Bloomberg Línea — Embora a Usiminas (USIM5) siga com foco nas vendas para o mercado brasileiro, a siderúrgica mineira prevê o aumento das exportações de produtos de valor agregado para projetos de óleo e gás na Argentina, disseram executivos nesta sexta-feira (14) em teleconferência com investidores e analistas.
“A Usiminas está focada no atendimento do mercado local, entendendo a Argentina como uma extensão do Brasil. Mas projetos de óleo e gás estão crescendo na região. Temos conseguido capitalizar e fechar o fornecimento de produtos para atender oleodutos e gasodutos na Argentina que começam a ser desenvolvidos”, disse o diretor vice-presidente comercial da companhia, Miguel Homes.
Segundo o executivo, a empresa tem conseguido atender principalmente os setores automotivo e de óleo e gás e energia renovável no país vizinho.
“A Usiminas tem tido um protagonismo importante na região. Além disso, a companhia está atenta a oportunidades de exportação para mercados não regionais a cada mês, mas logicamente a decisão de exportação depende da rentabilidade de cada negócio.”
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Homes acrescentou que o mercado internacional apresenta uma forte pressão de preços, principalmente devido ao aumento da oferta chinesa, não só de forma direta como indireta.
“Quando a China aumenta as exportações para mercados asiáticos, estes países direcionam produtos para Europa e Estados Unidos, que estão implementando medidas protecionistas”, afirma. “Nossas exportações estão focadas nos mercados regionais e na Argentina, principalmente.”
Para os executivos da Usiminas, a grande preocupação atualmente é o alto nível de importação dos últimos dois anos no Brasil, com crescimento acima de 50%. “A maioria em condições de concorrência desleal”, disse Homes.
De acordo com o CEO da Usiminas, Marcelo Chara, as recentes medidas adotadas pelo governo brasileiro para mitigar a entrada de aço importado não estão funcionando.
“Não é só a China, o Brasil tem baixa defesa para importação. Nós poderíamos estar produzindo a capacidade total, mas tem uma ‘Usiminas’ que entra no país todos os anos, fundamentalmente da China, e não só aço, mas produtos de toda a cadeia de valor”, afirmou.
O executivo ressaltou que o antidumping é uma medida “necessária” para o país. “Confiamos na capacidade da equipe do governo, que está analisando os dados. O dumping é muito evidente, se isso não acontecer o dano vai ser significativo no parque industrial.”
Sobre o anúncio de imposto de importação de 25% para o aço nos Estados Unidos, Homes disse que menos de 2% das exportações da Usiminas é destinada ao mercado norte-americano.
“O impacto direto [da medida] é muito baixo. Ainda é cedo para entender os efeitos no mercado de placas [de aço], tanto a nível local quanto internacional. Vamos aguardar as potenciais negociações que, sem dúvida, vão acontecer entre Brasil e Estados Unidos.”
Impacto cambial
Em 2024, a Usiminas registrou um lucro líquido de R$ 3 milhões, ante R$ 1,64 bilhão no ano anterior, resultado impactado pelas perdas cambiais, conforme informou a companhia. No quarto trimestre, a empresa reportou prejuízo de R$ 117 milhões, revertendo lucro de R$ 975 milhões um ano antes.
No período, a receita líquida alcançou R$ 25,8 bilhões, queda de 6% sobre o ano anterior, decorrente dos menores preços praticados na venda de aço. No negócio de mineração, a retração dos preços do minério de ferro impactou o resultado, destacou a Usiminas.
Já a geração de caixa operacional medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda ajustado) atingiu R$ 1,6 bilhão em 2024, queda de 8,3% sobre o ano anterior, com impacto concentrado principalmente na unidade de mineração.
Ainda nesta sexta-feira, a Usiminas atualizou em fato relevante sua projeção para investimentos (capex) em 2025, para um intervalo entre R$ 1,4 bilhão e R$ 1,6 bilhão.
Apesar da expectativa positiva para os setores automotivo, de construção e linha branca, Chara afirmou que o ciclo de aperto monetário, com alta da taxa de juros, deve gerar uma desaceleração do crescimento no decorrer do ano.
“O contexto interno desafiador e a instabilidade do comércio internacional tornam urgente a adoção de defesas comerciais para produtos subsidiados, que reduzem a competitividade. Precisamos de medidas mais fortes.”
O executivo esclareceu que o dólar valorizado melhora a competitividade nas exportações, mas gera impactos nos preços, já que quase 70% dos custos da companhia são dolarizados.
“Quando temos o real desvalorizado, a empresa acaba repassando custos”, disse. “No curto prazo, isso gera alguma necessidade de acomodação dos preços. O câmbio é um tema transitório para nós. Queremos ser competitivos em qualquer cenário de dólar.”
Analistas do Goldman Sachs escreveram em relatório nesta sexta-feira que a lucratividade do aço da Usiminas “tem ficado para trás devido a anos de subinvestimento e governança e estratégia pouco claras”.
Eles acrescentaram que a expectativa era a de que, com a Ternium controlando a empresa e após uma grande reforma de seu alto-forno principal, a Usiminas melhorasse a lucratividade para acima de sua média histórica de US$ 100 por tonelada. “Mas a melhora operacional tem sido lenta e fica aquém das expectativas”, afirmaram no relatório.
Chara disse que a Usiminas segue focada nos ganhos de eficiência. “Temos uma série de iniciativas com foco no aumento da competitividade em qualquer cenário de câmbio, na redução do consumo de combustível e na eficiência na organização do trabalho.”
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