SVB busca atrair de volta startups em LatAm após colapso, diz líder global

Andy Tsao, executivo à frente de mercados internacionais, diz à Bloomberg Línea que o banco procura um líder para negócios com empresas na região e que vê o retorno de parte dos recursos

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Bloomberg Línea — Oito meses depois do colapso do Silicon Valley Bank (SVB), que desencadeou uma crise no setor de bancos de médio porte nos Estados Unidos, os atuais administradores da instituição financeira estão em busca de recuperar clientes da América Latina e procuram um executivo para liderar os negócios com empresas da região, disse Andy Tsao, managing director e líder do SVB para mercados internacionais.

“Estamos trabalhando duro para que nossos clientes, fundadores, investidores e parceiros saibam que o SVB está de volta - ‘Sim, o SVB’ -, operando da mesma forma que fazíamos há muitos anos”, disse Tsao à Bloomberg Línea, em respostas enviadas por e-mail.

Nos últimos dias, o SVB abriu uma vaga para vice-presidente de desenvolvimento de negócios focado em startups para a América Latina, com base em Miami, na região de São Francisco ou em Nova York.

Tsao disse que a decisão de expandir a equipe se deve à grande quantidade de clientes da região, ainda que “as condições de mercado na América Latina tenham sido difíceis neste ano”.

Antes de entrar em crise, o SVB era um dos bancos preferidos - se não o líder - de investidores de venture capital do Vale do Silício e de startups financiadas por eles, incluindo empresas da América Latina.

Mas preocupações com a saúde financeira da instituição levaram a uma corrida bancária, o que provocou a quebra do banco e a tomada do controle pelo FDIC, equivalente ao Fundo Garantidor de Crédito no Brasil. No final de março, o SVB foi adquirido e virou uma divisão do banco regional First Citizens.

Passada a fase mais aguda de sua crise, a nova gestão do banco agora busca recuperar os recursos dos clientes antigos, em especial da América Latina.

O executivo reconheceu que os eventos ocorridos em março afetaram a posição do SVB na região, levando a uma transferência de fundos. A fintech Brex, fundada no Vale do Silício pelos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, foi uma das que mais se beneficiaram.

No entanto, segundo Tsao, não houve fechamento de contas e, agora, esses clientes estão voltando.

“Agora que nossos clientes entendem que fomos adquiridos e operamos como uma divisão do First Citizens Bank, com a mesma equipe e abordagem, e que nossa situação financeira é muito sólida, estamos vendo os fundos retornarem ao banco.”

Concorrência acirrada

Além de recuperar a confiança dos clientes, no entanto, o SVB terá que enfrentar a concorrência das instituições que se movimentaram para capturar os recursos durante a crise bancária e depois.

Na corrida por receber o dinheiro das startups brasileiras - que um dia antes de o banco ser fechado sacaram mais de US$ 200 milhões do SVB -, empresas como a Trace Finance e a Latitud lançaram produtos bancários para resgatar saldos de startups que ainda continuavam com dinheiro preso no banco sob intervenção do FDIC.

O dinheiro de startups brasileiras no SVB também foi transferido para grandes bancos como JPMorgan (JPM) e Morgan Stanley (MS), e para instituições menores como o Mercury, além da já citada Brex. Na esteira do colapso, a fintech recebeu US$ 1 bilhão em depósitos, “com um volume colossal entrando em 48 horas”, como disse Franceschi em entrevista à Bloomberg Línea na semana passada.

Para atender os novos clientes, a Trace Finance lançou em março uma conta americana para empresas estrangeiras com um banco do Tennessee e anunciou no final de setembro uma conta global em parceria com um banco americano, cujo nome não pode ser revelado.

Bernardo Brites, CEO da empresa, disse à Bloomberg Línea na época que a princípio a fintech explorava também a opção do banco Evolve, muito utilizado por fintechs. Mas, ao avaliar as alternativas, decidiu optar pelo banco americano em questão diante do entendimento de que oferece “outro grau de segurança e tranquilidade para empresas deixarem o dinheiro lá”, segundo ele.

Com essa conta, ele afirmou que será possível bancarizar empresas com sede nas Ilhas Cayman, nas Ilhas Virgens Britânicas, nos Estados Unidos e nas Bahamas. “Na prática teremos condições de bancarizar todo o ecossistema de startups da América Latina”, disse à Bloomberg Línea no final de setembro.

Histórico do SVB na América Latina

Tsao disse que a trajetória do banco na América Latina não é recente, o que se traduz em alguma vantagem. “Na verdade, começou há mais de uma década, em nossa primeira viagem ao Brasil, em 2012. Descobrimos um ecossistema vibrante, com fundadores inspiradores [...] Desde então, estivemos envolvidos com a região, tendo o privilégio de trabalhar com alguns dos principais fundadores e investidores.”

O executivo disse ainda que, “depois dos eventos de março, ainda há uma percepção errada de que o SVB não existe mais ou que mudamos nossa abordagem com as startups”. Segundo ele, isso não é verdade.

“O SVB está de volta, operando em grande parte da mesma forma para startups e investidores latino-americanos como estávamos antes de março. Conforme nos envolvemos com nossos clientes, estamos recebendo muito incentivo e até alegria ao entenderem que o SVB está de volta.”

Segundo ele, os clientes dizem que ninguém mais atendeu à economia da inovação latino-americana da mesma forma que o Silicon Valley Bank.

“O SVB tem uma abordagem especializada e entendimento das necessidades de startups e investidores, o que não é fácil de replicar. Como já afirmado anteriormente, estamos vendo os clientes trazerem fundos de volta ao SVB. Permanecemos comprometidos com a região.”

- Matéria atualizada às 17h de quinta-feira (2) no trecho referente ao banco parceiro da Trace Finance nos EUA, cujo nome não pode ser revelado por questões contratuais.

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