Tesla está prestes a perder a liderança mundial em carros elétricos para a BYD

Rivalidade entre montadoras também envolve estilos diferentes de comando entre Elon Musk, o homem mais rico do mundo, e o chinês ‘low profile’ Wang Chuanfu

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Por Danny Lee
28 de Dezembro, 2023 | 01:15 PM

Bloomberg — A chinesa BYD se autointitula a maior marca de carros da qual você nunca ouviu falar. Agora, ela pode precisar de um novo slogan publicitário.

A montadora está prestes a superar a Tesla como nova líder mundial em volume de vendas de veículos totalmente elétricos. Quando isso acontecer - provavelmente neste quarto trimestre de 2023 -, será um ponto de inflexão simbólico tanto para o mercado de veículos elétricos quanto para a importância crescente da China na indústria automotiva global.

Em um setor ainda dominado por nomes tradicionais como Toyota, Volkswagen e General Motors, fabricantes chinesas como BYD e SAIC Motor avançam rapidamente.

Depois de ultrapassar EUA, Coreia do Sul e Alemanha nos últimos anos, a China agora rivaliza com o Japão na liderança mundial de exportações de carros de passeio. E cerca de 1,3 milhão dos 3,6 milhões de veículos exportados pela China em outubro deste ano era elétrico.

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“O cenário competitivo da indústria automobilística mudou”, disse Bridget McCarthy, chefe de operações na China da Snow Bull Capital, com sede em Shenzhen, que investiu em ações da BYD e da Tesla.

“Não se trata mais do tamanho e da tradição das empresas automobilísticas; trata-se da velocidade com que elas conseguem inovar continuamente. A BYD começou a se preparar há muito tempo para conseguir fazer isso mais rápido do que se pensava ser possível, e agora o resto da indústria precisa correr atrás para alcançá-la.”

O avanço da montadora chinesas também reflete a dinâmica competitiva entre Elon Musk, fundador e CEO da Tesla e pessoa mais rica do mundo, e o fundador bilionário da BYD, Wang Chuanfu.

Enquanto Musk reclama que muitos consumidores não conseguem comprar seus veículos elétricos com juros tão elevados, Wang permanece firme na ofensiva. Sua empresa oferece vários modelos que custam muito menos do que o que a Tesla cobra por seu sedã Model 3, o mais acessível na China.

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Em maio deste ano, quando um clube de donos de carros Tesla compartilhou um vídeo em que Musk ria dos veículos da BYD durante uma entrevista à Bloomberg TV em 2011, Musk respondeu que os veículos da BYD são “altamente competitivos atualmente”.

Mas Wang enfrenta desafios para repetir no exterior seu grande sucesso no mercado doméstico chinês.

A Europa parece disposta a se juntar aos EUA na imposição de tarifas mais elevadas às importações de automóveis chineses para proteger milhares de empregos. Os mercados de veículos elétricos de outras partes do mundo ainda estão nos primórdios e não são tão lucrativos.

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Estilos diferentes

Wang é bem diferente de Musk. Ele evita as redes sociais e os holofotes. Mas em um discurso semanas antes de a União Europeia abrir uma investigação sobre a forma como a China subsidiou sua indústria de veículos elétricos, Wang declarou que tinha chegado o momento de as marcas chinesas “derrubarem as velhas lendas” do mundo automotivo.

Embora muitos compradores de carros fora da China ainda tenham apenas uma vaga consciência da marca BYD, o bilionário americano Warren Buffett conhece bem a montadora.

Em 2008, sua gigante de investimentos Berkshire Hathaway pagou cerca de US$ 230 milhões por uma participação de quase 10% na fabricante de veículos chinesa. Quando a Berkshire começou a realizar lucros e vender uma fração da participação no ano passado, as ações da BYD estavam perto de uma máxima histórica e o valor da fatia havia aumentado cerca de 35 vezes, para cerca de US$ 8 bilhões.

Por enquanto, a Tesla ainda supera a BYD nas principais métricas, incluindo receita, lucros e valor de mercado. Mas os analistas da Bernstein estimam que a diferença diminua consideravelmente no próximo ano. Eles preveem que a Tesla obterá US$ 114 bilhões em vendas, contra US$ 112 bilhões da BYD.

Quando a Bloomberg News perguntou a Wang, em março, se a BYD tinha aspirações de ser tão grande quanto a Toyota, que em 2023 será a marca mais vendida do mundo pelo quarto ano consecutivo, ele disse que o desenvolvimento da indústria de veículos elétricos levará a uma reviravolta na indústria.

“O desempenho de uma empresa automotiva dependerá de sua tecnologia e resposta”, disse ele. “A BYD é a vencedora na eletrificação na China por enquanto, mas como será amanhã não podemos dizer com certeza. Mas aproveitaremos nossas vantagens e continuaremos fabricando bons produtos.”

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