Sucessão na Armani: fusão ou IPO podem estar no horizonte, diz fundador

Giorgio Armani, cujo império de moda é avaliado entre 8 bi e 10 bi de euros, contou à Bloomberg News os planos futuros de sua empresa quando ele não estiver mais no comando

Giorgio Armani
Por Flavia Rotondi - Daniele Lepido - Angelina Rascouet
20 de Abril, 2024 | 01:06 PM

Bloomberg — Três meses antes de completar 90 anos, Giorgio Armani indicou possíveis grandes mudanças para seu império de moda italiano quando ele não estiver mais no comando.

Depois de lutar por anos para manter a Giorgio Armani independente em meio às fusões e aquisições que repaginaram o setor de luxo, o bilionário do design agora diz que não descarta que sua empresa se una a uma concorrente maior ou seja listada em uma bolsa de valores no futuro.

“A independência de grandes grupos ainda pode ser um valor importante para o Grupo Armani no futuro, mas não sinto que posso descartar nada”, disse Armani em uma entrevista à Bloomberg News por e-mail. “O que sempre caracterizou o sucesso do meu trabalho é a capacidade de me adaptar aos tempos de mudança.”

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É uma modificação marcante no tom de Armani, que subiu de vendedor em Milão para criador de uma das casas de luxo mais proeminentes do mundo, mantendo controle rigoroso ao longo do caminho e revelando poucas pistas sobre o que aconteceria quando ele saísse de cena.

Os planos futuros de Armani, que raramente dá entrevistas e sempre foi reticente em discutir a sucessão, foram por muito tempo um tópico popular no setor.

Banqueiros de investimento com sede em Milão também alimentaram essas especulações, elaborando inúmeros cenários para a empresa ao longo dos anos e apresentando propostas que nunca resultaram em negócios.

(Foto: Pietro S. D’Aprano/Getty Images)

Mas o designer agora parece estar mais aberto a novas ideias para o futuro, embora dependa de seus herdeiros para avaliá-las, disse ele.

“Atualmente, não prevejo uma aquisição por um conglomerado de luxo grande”, escreveu Armani em respostas a perguntas da Bloomberg News. “Mas como eu disse, não quero excluir nada, porque isso seria um curso de ação não empreendedor.”

Armani, que controla praticamente toda a empresa Giorgio Armani e tem um patrimônio líquido de US$ 6,6 bilhões, de acordo com o índice de bilionários da Bloomberg, agora também deixa em aberto a possibilidade de uma oferta pública inicial no futuro.

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“A abertura de capital é algo que ainda não discutimos, mas é uma opção que pode ser considerada, espero que no futuro distante”, disse Armani.

A incerteza sobre o futuro é comum na indústria do luxo italiana, na qual muitas empresas ainda são independentes e controladas por famílias – incluindo Salvatore Ferragamo, Prada, Moncler e Ermenegildo Zegna e nenhuma delas possui a mesma escala dos poderosos concorrentes franceses LVMH e Kering , que adquiriram várias marcas italianas nos últimos 20 anos.

Bernard Arnault, acionista controlador da LVMH que construiu sua enorme fortuna ao adquirir cerca de 75 marcas, comprou várias marcas italianas, incluindo Fendi, Loro Piana e a joalheria Bulgari. A rival Kering é proprietária da Gucci e possui uma participação de 30% na Maison Valentino com opção de compra do restante.

Na avaliação de Deborah Aitken e Andrea Ferdinando Leggieri, analistas da Bloomberg Intelligence, um valuation de 8 bilhões de euros (US$ 8,5 bilhões) a 10 bilhões de euros (US$10,7 bilhões) para a Giorgio Armani em uma aquisição ou cisão pode ser vista como razoável.

Isso pode ser considerado, segundo eles, diante de um EV/Ebitda de até 17 vezes nas estimativas para 2024 calculadas em torno do crescimento normalizado do mercado de 5% a 6% em 2024, e levando em conta sua combinação de design aspiracional e de luxo. A dupla estima uma margem Ebitda de médio prazo de 24%.

“A diferença de mais de 2 bilhões de euros (US$ 2,1 bilhões) entre a receita direta da marca, incluindo licenças, e a receita líquida (com base em 2022) confirma que a Armani depende muito de licenças, portanto, o dinheiro poderia ser usado em parte para trazer mais licenças internamente, reduzindo riscos na cadeia de suprimentos e fortalecendo a identidade da marca.”

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Armani alertou na entrevista sobre os grandes grupos de luxo que “cada vez mais têm as marcas históricas em seu radar”. Isso pode trazer crescimento, por um lado, disse ele, “mas, por outro, implica inevitavelmente uma mudança de valores e uma grande agitação, inclusive no estilo”.

No entanto, o tamanho é importante no setor, e Armani registrou cerca de 2,4 bilhões de euros (US$ 2,5 bilhões) em vendas em 2022, a cifra mais recente disponível, em comparação com os quase 80 bilhões de euros (US$ 85,2 bilhões) da LVMH naquele ano, que inclui receita de vinho, bebidas destiladas e distribuição de produtos.

Plano de sucessão

Para Armani, a melhor solução para o dilema da sucessão seria sua família continuar à frente com o apoio de parceiros licenciados, disse Stefania Saviolo, professora de moda e gestão de luxo da Universidade Bocconi de Milão.

O modelo de negócios da Armani é “muito único em comparação com outras empresas de moda, incluindo as francesas”, disse Saviolo, apontando a posição única de Giorgio Armani como “um designer com uma identidade forte que também é um empresário e dono de um portfólio complexo de linhas de negócios e fábricas”.

Armani confirmou na entrevista que gostaria de deixar sua empresa nas mãos de um grupo de confidentes próximos. O designer não tem filhos, embora vários parentes façam parte do conselho da empresa, e ele há muito tempo sugeriu que uma família estendida de conselheiros conduziria o grupo no futuro.

“Quando se trata de sucessão, acredito que a melhor solução seria um grupo de pessoas de confiança próximas a mim e escolhidas por mim”, disse Armani, mencionando a liderança da fundação da empresa, especialmente Leo Dell’Orco, que há anos apoia o designer na gestão da empresa, e suas sobrinhas Silvana e Roberta Armani, bem como o sobrinho Andrea Camerana.

(Foto: Vittorio Zunino Celotto/Getty Images)

“A fundação decidirá e governará o futuro do grupo Armani”, disse o fundador, “porque as pessoas mais próximas a mim estão no comando.” Armani também disse que não vê nenhuma pessoa individualmente assumindo seu lugar à frente da empresa.

“Comecei sozinho com uma pequena empresa e a transformei, peça por peça, em um grupo de relevância internacional”, disse Armani. Mas a indústria da moda de hoje é “muito diferente da época em que comecei, então imagino funções coordenadas para aqueles que vêm depois de mim.”

Por fim, o designer disse que espera que a Itália, seu país natal, possa manter um papel central na indústria global de luxo, mesmo enquanto ela se transforma em algo bem diferente do que era há cerca de 50 anos, quando ele começou a construir sua empresa.

“Minha esperança é que a moda italiana continue sempre sendo um símbolo não apenas de imagem, mas também de trabalho árduo e artesanato”, disse Armani. “Se há uma característica que nos define como italianos, é a capacidade de nos adaptar”.

--Com a colaboração de Antonio Vanuzzo, Chiara Albanese e Tommaso Ebhardt.

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