Bloomberg Línea — A corrida de rua se transformou em um fenômeno global no pós-pandemia. Ninguém acompanha mais de perto esse movimento do que o Strava, a plataforma global de registros de treinos que monitora mais de 150 milhões de usuários em 185 países, em mais de 50 esportes. Em seu relatório Year in Sport, o Strava apontou que quase 1 bilhão de corridas foi registrada ao longo do ano passado.
“O nosso crescimento se acelerou substancialmente no ano passado. Nós tivemos a maior expansão na nossa história emusuários, engajamento, receita e lucratividade em 2024″, afirmou Michael Martin, CEO global do Strava, em entrevista exclusiva à Bloomberg Línea em recente e inédita visita ao Brasil.
O país é o segundo maior mercado para o Strava, com mais de 19 milhões de usuários ativos, só atrás dos Estados Unidos. Por aqui, a operação é liderada pela executiva Rosana Fortes.
Para além do monitoramento, a startup decidiu dar novos passos em sua estratégia de expansão e anuncia ao mercado nesta madrugada de quinta-feira (17) a compra da startup britânica Runna, em informação divulgada em primeira mão pela Bloomberg Línea.
A aquisição de 100% do negócio, de valores não revelados, se encaixa na tese de complementaridade dos serviços que o Strava oferece em particular aos corredores.
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Com o negócio, a plataforma combinará os registros e os dados de treinos com a oferta de treinos personalizados pensados para atender melhor as necessidades de corredores.
A startup britânica funciona como treinador pessoal para usuários em todos os níveis de jornada na corrida, além de treinos de fortalecimento para a prevenção de lesões e pilates.
O app dialoga tanto com quem está próximo de seus primeiros 5 quilômetros em provas quanto com quem busca melhorar os resultados e alcançar objetivos maiores como os 42,195 km da maratona.
Na disputa entre seus pares, o Runna está posicionado entre aplicativos como o Runkeeper, da Asics, e o Nike Run Club, considerados mais básicos e direcionados aos usuários no início da jornada, e o TrainingPeaks, que apresenta um nível técnico mais elevado.
Os dois aplicativos continuarão a operar separadamente e com suas respectivas marcas em um primeiro momento, de acordo com o Strava. Não há informações sobre integrações ou mudanças nos preços dos pacotes.

Em resposta à Bloomberg Línea, o Strava disse que o Brasil continuará no foco de expansão dos dois aplicativos e sinalizou um posicionamento dentro da jornada de corredores no país.
“Os planos únicos e personalizados da Runna podem ajudar a atender às necessidades dos corredores brasileiros, complementando o trabalho de assessorias esportivas e grupos de treinamento locais — ideais para quem busca mais dados e ferramentas para acompanhar seu progresso e desempenho”, disse a plataforma por e-mail.
A Runna chegou ao mercado oficialmente em 2022 pelas mãos dos fundadores - e corredores - Dom Maskell e Ben Parker. Desde então, acumula uma base de milhões de usuários, distribuídos por mais de 180 países. Os Estados Unidos e o Reino Unido são os dois principais mercados.
O crescimento acelerado garantiu à startup mais de £ 8 milhões em investimentos nos últimos anos. A última rodada saiu em 2023 com um cheque no valor £ 5 milhões e foi liderado pelo JamJar, fundo de venture capital criado pelos fundadores da marca de bebidas Innocent, cujo controle atual é da Coca-Cola.
Mais valor aos corredores
A transação reforça a estratégia do Strava de incrementar a sua proposta de valor, apoiada em um modelo de assinatura, que representa 90% da receita.
Os 10% restantes são originados com “desafios”, que são parcerias com marcas para estimular treinos em determinadas distâncias.
Com uma operação com resultado positivo globalmente desde 2020, a plataforma enfrenta resistências em países como Brasil e Indonésia, dois dos seus maiores mercados e que crescem em ritmo acelerado. Por razões culturais e econômicas, os usuários tendem a não optar pela versão paga.
A entrega de mais funcionalidades é vista dentro do Strava como um meio potencial de acelerar as adesões.
“Nós fizemos um trabalho melhor no ano passado na nossa proposta de assinatura. Lançamos, por exemplo, o Athlete Intelligence, que oferece insights personalizados com base nos dados de atividades, e que mostrou que as pessoas estão dispostas a pagar”, disse Martin, para em seguida complementar: “Nós vamos fazer muito mais disso, sem tirar nada da versão gratuita do app”.
Segundo ele, “no último ano, a taxa de inscrição dos usuários no Brasil cresceu em linha, em grande parte, com o padrão global. Ou seja, temos visto uma melhoria nessa frente e acho que há mais espaço para avançar”, afirmou o CEO, que está no cargo desde o começo de 2024.
A última aquisição do Strava havia sido a da britânica Fatmap, anunciada em janeiro de 2023. A plataforma desenvolveu uma tecnologia de mapeamento 3D de alta resolução para atividades ao ar livre que se tornou referência no mercado, posteriormente incorporada ao app do Strava.
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