Vale busca sinal verde para projeto de mineração de US$ 1,3 bi em Minas Gerais

Projeto Apolo, na Serra do Gandarela, busca aumentar a produção de minério de ferro, mas proximidade com parque nacional provoca críticas de moradores e ambientalistas

Vale supera las estimaciones de producción de hierro en un obstáculo para la subida de precios
Por Mariana Durão
15 de Julho, 2024 | 11:30 AM

Bloomberg — A Vale (VALE3) tenta aumentar sua produção de minério de ferro, reavivando os esforços para desenvolver uma mina controversa em uma região montanhosa de Minas Gerais, conhecida por abrigar florestas exuberantes e vida selvagem ameaçada de extinção.

A segunda maior produtora de minério de ferro do mundo aguarda a resposta das autoridades ambientais após a realização de audiências públicas no final de maio para seu projeto Apolo, que ficou parado por anos.

Os esforços renovados da Vale para retomar seu plano de US$ 1,3 bilhão já impulsionaram uma campanha nas redes sociais por parte de moradores locais e ambientalistas para impedir o desenvolvimento, localizado em uma área rica em biodiversidade próxima a um parque nacional.

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Único novo plano de mineração da Vale para o estado de Minas Gerais, o projeto Apolo é visto como fundamental para recompor a capacidade de minério de ferro da empresa na região. A mineradora pretende produzir 14 milhões de toneladas da matéria-prima siderúrgica por ano em Apolo.

A Vale espera obter uma licença de instalação no início de 2028 e iniciar as operações cerca de dois anos depois.

A pressão da Vale e a resistência local são outro exemplo do conflito entre as empresas de recursos naturais, comunidades locais e meio ambiente, no qual interesses opostos desencadeiam tensões que podem repercutir até os níveis de governo mais altos.

Empresas de mineração que vão desde gigantes como Rio Tinto e Barrick Gold até desenvolvedores como a Northern Dynasty e Gabriel Resources viram seus projetos serem adiados ou cancelados devido a preocupações ambientais.

O projeto fica em uma região onde a Vale tem suas minas mais antigas e não muito longe dos locais de dois desastres com barragens de rejeitos - em 2015 e 2019 - que mataram 291 pessoas, danificaram o meio ambiente e prejudicaram a posição da empresa sediada no Rio de Janeiro no mercado global de minério de ferro.

O Apolo fica na Serra do Gandarela, uma região montanhosa com florestas, espécies ameaçadas de extinção e rios cristalinos que fornecem água para Belo Horizonte. A maior parte do local foi transformado em um parque nacional protegido há uma década, mas o projeto proposto pela Vale ficou fora dos limites do parque.

A empresa tem veiculado anúncios na televisão e na internet para mostrar às pessoas como os minerais são essenciais na vida cotidiana. Apesar disso, a oposição da comunidade é forte.

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Os ambientalistas que protestam contra o Apolo temem que o projeto crie pilhas gigantescas de estéril de mineração (materiais escavados sem valor comercial) que podem ser levadas em caso de chuvas fortes.

Eles temem que as operações também ameacem o abastecimento de água de Belo Horizonte. O minério de ferro age como uma esponja, armazenando milhões de litros de água que alimentarão rios e nascentes ao longo de décadas, de acordo com Daniel Neri, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, especializado em impactos da mineração.

“A Serra do Gandarela é a caixa d’água natural para socorrer Belo Horizonte se houver uma crise hídrica”, disse Neri em uma entrevista. “Temos uma escolha a fazer: preservar a água ou enviar minério de ferro para a China.”

O Apolo inclui uma mina, uma usina de tratamento de minérios, pilhas de estéril, e um ramal ferroviário de 8 quilômetros para ligar a mina ao Porto de Tubarão.

Há três anos a Vale fez alterações no projeto para atender parte das preocupações locais, incluindo a eliminação do uso de uma barragem de rejeitos.

A empresa usará as tecnologias mais modernas para controlar a estabilidade e as emissões de poeira das pilhas de estéril de rocha que se acumularão gradualmente ao longo dos 29 anos de vida útil da mina, disse o diretor de licenciamento ambiental da Vale, Lauro Amorim, em uma entrevista.

A operação reduzirá os volumes de água nas áreas vizinhas, segundo o relatório de impacto ambiental da Vale, mas a empresa afirma que haverá reposição. A água também não será usada para processar o minério, portanto sua qualidade será preservada, de acordo com Amorim.

“Não vamos exaurir o aquífero”, disse ele.

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