Petrobras: transição para renováveis exige cautela com dividendos, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg News, Jean Paul Prates disse que a estatal se prepara para fazer aquisições já neste ano para crescer em fontes renováveis de energia

O CEO da Petrobras Jean Paul Prates
Por Mariana Durão - Peter Millard
28 de Fevereiro, 2024 | 02:22 PM

Bloomberg — A maior empresa petrolífera da América Latina deve ser mais cautelosa em relação à distribuição de dividendos bilionários à medida que busca se tornar uma potência em energia renovável, disse o presidente executivo (CEO) da Petrobras (PETR3; PETR4), Jean Paul Prates, em uma entrevista à Bloomberg News.

Em dez anos, cerca de metade da receita da Petrobras virá de fontes de energia eólica, solar e de combustíveis renováveis – e a empresa está se preparando para fazer aquisições já neste ano para impulsionar essa mudança, disse Prates.

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A produtora brasileira também precisa gastar muito em exploração no país e no exterior para garantir que continue a bombear petróleo bruto por décadas.

“Precisamos ser cautelosos. Os acionistas vão entender”, disse Prates no escritório da Bloomberg News em São Paulo quando perguntado sobre um eventual pagamento extraordinário de dividendos. “Eu seria mais conservador do que agressivo. Estamos no meio dessa grande decisão de nos tornarmos uma empresa de petróleo em transição.”

Analistas veem espaço para que a Petrobras recompense investidores com bilhões de dólares em dividendos extraordinários, a serem anunciados quando a empresa divulgar seus resultados em 7 de março.

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O Citi (C) vê espaço para o pagamento de até US$ 7 bilhões, enquanto o Goldman Sachs (GS) prevê até US$ 8 bilhões. A Petrobras foi a segunda maior pagadora de dividendos no setor de petróleo em 2022, atrás apenas da Saudi Aramco.

A determinação da Petrobras em avançar para a energia limpa contrasta com a estratégia de alguns de seus pares internacionais. Os “pesos pesados” europeus Shell e BP se afastaram das energias renováveis para se concentrar mais nos combustíveis fósseis.

As grandes petrolíferas norte-americanas Chevron e Exxon Mobil, por sua vez, nunca fizeram da energia eólica e solar uma prioridade e concentraram seus planos de negócios em petróleo e gás.

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Foco em energia renovável

O executivo de 55 anos, que assumiu o comando da Petrobras em janeiro de 2023, descartou a possibilidade de fazer “mudanças drásticas” na estratégia da companhia. No entanto, disse que a empresa precisa estar preparada para oportunidades de aquisição em energias renováveis e petróleo, bem como investimentos em petroquímica e produção de fertilizantes.

A Petrobras pensa em investir em projetos eólicos e solares em terra firme no Brasil antes de passar para a energia eólica offshore. E está ampliando o combustível à base vegetal para a aviação e o transporte marítimo, dois dos setores mais difíceis de descarbonizar.

Prates disse que o Brasil tem melhores condições para projetos eólicos offshore do que os EUA ou os países do Mar do Norte e que o desenvolvimento do setor proporcionará uma nova linha de negócios para os mesmos tipos de prestadores de serviços que o país utiliza para projetos de petróleo.

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Uma de suas principais preocupações é que o Brasil não terá fornecedores suficientes para seus projetos de petróleo à medida que o mundo começar a se afastar dos hidrocarbonetos.

“A coisa mais assustadora que vejo em 10 anos é uma crise com fornecedores”,

Jean Paul Prates

Como resultado, a Petrobras está conversando com o governo sobre uma política industrial para apoiar fornecedores de equipamentos e estaleiros no Brasil. A empresa também está identificando maneiras de obter bens e serviços importantes de países vizinhos e aliados geopolíticos.

Um dos principais pilares da política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um amplo plano de reindustrialização que fornecerá crédito e financiamento a setores como saúde, defesa e agronegócio, além de iniciativas para promover uma transição verde no Brasil.

Prates disse que a Petrobras, como uma empresa de controle estatal, precisa participar das decisões de política energética com o governo. Mas essa coordenação não significa que o governo esteja interferindo na estratégia de negócios da empresa, disse ele.

“Considero isso mais como um prêmio do que como um fardo”, disse Prates. “Quem é o outro CEO no Brasil que pode estar com o presidente da República a cada 15 dias? Isso resolve uma série de problemas.”

A Petrobras também está em negociações com a Mubadala Capital, o braço de investimentos do fundo soberano de Abu Dhabi, para se tornar sócia de uma refinaria que a estatal vendeu na gestão anterior.

Os dois lados podem chegar a um acordo até o final do ano, disse Prates. Ele acrescentou que as refinarias da Petrobras não foram projetadas para competir umas com as outras e que a unidade enfrenta dificuldades desde que foi vendida.

A Mubadala Capital está expandindo a refinaria de Mataripe, no estado da Bahia, para produzir combustíveis renováveis, um projeto que interessa à Petrobras. Prates disse que a estatal não necessariamente operaria a refinaria e que ela poderia ser dividida em algumas empresas separadas.

“Gostaríamos de participar disso. Eles nos convidaram”, disse Prates. “Seremos capazes de reincorporar a refinaria ao sistema.”

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