Shein acelera no Brasil com 300 fábricas parceiras e já chega a 30 mil sellers

Felipe Feistler, country manager no Brasil, diz a jornalistas que foco é expandir o marketplace regionalmente. Plataforma aguarda fim da recuperação judicial da Coteminas para avançar em fornecedores locais

Sede da Shein no Brasil, no edifício Veracruz II, na Faria Lima
16 de Fevereiro, 2025 | 01:58 PM
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Bloomberg Línea — A Shein planeja acelerar seus negócios no mercado brasileiro de vestuário e acirrar a competição com grandes redes locais como Renner (LREN3), C&A (CEAB3) e Riachuelo, do grupo Guararapes (GUAR3).

A plataforma chinesa planeja aumentar de quatro para nove o número de praças em que cobra comissão de 16% sobre o preço do produto de sellers interessados em anunciar seu estoque e fechar transações no app.

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A expansão do marketplace em 2025 mira quatro estados e o Distrito Federal: Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Goiás. O Brasil tem o primeiro marketplace da chinesa, iniciado em São Paulo em 2022.

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No ano passado, os estados do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e do Paraná formaram a “segunda onda” no processo de atrair sellers para a venda de produtos na plataforma asiática.

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“Não achei que seria tão rápida a nossa curva de crescimento no Brasil. No nosso terceiro ano no Brasil, o marketplace já tem 30.000 sellers”, disse Felipe Feistler, country manager da Shein no Brasil, a jornalistas em evento na última quarta-feira (12).

O executivo prevê fechar o ano com um total entre 40.000 e 50.000 sellers, reflexo da adição das cinco novas praças (SC, RS, ES, GO e DF) e do esforço de atrair vendedores nos outros quatro estados (SP, RJ, MG e PR).

O app atua no país com três modelos de negócios: o cross-border (importação da China), a venda de estoque próprio (1P) adquirido de 300 fábricas parceiras no Brasil e o marketplace (3P) como intermediário de sellers.

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O marketplace já representa 60% das vendas no país, em que diz ter mais de 50 milhões de usuários. A Shein projeta que as vendas de estoque próprio (1P) e de sellers (3P) cheguem a 85% do total até o final de 2026.

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“Em 2025, nosso foco é o marketplace. Santa Catarina é o primeiro estado da expansão em 2025. A meta é ter 1.000 vendedores em Blumenau, Brusque, Florianópolis, Itajaí e Joinville”, afirmou o executivo.

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A estrutura logística de armazenagem e entrega se concentra em Guarulhos, na Grande São Paulo, onde ficam os três centros de distribuição (CDs) da companhia, que empregam mais de 3.500 pessoas de forma direta ou indireta.

“A proximidade de Santa Catarina com São Paulo, onde centralizamos nossa logística, é importante para nossa estratégia de diminuir os custos e servir mais rápido nossos clientes”, explicou Feistler.

Além dessa comissão de 16%, a Shein pode cobrar ainda dos sellers uma taxa extra de valor variável, referente à rota da logística, que é definida de acordo com o peso dos produtos vendidos na plataforma.

Felipe Feistler, Country Manager da SHEIN no Brasil

Parceria com a Coteminas

Em 2023, a Shein anunciou um plano de contratar 2.000 confecções locais até o fim de 2026 para nacionalizar a produção e manter os preços competitivos no país. Por enquanto, são 300 fábricas fornecedoras no país.

“Estamos esperando a Coteminas sair da recuperação judicial”, disse o country manager.

O grupo têxtil Coteminas (CTNM4), do empresário Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), entrou em recuperação judicial com uma dívida superior a R$ 2 bilhões em julho do ano passado.

“A companhia vem avançando nas negociações com seus credores”, informou a Springs Global, controladora da Coteminas, no fim de janeiro, indicando a possibilidade de realizar a assembleia geral de credores em 2025.

O acordo entre Shein e Coteminas, assinado em junho de 2023, previa que 2.000 confecções, clientes do grupo têxtil mineiro, passariam a ser fornecedoras da Shein para atender o Brasil e a América Latina.

Lojas físicas em 2025

O chefe da Shein no Brasil também reforçou o plano de investir na abertura de lojas físicas temporárias (pop-ups), sem revelar a localização. A previsão é inaugurar quatro ou cinco unidades nos próximos meses.

A Shein adota um sistema de produção sob demanda (on-demand fashion), que permite a fabricação de produtos em pequenas quantidades (100 a 200 peças) e com rapidez. Outras varejistas nacionais também têm adotado esse modelo, como a C&A.

“Nosso modelo de operação é disruptivo e começou na Ásia há cerca de dez anos. Ele reduz desperdícios e oferece uma ampla variedade de produtos. Nossa missão é tornar a beleza da moda acessível a todos”, disse.

A plataforma trabalha com mais de 20 categorias de produtos, incluindo para casa e decoração. A Shein tem escritórios em mais de 19 países com seu app em 50 idiomas e entregas em mais de 150 nações.

Em agosto de 2024, o governo brasileiro, depois de muita pressão do varejo local por isonomia tributária, passou a cobrar imposto de importação para compras internacionais de até US$ 50, a chamada “taxa das blusinhas”. O executivo da Shein disse que a medida inibiu a compra de produtos importados.

“A carga tributária paga pelo consumidor até julho de 2024 era de 20,82%; com a taxação de 20% sobre produtos importados, a carga foi para 44,58%. Isso tirou o acesso a produtos difíceis de encontrar no mercado local, como roupas de inverno”, afirmou.

Comparação de preços

Antes do imposto, alguns produtos importados no app da Shein eram mais baratos para os brasileiros. Hoje existe uma tendência de os preços cobrados se aproximarem dos valores praticados por varejistas locais.

Em janeiro, oito peças da Shein eram mais baratas que similares na Renner (-9%), na Riachuelo (-3%) e na C&A (2%), apontou estudo do time de equity research do BTG Pactual. A cesta para comparação incluiu vestido, saia, jaqueta, shorts e dois tipos de jeans e de camisetas.

“A diferença de preço entre a Shein e outros players locais diminuiu”, concluiu a equipe liderada pelo analista Luiz Guanais no relatório divulgado no último dia 29 de janeiro.

Em resposta a uma pergunta da Bloomberg Línea sobre os apontamentos da pesquisa, o executivo da Shein evitou confirmar que exista eventualmente uma tendência de os preços praticados na plataforma ficarem similares aos dos magazines locais.

“A decisão de compra nem sempre é pautada pelo preço. Há questões como a proximidade com o mercado consumidor, as tendências da moda e a qualidade. Temos que produzir mais barato e melhorar a experiência dos nossos clientes”, afirmou Feistler.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.