Stellantis prepara venda de marca chinesa no Brasil e diz que avalia produção local

Holding das marcas Fiat, Jeep e Peugeot formou joint venture para mercados globais com a Leapmotor, e o CEO para a América do Sul, Emanuele Cappellano, conta os planos na região

Modelo elétrico C10, da marca chinesa Leapmotor, que poderá ser um dos vendidos pela empresa no Brasil por meio da joint venture com a Stellantis (Foto: Divulgação)
30 de Janeiro, 2025 | 04:11 PM

Bloomberg Línea — A Stellantis, holding dona de marcas como Fiat e Jeep, trabalha para lançar neste ano os primeiros modelos da chinesa Leapmotor no mercado brasileiro. O acordo, firmado em âmbito global em 2023, não descarta a produção no Brasil.

“O acordo prevê flexibilidade para produção [de modelos da Leapmotor] fora da China, isso é uma possibilidade concreta e avaliamos essa oportunidade. Reforço o quanto [o processo para] a localização da Stellantis é um diferencial”, disse o CEO da Stellantis para América do Sul, Emanuele Cappellano, a jornalistas nesta quinta-feira (30).

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O executivo acrescentou que, inicialmente, as operações de vendas da marca chinesa no país vão começar com carros importados.

“Isso faz parte do processo normal de lançamento [de novas marcas], mas é difícil acreditar que vai haver crescimento sem uma forte ‘localização’ dos produtos”, afirmou.

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Pelo acordo, a Stellantis prevê investimentos da ordem de 1,5 bilhão de euros para aquisição de aproximadamente 21% da Leapmotor, além da criação da Leapmotor International. Essa nova empresa operaria no formato de joint venture, com direitos exclusivos para exportação, venda e fabricação de produtos da marca fora da China.

Segundo a Bright Consultoria Automotiva, a Leapmotor produz aproximadamente 300 mil carros por ano, o que corresponde a 1% do volume total do mercado chinês. No entanto, no segmento de eletrificados, a montadora é uma das líderes no país asiático.

Para o diretor da consultoria, Murilo Briganti, a joint venture é uma oportunidade de ampliação do portfólio de veículos eletrificados para a Stellantis.

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“O grupo vai entendendo, aos poucos, a demanda do mercado de elétricos, bem como aloca os modelos de todas as suas marcas de acordo com a aceitação e faixa de renda de cada uma delas”, disse o especialista.

Cappellano destacou que a decisão de produzir modelos da marca chinesa no Brasil será tomada “mais à frente”, dentro da estratégia de suprir uma demanda não atendida no mercado local.

“Nem todos os modelos [da marca] são interessantes para o nosso mercado, vamos lançar somente aqueles que fazem sentido”, explicou.

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Na América do Sul, o lançamento da Leapmotor está previsto neste ano nos mercados do Brasil e do Chile. “Também avaliamos outros mercados em que podemos lançar [a marca] ainda em 2025 e no começo de 2026. Vai ser um diferencial para a Stellantis”, disse Cappellano.

Produção aquecida

A Stellantis anunciou ainda nesta quinta-feira a contratação de 1.500 funcionários, dos quais 1.200 para o complexo de Betim, em Minas Gerais, e 300 para Porto Real, no Rio de Janeiro.

Atualmente, são 16.000 empregados na fábrica mineira - o que corresponde à metade da força de trabalho de todo o grupo na América do Sul - e 1.800 na unidade fluminense.

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“As contratações já estão acontecendo, é um momento de crescimento”, afirmou Cappellano.

Para o ciclo entre 2025 e 2030, os investimentos do grupo previstos para América do Sul são de R$ 32 bilhões, que contemplam o lançamento de 40 novos produtos, incluindo modelos híbridos a etanol.

Nova família de modelos na Argentina

Na Argentina, o grupo iniciará a produção da picape Titano em Córdoba, cuja linha receberá um pacote de investimentos da ordem de US$ 385 milhões, o que inclui a fabricação de componentes e um novo motor.

“É o primeiro passo para a Stellantis ter uma família nova de produtos produzidos na Argentina. O segmento de picapes é relevante para nós e a Fiat não tinha essa presença consolidada”, disse Cappellano.

Segundo a Stellantis, o grupo encerrou 2024 com uma participação de mercado na América do Sul de 22,9%, com 916 mil veículos comercializados na região durante o período.

A montadora liderou os emplacamentos no Brasil, com 29,4% de market share, na Argentina, com 29,7%, e no Uruguai, com 23,6%.

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No ano passado, a Stellantis do Brasil exportou 116 mil veículos, o que representou alta de 17% sobre os embarques de 2023, desempenho puxado pela demanda de Argentina e México.

Questionado sobre o esperado aumento do protecionismo nos Estados Unidos, Cappellano disse que a companhia tem acompanhado os movimentos globais de perto.

“A vantagem [da Stellantis] é ter uma ampla localização [da produção] em diferentes regiões, em busca da maior competitividade possível. É isso que estamos fazendo.”

O executivo se declarou a favor da proposta da Anfavea de antecipação do aumento da alíquota do imposto de importação sobre carros elétricos. “O único requisito é que as condições sejam iguais [para todos]. Se não há distorções, a concorrência é bem-vinda”, disse.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.