, eliminando as fábricas defasadas, o que pode impactar a demanda por minério de ferro, principalmente de alta qualidade.

No consolidado de 2024, os prêmios obtidos pela Vale no segmento de minério de ferro fecharam, em média, em US$ 2,1 por tonelada, ante US$ 2,9/tonelada no ano anterior.

Segundo reportou a Bloomberg Línea no início deste mês, as mineradoras vêm obtendo prêmios menores pelo produto de maior qualidade, em um cenário de incertezas que deve persistir em 2025.

Nesta quarta-feira (20), a companhia anunciou uma redução no guidance de investimentos (capex) para 2025, para US$ 5,9 bilhões, ante US$ 6,5 bilhões anteriormente.

Apesar disso, o CEO da Vale se mostra confiante na entrega das metas para o ano. “Tivemos resultados sólidos, estamos no caminho certo. Com esse capex, teremos mais flexibilidade”, disse Pimenta.

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