Bloomberg — A americana Uber Technologies (UBER) decidiu se unir à chinesa BYD para colocar 100.000 veículos elétricos em sua plataforma líder em mobilidade urbana, em um grande acordo raro entre gigantes corporativas das duas maiores economias do mundo, que estão em “pé de guerra” pela primazia tech.
O acordo anunciado nesta quarta-feira (31) prevê que as duas empresas globais vão oferecer aos motoristas preços mais baixos para os veículos, incluindo condições de financiamento.
A parceria começará na Europa e na América Latina e depois se expandirá para o Oriente Médio, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia, disseram a Uber e a BYD em comunicado.
A aliança reforça os esforços da Uber para ser protagonista na transição da frota de carros à combustão para veículos elétricos - uma iniciativa que mereceu alerta do CEO, Dara Khosrowshahi, no início deste ano relacionado à avaliação de que estava saindo dos trilhos.
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Representa também um grande impulso para a BYD, que tem sido uma das montadoras de crescimento mais rápido do mundo nos últimos anos e que assumiu no fim de 2023 a liderança nas vendas de modelos elétricos, desbancando a Tesla, de Elon Musk.
A expansão foi impulsionada, em grande parte, pela ascensão no enorme mercado de automóveis da China. A empresa agora acelera um plano ambicioso de expansão no exterior para países onde sua marca está menos estabelecida, o que inclui mercados importantes como Brasil e Alemanha.
“Estamos ansiosos para ver nossos veículos elétricos de última geração se tornarem uma visão comum nas ruas das cidades de todo o mundo”, disse Stella Li, vice-presidente executiva da BYD e diretora executiva da BYD America.
A parceria vai de encontro às crescentes tensões entre Washington e Pequim sobre o futuro da indústria automotiva.
A China construiu uma liderança formidável em baterias e na cadeia de suprimentos de veículos elétricos, e os EUA têm tentado contrabalançar esse domínio com uma combinação de tarifas punitivas e dezenas de bilhões de dólares em créditos fiscais para empresas e consumidores no seu mercado doméstico.
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A Uber e a BYD não fazem menção aos Estados Unidos em sua declaração, provavelmente porque o mercado americano está praticamente fechado para a montadora chinesa.
O presidente Joe Biden prometeu aumentar as tarifas sobre os veículos elétricos chineses para 102,5% neste ano, elevando uma taxa que o ex-presidente Donald Trump aumentou para 27,5% durante seus quatro anos na Casa Branca.
Desde então, a União Europeia e países como o Canadá seguiram o exemplo e adotaram ou disseram publicamente considerar tarifas mais altas sobre as importações chinesas de veículos elétricos. Tais medidas podem dificultar ainda mais o objetivo da Uber de que 100% de suas viagens em cidades americanas, canadenses e europeias sejam feitas em veículos elétricos até 2030.
Um dos desafios da empresa líder em mobilidade tem sido a escassez de veículos elétricos acessíveis, de longo alcance e relativamente espaçosos para competir com os carros híbridos de baixo custo movidos também a motor de combustão e que são populares entre os motoristas da plataforma, como o Toyota Prius.
A BYD tem feito um esforço concentrado fora de seu mercado doméstico, com uma nova fábrica na Tailândia já em funcionamento e planos para outras no Brasil, na Hungria e na Turquia.
Em fevereiro, a empresa concordou em fornecer carros para a Vemo, uma startup com sede na Cidade do México que oferece táxis elétricos por meio do aplicativo da Uber.
A empresa também foi uma das principais patrocinadoras da Euro 2024 e da Copa América - os dois principais torneios continentais de futebol - nestes meses de junho e julho, em plano para aumentar o reconhecimento da marca na Europa e nas Américas.
Barreiras para veículos elétricos
Pesquisas recentes mostraram que o preço dos veículos elétricos e a disponibilidade de financiamento continuam sendo as principais barreiras para que os motoristas deixem de usar carros movidos a gasolina, disseram as empresas.
Os veículos da BYD têm custos mais baixos de manutenção e reparo e são adequados para o compartilhamento de viagens devido à ampla gama de modelos, disseram.
O acordo também pode incluir descontos em carregamento, manutenção de veículos, seguro e ofertas de aluguel e financiamento.
Há alguns anos, a Uber se uniu à empresa americana de aluguel de carros Hertz Global para oferecer vantagens aos motoristas que alugam Teslas, embora a Hertz tenha recentemente vendido grande parte de sua frota de veículos elétricos, como parte de um amplo recuo nessa estratégia.
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A empresa de aplicativo de transporte também fez parcerias com fornecedores de redes de recarga, como a EVgo e a Revel Transit, para oferecer descontos a seus motoristas. Em Londres, a Uber se comprometeu a investir £ 5 milhões (US$ 6,4 milhões) em carregadores públicos de veículos elétricos.
A Uber ainda tem um longo caminho a percorrer para fazer a transição completa de seus milhões de motoristas para os veículos elétricos.
No final do primeiro trimestre, a Uber informou que 8,2% das milhas das viagens compartilhadas nos EUA e no Canadá e 9% das milhas na Europa haviam realizadas em veículos com emissão zero de carbono.
Em sua declaração conjunta, a Uber também elogiou as capacidades de condução automatizada dos veículos da BYD, e as duas empresas disseram que estão bem posicionadas para ampliar a capacidade de condução autônoma no futuro.
Atualmente, a Uber trabalha com a Waymo, da Alphabet (GOOGL), para oferecer viagens autônomas em Phoenix e oferece entregas autônomas em algumas partes dos EUA e em Tóquio, no Japão.
As ações da Uber e de sua principal concorrente, a Lyft, subiram depois que a Bloomberg News informou, no início deste mês, que a Tesla havia adiado a revelação de um “robôtaxi” em desenvolvimento.
A longo prazo, a Tesla (TSLA) planeja operar um aplicativo próprio de carona com uma frota de carros sem motorista, o que poderia representar uma ameaça ao modelo de negócios da Uber.
-- Com a ajuda de Ed Ludlow e Danny Lee.
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