Vale e Rio Tinto ampliam produção de minério de ferro apesar de fraqueza na China

Dois maiores produtores globais seguem com custos de produção que compensam volumes mais altos; na Vale, produção no terceiro trimestre foi a maior desde o fim de 2018, pré-Brumadinho

Demanda da China por minério de ferro continua a enfrentar ventos contrários com a crise imobiliária do país
Por Paul-Alain Hunt
16 de Outubro, 2024 | 06:43 AM

Bloomberg — Os dois maiores fornecedores de minério de ferro do mundo, a Rio Tinto e a Vale, aumentaram a produção do insumo siderúrgico no terceiro trimestre, mesmo com a demanda da China diante de ventos contrários em razão da crise imobiliária do país.

A produção da Rio Tinto subiu cerca de 1% no período em relação ao ano anterior, enquanto a Vale (VALE3) superou as estimativas de mercado e apresentou seu maior volume desde o final de 2018, antes do desastre de colapso de barragem de Brumadinho, que desencadeou interrupções que duraram anos.

A demanda de minério de ferro no principal comprador do mundo, a China, continua em risco devido a uma queda no setor imobiliário, que é intensivo em metais, embora isso tenha sido parcialmente compensado por alguns setores da indústria manufatureira, bem como pelo aumento das exportações de aço.

Leia mais: Vale vai apoiar fundo de private equity para projetos de minerais estratégicos

PUBLICIDADE

Os futuros do minério de ferro caíram quase 25% neste ano, já que a oferta supera a demanda.

“A recuperação econômica da China tem sido desigual, o que levou a um maior apoio do governo para sustentar o crescimento”, disse a Rio Tinto em seu relatório de produção.

“À medida que a economia faz a transição do setor imobiliário para novas áreas de crescimento, a demanda futura de commodities se tornará mais dependente de fabricação avançada, incluindo veículos elétricos e infraestrutura de energia.”

Apesar de recuperação recente após estímulos da China, preços futuros do minério de ferro acumulam queda de dois dígitos em 2024

As principais empresas de minério de ferro do mundo continuam a reforçar seus suprimentos, com suas operações de grande escala protegidas por custos por tonelada que permanecem muito abaixo dos níveis atuais à vista.

A BHP, o terceiro maior produtor global, divulga sua produção trimestral nesta quinta-feira (17).

A produção da Vale, que chegou a 91 milhões de toneladas no terceiro trimestre, superou a produção das minas da Rio Tinto na região de Pilbara, de 84,1 milhões de toneladas.

A anglo-australiana manteve o guidance (projeção) para o ano inteiro para o minério de ferro em uma faixa que vai de 323 milhões a 338 milhões de toneladas, enquanto a Vale disse que espera produzir entre 323 milhões e 330 milhões de toneladas em 2024.

PUBLICIDADE

“As pressões de custo em Pilbara continuam a ser um pequeno vento contrário” para a Rio Tinto, disseram analistas da Jefferies, incluindo Christopher LaFemina, em uma nota a clientes. O minério de ferro “deve ser um negócio enorme e subestimado para a Vale”, disse ele em uma nota separada.

As ações da Rio Tinto fecharam com queda de 1,06% em Sydney.

Medidas de apoio

O mercado de commodities observa atentamente o que a China fará para apoiar sua economia em desaceleração, com todos os olhos voltados para uma reunião do ministro da habitação na quinta-feira, que deve dar mais detalhes sobre os planos para enfrentar a queda no setor imobiliário.

A demanda de aço na China deve cair 3% neste ano, de acordo com a World Steel Association.

Enquanto isso, a produção de cobre da Rio Tinto no último trimestre teve queda de 1% em relação ao ano anterior, enquanto a produção de bauxita aumentou 8%, e a de alumínio caiu 2%.

A Rio Tinto disse que a “demanda reprimida” por cobre na China retornou no terceiro trimestre, uma vez que os fabricantes não compraram em meio aos altos preços do período anterior.

Leia mais: Por que a Rio Tinto decidiu apostar contra a China no mercado de lítio

“A demanda no resto do mundo foi mista, com um forte desempenho na Ásia desenvolvida compensado pela fraqueza na Europa”, disse a mineradora.

A Rio Tinto disse que tem aumentado a produção em seu portfólio tradicional de minério de ferro e cobre. Seu maior projeto é a mina de minério de ferro Simandou, na Guiné, que entregará a primeira carga no próximo ano e aumentará para 60 milhões de toneladas por ano logo em seguida.

A mineradora com sede em Londres também informou que seu projeto de minério de ferro Western Range, de US$ 2 bilhões, em Pilbara, está 80% concluído. A empresa tem realizado estudos de cinco outros projetos que acrescentariam mais 40 milhões de toneladas de suprimento.

O minério de ferro ainda responde por cerca de dois terços da receita da Rio Tinto, mas o grupo busca diversificar para outras commodities, incluindo o lítio. No início deste mês, anunciou a aquisição da Arcadium Lithium por US$ 6,7 bilhões, em seu retorno à negociação após mais de uma década.

- Com a colaboração de Jake Lloyd-Smith.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também

Vale antecipa mudança de CEO e Gustavo Pimenta assume comando em outubro

©2024 Bloomberg L.P.