Bloomberg — O presidente executivo da Shein disse que continua comprometido com os planos de abrir o capital da varejista de fast-fashion, apesar de estar na mira da campanha do presidente Donald Trump para reequilibrar o comércio global.
Donald Tang, um ex-banqueiro do Bear Stearns, disse em uma entrevista à Bloomberg News que uma listagem ajudaria a ganhar a confiança do público e aumentar a transparência da Shein, que foi acusada de tolerar violações trabalhistas entre seus fornecedores chineses.
Tang esteve em Londres para falar sobre a Shein semanas depois que os investidores disseram que a empresa deveria reduzir sua avaliação em mais de dois terços, para cerca de US$ 30 bilhões. Ele se recusou a comentar sobre a avaliação da Shein.
Leia também: Shein acelera no Brasil com 300 fábricas parceiras e já chega a 30 mil sellers
Enquanto procura convencer os investidores a apoiarem seu IPO, a Shein está enfrentando a proposta do governo Trump de acabar com as importações isentas de tarifas de pequenas mercadorias da China, a chamada isenção “de minimus”. As encomendas abaixo de US$ 800 há muito tempo são excluídas das tarifas.
Os compradores americanos acostumados a comprar camisetas de US$ 8 e vestidos de US$ 12 podem ficar preocupados se o cancelamento da isenção de minimus levar a Shein a aumentar os preços.
“Queremos ter certeza de que os clientes não serão afetados, independentemente da tempestade que se aproxima”, disse Tang, que acrescentou que a empresa ainda não tinha visto nenhum sinal de desaceleração nos EUA.
Ele disse que a Shein tentaria cortar custos embalando mais produtos juntos e reduzindo o desperdício. Tang também disse que estocar produtos nos EUA poderia ser um tiro pela culatra, deixando a empresa com mercadorias não vendidas.
Leia também: IPO da Shein: investidores pressionam para reduzir valuation para US$ 30 bilhões
“Isso pesa porque você tem que armazenar, tem que financiar e tem que encontrar uma maneira de lidar com isso”, disse ele. “Se você tiver que mandar para um aterro sanitário, isso não é bom para o planeta.”
Tang disse que a Shein cumprirá as novas regras e "encontrará uma maneira" de proteger os clientes. "Estamos confiantes de que esse não é o problema para nós", disse ele.
Direito humano
A Shein, fundada na China e agora sediada em Cingapura, fez esforços para diversificar sua cadeia de suprimentos, pedindo a alguns fornecedores chineses de vestuário que estabelecessem capacidade de produção no Vietnã, informou a Bloomberg no mês passado, citando pessoas familiarizadas com o assunto.
Um porta-voz da Shein negou, na época, que a empresa planejasse aumentar a produção no Vietnã, sem entrar em detalhes. Os fornecedores da Shein também têm fábricas no Brasil.
A produção ultrarrápida e os preços baixos da Shein abalaram o setor de varejo em todo o mundo, especialmente as marcas de moda on-line rivais.
Tang citou uma pesquisa de 2024 que mostrou que a grande maioria dos clientes concorda que as roupas não precisam ser caras para ter valor duradouro.
“Tratamos isso como um direito humano básico, assim como a comida, vestindo algo moderno e bonito”, disse ele. “Isso não deveria pertencer apenas às elites”.
Ganho de confiança
O rápido crescimento também atraiu o escrutínio, com alegações de que os funcionários das fábricas chinesas trabalham 18 horas por dia e podem ser multados se cometerem erros.
Tang disse que a Shein tem uma abordagem de “tolerância zero” em relação ao trabalho forçado e ao trabalho infantil, rescindindo contratos com fábricas que violam as leis.
A Shein, que foi avaliada em US$ 66 bilhões em uma rodada de financiamento em 2023 e em até US$ 100 bilhões em 2022, apresentou documentos confidenciais em junho para uma listagem em Londres.
"Ao abrir o capital, podemos ganhar com mais eficiência a maior quantidade de confiança do público, o que é crucial para o crescimento de nossa empresa", disse ele na entrevista.
Tang disse que “não sabia” quando a Shein receberia a aprovação dos órgãos reguladores britânicos e chineses para a possível listagem.
Ele também negou que a Shein tenha solicitado ao órgão regulador do Reino Unido, a Autoridade de Conduta Financeira, permissão para lançar menos de 10% das ações da empresa.
Veja mais em bloomberg.com
©2025 Bloomberg L.P.