UBS BB se diz cauteloso com ação da Embraer: ‘mercado está otimista demais’

Analistas do banco de investimento rebaixam recomendação de ‘neutra’ para ‘venda’ em relatório que questiona precificação consensual do mercado sobre entregas nos próximos anos

Unidade da Embraer em Gavião Peixoto, no interior do estado de São Paulo (Foto: Victor Moriyama/Bloomberg)
20 de Novembro, 2024 | 10:36 AM

Bloomberg Línea — A Embraer (EMBR3) tem sido um raro destaque da bolsa brasileira neste ano diante dos resultados operacionais e financeiros, mas “subir a barra” das expectativas para 2025 será desafiador.

Uma avaliação mais cautelosa consta de um relatório divulgado nesta semana por analistas do UBS BB, joint venture entre o UBS e o Banco do Brasil para investment banking na América Latina. A instituição financeira rebaixou a recomendação para o papel da fabricante de aeronaves de “neutra” para “venda”.

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“Achamos que o mercado está otimista demais”, escreveram os analistas Alberto Valério, Rafael Simonetti e Andressa Varotto.

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As ações da Embraer acumulam alta superior a 140% desde o início do ano. É o maior ganho acumulado por uma companhia integrante do Ibovespa em 2024.

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Apesar da recomendação de venda, o UBS BB elevou o preço-alvo da ADR de US$ 29 para US$ 32. Para a ação na B3, a recomendação é vender o papel com um preço-alvo de R$ 46,50.

A ação caiu 2,19% para R$ 54,44. A máxima das últimas 52 semanas foi de R$ 57,28.

O rebaixamento do UBS BB ocorre dez dias após a companhia de São José dos Campos reduzir seu guidance (projeção) para as entregas da aviação comercial em 2024 A estimativa passou de uma faixa de 72 a 80 para 70 a 73 aeronaves. No acumulado do ano, até setembro, foram entregues 42 unidades.

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Por outro lado, a Embraer elevou duas estimativas do ano: margem EBIT ajustada (de 6,5% a 7,5% para 9% a 10%) e fluxo de caixa livre (de US$ 220 milhões ou maior para US$ 300 milhões ou acima). A carteira de pedidos terminou o terceiro trimestre no patamar recorde de nove anos (US$ 22,7 bilhões).

Os analistas do UBS BB disseram entender que o mercado está precificando opções de entregas que podem não se materializar, incluindo altas expectativas de entregas comerciais, margens e pedidos.

Eles projetam 80 entregas da aviação comercial em 2025, abaixo dos cerca 90 esperados pelo consenso do mercado. Eles também estão mais cautelosos com a estimativa de margens da companhia no ano que vem: preveem 2%, ante 4,5% indicado pela mediana das outras instituições.

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As projeções mais contidas se repetem para o desempenho do segmento de defesa da Embraer. Enquanto o consenso aponta para receitas de US$ 900 milhões em 2025, o UBS BB espera valor menor, US$ 750 milhões.

Os analistas também divergem da visão potencial de parte do mercado de que a Embraer possa se firmar como a terceira empresa para aeronaves de mais de 150 assentos - algo que a direção colocou como uma possibilidade ainda no campo de estudos.

“Acreditamos que o ambiente competitivo é desfavorável para a Embraer, pois o Brasil e outros locais da América Latina não podem fornecer vantagens competitivas para seus projetos”, escreveram.

Para a equipe do UBS BB, alguns investidores estrangeiros enxergam potencial da Embraer de disputar o mercado com a Airbus e Boeing no mercado de aeronaves de fuselagem estreita.

“Embora pensemos que isso seja possível, não achamos que seja provável. Requisitos de capex, balanço patrimonial e cadeia de suprimentos são as principais barreiras para a Embraer”, justificam os analistas, céticos quanto à capacidade da Embraer.

Por outro lado, um novo relatório do Santander reiterou classificação de “outperform” para as ações da Embraer, com preço-alvo de US$ 48.

Os analistas Lucas Barbosa, Lucas Esteves e Gabriel Tinem escreveram que saíram com otimismo renovado na companhia após o Investor Day realizado na última segunda-feira (18).

“Em aviação comercial, a administração abordou os problemas atuais da cadeia de suprimentos, ao mesmo tempo em que expressou seu otimismo com a potencial expansão da empresa no mercado asiático de jatos regionais”, apontaram.

“No negócio de jatos, uma mudança no comportamento do consumidor e na demografia deve sustentar uma forte demanda, preços e margens daqui para frente”, destacou o trio de analistas.

Eles também mencionaram que, no segmento de defesa, o principal destaque das perspectivas indicadas pela Embraer no evento foi a menção de conversas avançadas com os EUA para uma potencial venda do avião de transporte C-390 Millennium.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.