Setubal e Moreira Salles reforçam ‘agenda de eficiência’ e custos menores do Itaú

Co-presidentes do conselho falaram sobre a estratégia e a visão de longo prazo durante o Itaú Day nesta quarta-feira e apontaram caminhos para se fortalecer ante a concorrência

Itaú Day
19 de Junho, 2024 | 11:38 AM

Bloomberg Línea — Pedro Moreira Salles e Roberto Setubal, copresidentes do conselho de administração do Itaú Unibanco (ITUB4), reforçaram nesta quarta-feira (19) em mensagem a investidores no Itaú Day o foco na agenda de eficiência do banco, em um momento em que fatores como a complexidade operacional e os custos associados tornam mais desafiadora a competição com bancos digitais.

“Lidamos com isso de maneira disciplinada e sistemática. Buscamos índice de eficiência cada vez mais fortes”, disse Moreira Salles. Ele explicou que a melhora desse índice se tornou uma agenda permanente que busca ganhos de alguns pontos percentuais a cada ano, de modo que já se avançou dez pontos.

“Ao mesmo tempo em que sabemos que novos concorrentes, sobretudo no mundo de varejo, que fazem uma abordagem que abre mão de parte da estrutura de custos e têm uma vantagem [...] Nós temos planos traçados e corremos atrás [para a execução]. Nós saímos da fase de tentar arrumar o legado e hoje 60% das nossas áreas de produtos e serviços hoje estão praticamente na nuvem. Com isso nós ganhamos ganhamos uma capacidade de resposta que não tínhamos”, disse o banqueiro.

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Setubal complementou a análise ao destacar a tecnologia como uma área de foco essencial para manter a competitividade. “Sem dúvida a concorrência está com uma tecnologia que possibilita a eles um custo menor e acho que estamos no caminho de buscar isso, temos progredido bastante e estamos à frente da concorrência tradicional em eficiência. Estamos buscando, no varejo especialmente, atingir o benchmark que será possível na medida em que a nossa tecnologia estiver bem evoluída”.

Concorrência e inovação

Setubal disse ainda que concorrência tem muitas vezes “tentado levar talentos” do banco. “Acho que temos conseguido reter, não apenas por causa da remuneração, mas porque temos um projeto de futuro com o qual as pessoas engajam, em um ambiente extremamente ético”, disse.

Ao fazer uma reflexão sobre os desafios enfrentados pelo Itaú ao longo de um século de existência, Moreira Salles disse que a complexidade traz custos operacionais e de resposta ao mercado.

Do ponto de vista de atração de clientes mas também de investidores, o Itaú tem players nativos digitais entre os principais concorrentes, segundo analistas.

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Em maio, o Nubank (NU) chegou a superar o Itaú como a instituição financeira mais valiosa da América Latina em capitalização de mercado. Nesta quarta-feira pela manhã, o Itaú tinha um valor de mercado de US$ 57,5 bilhões, versus US$ 55,8 bilhões do Nubank, fundado há 11 anos.

Entre janeiro e março, o Itaú teve lucro de R$ 9,771 bilhões, o que representou aumento de 15,8% e de 3,9% nos comparativos trimestral e anual, respectivamente. A rentabilidade medida pelo ROE (retorno sobre patrimônio líquido) subiu para 21,9%, superando o do quarto trimestre (21,2%) e de igual período do ano passado (20,7%). Já o Nubank teve um ROE de 23% no primeiro trimestre.

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O copresidente do conselho do Itaú disse ainda que a “recusa em ficar parado” foi crucial para superar obstáculos ao longo do tempo. “Todas as empresas começaram como startups, e com a gente não foi diferente. Cem anos depois, somos o maior grupo financeiro da América Latina”, disse.

Em complemento à visão de Moreira Salles, Setubal destacou a abertura do Itaú para o mundo e a capacidade de adaptação às transformações do mercado e da sociedade.

“Acho que uma característica que sempre houve no Itaú Unibanco é estar aberto para o mundo. Isso é parte da nossa cultura. Vemos a transformação da sociedade e do mercado e estamos sempre abertos a mudar e nos ajustar para essas novas situações que vão surgindo”, disse Setubal.

Ele abordou a importância da tecnologia como um catalisador de mudanças e novos modelos de negócios e reforçou a mensagem de que o grupo tem utilizado inteligência artificial em seus projetos.

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“Estamos vivendo um mundo em que a tecnologia trouxe novas possibilidades de modelo de negócio. Quando isso começou a surgir, começamos a nos preocupar e a observar a concorrência com novas tecnologias e novas propostas, estimulando nossas equipes. O mundo mudou e tivemos alguma dificuldade no início, mas acho que estamos no caminho certo para enfrentar esse novo desafio”.

Segundo Setubal, a IA tem potencial grande para aumentar as receitas do banco.

Crescimento em economia estagnada

Os executivos que encabeçam a agenda estratégica do banco discutiram sobre a importância de crescer em um mercado com economia relativamente estagnada. “Nós temos hoje uma posição de mercado muito grande. No entanto nossa economia cresce relativamente pouco”, disse Setubal.

Moreira Salles acrescentou que, apesar das dificuldades, o banco tem conseguido crescer mais do que a concorrência tradicional e busca novas formas de aumentar sua participação de mercado. Uma delas é por meio de um super aplicativo que pretende trazer muito mais clientes: “é quase um banco dentro de outro banco”, disse.

O Itaú tem cerca de 100 milhões de clientes no Brasil, contra 104 milhões do Bradesco e 92 milhões do Nubank, segundo os dados mais recentes de cada instituição.

“Um banco não consegue estar fora do ambiente econômico em que está inserido. Então uma economia que cresce permite ao banco crescer também. O banco é fomentador de crescimento na medida que tem crédito para os seus clientes”, disse Moreira Salles.

Política de dividendos

Os executivos falaram também sobre a política de dividendos do banco e ressaltaram a importância de equilibrar o crescimento com a distribuição de lucros aos acionistas. Em maio, o CEO Milton Maluhy disse que o Itaú avalia a possibilidade de realizar um novo pagamento de dividendo extraordinário no segundo semestre deste ano.

Nesta quarta, Moreira Salles disse que, “se não tiver crescimento muito grande, demanda por crédito, de fato [o banco] fica com excesso de capital e nós não temos nenhuma dúvida de que talvez o melhor uso para esse capital em determinado momento seja devolvê-lo para os acionistas com dividendos”.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups