Vale, Rio Tinto e BHP têm queda do lucro sob efeito do recuo do minério na China

Principais mineradoras do mundo começaram a se sentir o impacto das dificuldades econômicas do gigante asiático

Por

Bloomberg — As maiores mineradoras do mundo, que lucraram com a demanda outrora desenfreada da China por minério de ferro, começaram a sentir o impacto das dificuldades econômicas de seu principal cliente.

A BHP, a Rio Tinto e a Fortescue, da Austrália, e a Vale registraram lucros mais fracos esta semana, depois que os preços do produto básico para fabricação de aço recuaram em face à prolongada crise imobiliária da China e seu impacto na demanda de construção na segunda maior economia do mundo. As empresas mais expostas ao minério de ferro foram as mais afetadas.

O minério de ferro foi uma das principais commodities com pior desempenho em 2024, com perdas de mais de um quarto de seu valor, e com o preço médio dos futuros de referência tendo caído cerca de 7% em relação ao ano anterior.

Leia também: Da Vale à Rio Tinto: como a nova ordem global deve afetar o minério de ferro

O mercado de Cingapura atingiu o pico acima de US$ 140 a tonelada antes de cair para cerca de US$ 100 a tonelada. Analistas preveem que mais perdas para menos de US$ 90 por tonelada são prováveis até o final de 2025.

Agora, acredita-se amplamente que a demanda por aço na China tenha atingido seu pico, e seu declínio significa menos necessidade de minério de ferro. Embora o país ainda importe mais de 1 bilhão de toneladas por ano, um ponto de inflexão está atrasado.

As siderúrgicas estão sob crescente pressão financeira e é improvável que o governo injete estímulos que impulsionariam significativamente o setor de construção. O crescente protecionismo em todo o mundo também deve prejudicar as exportações de aço do país.

A piora da demanda não é o único peso nos preços do minério de ferro. A oferta também deve aumentar, com o gigante projeto Simandou, na Guiné, previsto para entrar em operação ainda este ano, além de expansões na Austrália e no Brasil.

Mineradoras menores e de custo mais alto serão as mais prejudicadas, disse Jiang Mengtian, analista chefe de minério de ferro da consultoria Horizon Insights, com sede em Xangai.

“O processo de compressão de lucros mudará gradualmente para a parte superior da cadeia, especialmente porque a capacidade de produção das minas de minério de ferro deve aumentar em cerca de 46 milhões de toneladas em 2025″, disse ela.

As maiores mineradoras estão relativamente protegidas em função de seus custos mais baixos, mas ainda estão sentindo o aperto.

A BHP registrou ganhos recordes no ano até junho de 2022, com o aumento significativo da demanda por minério de ferro, mas, desde então, os lucros anuais caíram mais da metade. Os ganhos anuais da Rio Tinto com o insumo siderúrgico caíram 19% em relação a 2023, embora a produção tenha permanecido estável.

As duas potências australianas passaram décadas ampliando suas operações nas minas de minério de ferro para permitir que elas tivessem lucro mesmo que os preços caíssem. As companhias também são mais diversificadas do que alguns de seus pares, com a maior parte da receita da BHP e mais de 40% da Rio Tinto vindo de outros metais.

“A Rio Tinto está posicionada para continuar a gerar forte fluxo de caixa de seu negócio de minério de ferro, ao mesmo tempo em que retém e aumenta sua alavancagem para a valorização dos preços de cobre e alumínio quando o próximo ciclo de demanda começar”, disse Chris LaFemina, analista no Jefferies Financial Group, em relatório.

"A Rio está posicionada para continuar a gerar um forte fluxo de caixa a partir de seu negócio de minério de ferro e, ao mesmo tempo, manter e aumentar sua alavancagem em relação ao aumento dos preços do cobre e do alumínio quando o próximo ciclo de demanda começar", disse Chris LaFemina, analista do Jefferies Financial Group, em uma nota de pesquisa.

A BHP e a Rio viram seus lucros principais caírem em 23% e 8%, respectivamente, porém, mineradoras mais expostas ao ferro, como a Vale e a australiana Fortescue, estavam em uma posição pior.

A empresa brasileira depende do minério de ferro para 80% de sua receita e viu um indicador de seu último lucro trimestral cair 41%, enquanto a Fortescue, cuja operação é focada no minério de ferro, registrou uma queda de 53% no primeiro semestre.

--Com a ajuda de Paul-Alain Hunt.

Veja mais em bloomberg.com