Bloomberg Línea — O banco digital argentino Ualá está em busca de novas licenças bancárias para expandir suas operações para outros países da América Latina, disse seu fundador e CEO, Pierpaolo Barbieri.
“Acreditamos que há muito mais a fazer e buscamos oportunidades tanto no México para continuar expandindo nossos negócios quanto para continuar crescendo no restante da região”, disse Barbieri em entrevista para o podcast La Estrategia del Día, da Bloomberg Línea, com Jimena Tolama.
Quando questionado sobre se o Brasil é um dos mercados que está interessado em explorar, Barbieri disse que o país tem muitas oportunidades, embora haja outros “muito mais esquecidos” que, para ele, são “muito mais interessantes”.
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O empreendedor disse que seu foco atual é o México, a segunda maior economia da região, onde o Ualá desembarcou em 2020 em meio à pandemia de covid-19 e se tornou a primeira empresa de serviços financeiros digitais a fazer isso por meio da compra de um banco.
A fintech havia sido fundada na Argentina três anos antes, em 2017. E também opera na Colômbia, onde realizou incursões no final de 2022.
A Ualá tem licenças bancárias no México e na Argentina, após a compra da ABC Capital e do Wilobank, respectivamente, enquanto na Colômbia recebeu uma licença para operar como uma empresa de financiamento.
Barbieri disse que obter essas autorizações ao entrar em um mercado é o caminho a ser seguido para oferecer a mais ampla gama de produtos e serviços, bem como para evitar problemas como a migração de usuários, caso eles tenham mudado de uma figura regulatória para outra ao longo do tempo.
Outros concorrentes, como o Nubank e o Mercado Pago, atualmente aguardam autorização de licenciamento para passar de outras formas de regulação para bancos comerciais.
Para o empresário e historiador econômico, a rodada de investimentos Série E de US$ 300 milhões que a Ualá fechou em novembro de 2024 valida essa estratégia.
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A captação foi liderada pelo Allianz X, o braço de investimento do Grupo Allianz, e contou com investidores já presentes no cap table, como Stone Ridge Holdings, Tencent, Pershing Square Foundation, Ribbit Capital, Goldman Sachs Asset, Soros Fund, SoftBank e Claure Group.
Na ocasião, a empresa divulgou um valuation de US$ 2,75 bilhões e alguns números da operação: mais de 8 milhões de usuários, mais de 7 milhões de empréstimos já concedidos e mais de 17% da população argentina com uma conta sua.
Seguir o caminho de buscar a licença também ajudou a Ualá a ser bem recebido pela Associação de Bancos do México (ABM), o grupo que representa os 50 bancos nacionais e estrangeiros que operam no país.
Esse grupo, em várias ocasiões, se posicionou a favor de um “jogo nivelado” em termos de regulamentação entre essas entidades e as fintechs.
“Fizemos todo o processo como deveríamos. Outros players fingem que são bancos mas não são. Nós somos bancos e fizemos o processo regulatório, fizemos o processo de capitalização e fizemos o processo de lançamento de produtos conforme exigido pela regulamentação”, disse Barbieri.
Expansão no México
Para entrar no mercado mexicano, a Ualá deu seus primeiros passos em parceria com a fintech UnDosTres.
Mas, quando a startup não obteve a aprovação para operar como uma Instituição de Fundo de Pagamento Eletrônico, figura contemplada pela Lei de Fintech mexicana, a empresa argentina optou por comprar o ABC Capital - um banco problemático que se concentrava no financiamento de pessoas físicas e jurídicas ligadas ao setor de construção, bem como na gestão de carteiras hipotecárias.
O processo foi concluído em 2023.
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Como parte da aquisição, a Ualá se comprometeu a “limpar” a carteira de empréstimos inadimplentes, um processo que Barbieri espera que seja concluído até 2025.
Com a transição, os números da Ualá junto à Comissão Nacional Bancária e de Valores (CNBV) em dezembro de 2024 mostram uma carteira total de 571 milhões de pesos mexicanos (US$ 28 milhões), com um índice de NPL (inadimplência) de 22,73% e um prejuízo líquido de 1,17 bilhão de pesos mexicanos (US$ 57,2 milhões).
O índice de NPL do sistema bancário mexicano, de acordo com a CNBV, é de 2,02%; Barbieri ressaltou que os números relatados ainda não refletem 100% do desempenho da nova instituição financeira.
“A taxa de inadimplência é uma fração muito menor do que era em uma carteira legada de imóveis que estamos terminando de liquidar.”

A Ualá tem dois milhões de clientes no México, e Barbieri planeja chegar a 10 milhões nos próximos anos. “Temos o capital, temos a licença, temos os serviços e, o mais importante, temos a equipe para fazer isso.”
O empresário já disse em ocasiões anteriores que o país poderia se tornar seu maior mercado nos próximos anos.
Atrair o usuário mexicano em um momento em que tanto os bancos tradicionais quanto os novos players estão em busca de uma fatia de um mercado ainda “desbancarizado”, segundo sua perspectiva, tem a ver com a remoção de taxas sobre operações como depósito de dinheiro ou pagamento de serviços, que ele classifica como um “imposto sobre a digitalização”.
Caminho para a lucratividade
Como no caso de outros novos bancos digitais, um dos grandes desafios da Ualá é chegar ao estágio de lucratividade. A empresa atingiu essa meta na Argentina em 2024, sete anos após seu lançamento.
Barbieri estimou que a lucratividade no México será alcançada até 2026, mas disse que os investidores de hoje estão “mais preocupados em ganhar o [mercado do] México do que em ser lucrativos amanhã”.
Por essa razão, estão sendo agressivos na expansão do mercado. Ainda assim, ele disse que alcançar a lucratividade levará menos de sete anos, enquanto em nível consolidado acontecerá mais cedo.
O empresário argentino também apontou para uma eventual abertura de capital no futuro, mas ressaltou que isso não está entre as prioridades da empresa.
“Nosso foco é a excelência do produto. Ir ao mercado de ações muito cedo faz com que você priorize as coisas de um trimestre para o outro.”
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