UBS: investment banking impulsiona resultado, mas regulação é risco no radar

Uma regulamentação suíça mais rígida, que será elaborada nos próximos dois anos, pode significar exigências de capital muito maiores ao banco

Sergio Ermotti, chief executive officer of UBS Group AG, during a Bloomberg Television interview in Zurich, Switzerland, on Tuesday, Feb. 6, 2024
Por Myriam Balezou - Jan-Henrik Förster
14 de Agosto, 2024 | 09:26 AM

Bloomberg — O UBS registrou um lucro maior do que o esperado no segundo trimestre, uma vez que a receita de investment banking e o avanço na integração do Credit Suisse ajudaram os esforços do CEO Sergio Ermotti para devolver capital aos acionistas.

O banco sediado em Zurique informou que o lucro líquido foi de US$ 1,1 bilhão, aproximadamente o dobro das estimativas dos analistas.

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O crescimento da receita de trading no investment banking superou muitos pares de Wall Street, enquanto uma perda menor do que a esperada na unidade dedicada à liquidação dos ativos herdados do Credit Suisse ajudou a compensar gastos maiores com advisors na divisão de wealth management.

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Um ano após a conclusão da aquisição do Credit Suisse, o UBS está no caminho certo para atingir os níveis de lucratividade anteriores à fusão e planeja recomprar cerca de US$ 1 bilhão em ações este ano.

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No entanto, uma regulamentação suíça mais rígida, que será elaborada nos próximos dois anos, pode significar exigências de capital muito maiores, levando os analistas a questionarem se o banco terá que reduzir seus pagamentos.

“Não acho que isso vá acontecer”, disse Ermotti em entrevista à Bloomberg TV. “Descobriremos provavelmente no final deste ano, no início de 2025, a direção esperada. Então, poderemos fazer uma decisão.”

Ermotti disse que o banco entrou em discussões técnicas com o governo e com os órgãos reguladores sobre os planos para reformular as regras da Suíça em relação ao capital e à liquidez dos bancos.

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A reformulação é uma das consequências políticas do colapso do Credit Suisse no ano passado. Apesar de ter sido chamado para resgatar seu antigo rival, o banco está agora na mira devido ao seu maior tamanho e relevância sistêmica.

O banco agora está na mira dos reguladores devido ao seu maior tamanho e relevância sistêmica

O parlamento suíço deverá divulgar sua investigação sobre a crise do Credit Suisse no final do ano, o que contribuirá para a elaboração de novos decretos e legislação que regem o capital.

O UBS, em particular, enfrenta exigências muito maiores para garantir o capital de suas subsidiárias no exterior, sendo que algumas estimativas apontam para um aumento de até US$ 25 bilhões.

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De modo geral, os analistas consideraram os resultados sólidos, embora o Deutsche Bank tenha observado que a incerteza em torno dos planos de retorno de capital continua alta.

Cenário macro

Para o conexto macroeconômico, o UBS disse que vê um “sentimento positivo dos investidores” no terceiro trimestre e um impulso contínuo nas transações dos clientes.

A expectativa é de que as eleições nos EUA e as tensões geopolíticas levem a uma maior volatilidade do mercado no segundo semestre do ano, disse o banco. Segundo o UBS, taxas de juros mais baixas e mudanças na carteira de clientes podem reduzir a receita de juros.

Ermotti disse que o selloff nos mercados globais na semana passada foi um sinal de fragilidade contínua, e os investidores devem prestar atenção à diversificação.

Na integração, o UBS disse ter conseguido uma redução de 42% nos ativos do Credit Suisse marcados para liquidação desde o segundo trimestre do ano passado, e US$ 8 bilhões apenas no último trimestre.

Wealth management

A unidade de wealth management registrou um fluxo de entrada de clientes de US$ 27 bilhões, mantendo o ritmo do primeiro trimestre, embora os custos de remuneração mais elevados para os advisors tenham feito com que o lucro antes dos impostos ficasse abaixo das expectativas, em US$ 871 milhões. A divisão é responsável por cerca de metade da receita do UBS.

Recentemente, o UBS reorganizou seu braço de gestão de patrimônio em uma nova unidade que reúne suas diversas ofertas de wealth sob o mesmo teto.

O banco também reformulou sua estrutura de liderança, nomeando Robert Karofsky, chefe do investment banking, para dirigir seus negócios nos EUA e supervisionar conjuntamente a área de patrimônio com Iqbal Khan. Khan também foi nomeado presidente da região Ásia-Pacífico.

A área de investment banking superou as expectativas, registrando um lucro de US$ 477 milhões antes dos impostos no trimestre, impulsionada por receitas mais altas nos mercados globais e nos negócios bancários globais.

A receita de consultoria foi 23% maior em relação ao ano anterior, e o resultado subjacente dos mercados de capitais aumentou 82%, sem incluir um ajuste relacionado à fusão. É provável que os traders do banco continuem a lucrar com os clientes que mudam seus portfólios em meio à contínua volatilidade do mercado.

No terceiro trimestre, o banco disse que esperava contabilizar cerca de US$ 1,1 bilhão em despesas relacionadas à integração, enquanto o ritmo de economia de custos diminuirá modestamente, disse.

Em junho, o banco ofereceu aos investidores dos fundos do Credit Suisse ligados ao colapso da Greensill Capital um acordo pelo qual eles receberiam 90% do valor do fundo antes de seu fechamento.

O banco disse nesta quarta-feira (14) que 92% dos investidores aproveitaram a oferta, ajudando a encerrar outra questão herdada da aquisição.

O UBS continua a reduzir o número de funcionários à medida que funde os dois bancos globais. O número total de funcionários caiu em mais de 3.500 no trimestre, levando a força de trabalho para cerca de 133.000.

O índice CET1 do banco, uma medida fundamental da solidez do capital, ficou em 14,9% no final do trimestre.

- Com a colaboração de Levin Stamm e Leonard Kehnscherper.

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