Vale: produção menor de minério deve pesar no resultado do 1º tri, segundo analistas

Bancos de investimento consultados pela Bloomberg Línea projetam resultado mais fraco para a mineradora no período; empresa divulga balanço nesta quinta

A produção de minério de ferro da companhia totalizou 67,7 milhões de toneladas no primeiro trimestre, queda de 4,5% sobre igual período do ano passado
23 de Abril, 2025 | 04:23 PM

Bloomberg Línea — O resultado da Vale (VALE3) no primeiro trimestre de 2025 deve ser impactado por volumes reduzidos de produção de minério de ferro, segundo bancos de investimento consultados pela Bloomberg Línea.

A divulgação do desempenho financeiro da mineradora está programada para esta quinta-feira (24), após o fechamento do mercado.

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A produção de minério de ferro da companhia totalizou 67,7 milhões de toneladas no primeiro trimestre, queda de 4,5% sobre igual período do ano passado, informou a companhia em relatório de produção no último dia 15 de abril, diante dos níveis de chuva elevados que impactaram o Sistema Norte.

Já as vendas da commodity somaram 66,1 milhões de toneladas, um ligeiro avanço de 3,6% na comparação anual, impulsionadas “pela flexibilidade da cadeia estendida da Vale, utilizando estoques avançados”, destacou o relatório.

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O Santander (SANB11) apontou em relatório que o preço médio realizado de finos de minério de ferro pela Vale atingiu US$ 90,8 por tonelada no primeiro trimestre de 2025, um valor de US$ 3,1 abaixo da estimativa do banco.

Neste contexto, o Santander projeta um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de US$ 3 bilhões para a companhia no primeiro trimestre de 2025, abaixo do consenso de analistas consultados pela Bloomberg de US$ 3,3 bilhões.

No mesmo período do ano passado, a mineradora reportou Ebitda ajustado de US$ 3,43 bilhões.

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O Goldman Sachs (GS) disse em relatório que a produção de minério de ferro da Vale no primeiro trimestre ficou em linha com a estimativa da instituição, mas 6% abaixo do consenso da Bloomberg, enquanto as vendas da commodity ficaram em linha com as expectativas e o consenso.

No segmento de metais básicos, o banco considerou que as vendas de níquel foram “fracas”, enquanto a produção de cobre e níquel ficou em linha com o esperado.

O Goldman Sachs reduziu a estimativa de Ebitda para o primeiro trimestre em 2%, para US$ 3 bilhões, com o volume de vendas de pelotas e níquel abaixo do esperado, o que deve impactar o lucro.

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Apesar disso, as projeções para os anos fiscais de 2025, 2026 e 2027 seguem “praticamente inalteradas”, segundo os analistas do banco.

“O primeiro trimestre tende a ser o mais fraco sazonalmente dentro do ano. Acreditamos que os números [de produção] divulgados não refletem uma melhora operacional esperada, principalmente em custos e flexibilidade operacional”, disseram os analistas do Goldman no relatório.

Eles acrescentaram que, embora os preços do minério de ferro tenham atingido o pico do ciclo, a empresa segue “atraente”.

“Reconhecemos que as incertezas macroeconômicas podem limitar a reavaliação [da companhia] por enquanto, mas consideramos a avaliação de Vale atrativa e vemos uma queda limitada a partir deste ponto”, afirmaram.

O Citi (C), por sua vez, ressaltou em relatório que a produção de minério de ferro da Vale no trimestre veio ligeiramente abaixo do esperado, apesar das vendas melhores.

A instituição reduziu a estimativa de Ebitda ajustado para a mineradora também em 2%, para US$ 3,1 bilhões.

Para o consolidado de 2025, a projeção para o indicador foi reduzida em 2%, para US$ 13,7 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado para 2026 permanece inalterado.

De acordo com projeção do Citi, o lucro líquido da Vale deve atingir US$ 1,33 bilhão no primeiro trimestre deste ano, ante US$ 1,67 bilhão reportados pela mineradora no mesmo período do ano passado.

Riscos

O Goldman Sachs aponta que os preços mais baixos do minério de ferro, em decorrência de uma potencial desaceleração macroeconômica da China mais forte do que o esperado, podem impactar os principais produtos da Vale.

Já a valorização do real em relação ao dólar pode afetar a lucratividade da mineradora no ano, enquanto a melhora mais lenta do que o esperado na dinâmica de oferta e demanda de metais básicos (cobre e níquel) manterá os preços baixos por mais tempo, impactando negativamente os resultados da companhia.

Outro ponto levantado pela instituição são quaisquer novas ações judiciais envolvendo a Samarco, que podem potencialmente aumentar as provisões da Vale.

Por fim, o banco alerta que o desempenho operacional da empresa deve decepcionar tanto no minério de ferro quanto em metais básicos, gerando volumes menores do que o esperado e pressionando a geração de fluxo de caixa.

Ainda no início do mês, analistas do Itaú BBA afirmaram em relatório que os potenciais impactos do novo regime tarifário dos Estados Unidos sobre os níveis de exportação de aço chinês, juntamente com a oferta sazonalmente mais alta no segundo semestre de 2025, podem contribuir para a queda dos preços do minério de ferro.

“Vemos riscos de cortes na produção de aço na China relacionados a reformas do lado da oferta e à redução das exportações de aço chinês”, disseram os analistas.

O Itaú BBA disse ainda que a previsão oficial para o preço médio do minério de ferro em 2025 é de US$ 100 por tonelada. “Nesse nível, vemos uma avaliação atrativa [para a companhia], com o estoque sendo negociado a um preço de mercado”.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.