Setor siderúrgico vê metas de emissões de carbono do Brasil como inatingíveis

Presidente da Aço Brasil afirma que setor ficou ‘petrificado’ com as metas assumidas na COP29 e que não vai assumir objetivos que não sejam factíveis

Em Baku, Brasil anunciou uma nova meta de redução de 67% das emissões em relação aos níveis de 2005 até 2035 (Foto: Rich Press/Bloomberg)
Por Mariana Durao
17 de Dezembro, 2024 | 09:59 AM

Bloomberg — As ambiciosas metas de redução de emissões do Brasil anunciadas na COP29 no Azerbaijão deixaram “petrificadas” as empresas siderúrgicas do país, que se recusam a adotar metas inatingíveis, de acordo com o chefe do grupo industrial Aço Brasil.

“Baku nos deixou petrificados”, disse o presidente executivo da Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, a jornalistas na segunda-feira (16). “Tivemos reuniões difíceis com o governo. O setor não vai assumir metas que não sejam factíveis.”

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O Brasil será o anfitrião da conferência climática do ano que vem, agendada para ocorrer em Belém. O país tem tentado se posicionar como líder em matéria de clima ao anunciar uma nova meta de redução de 67% das emissões em relação aos níveis de 2005 até 2035.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou na semana passada um projeto de lei que cria o mercado brasileiro de créditos de carbono, que estabelecerá sanções aos emissores de carbono intensivo.

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A Aço Brasil calcula que o setor siderúrgico precisaria de R$ 180 bilhões em gastos de capital para atingir emissões líquidas zero até 2050. O setor está preocupado com o fato de os consumidores não estarem dispostos a pagar mais por um aço com uma pegada de carbono menor.

A consequência poderia ser desastrosa para um setor que vem enfrentando crescentes “importações predatórias”, especialmente da China, disse Maria Cristina Yuan, diretora de relações institucionais da Aço Brasil.

As siderúrgicas pedem ao governo brasileiro que adote um mecanismo de ajuste de carbono nas fronteiras semelhante ao da União Europeia para proteger a indústria local em meio à introdução do mercado de carbono, caso contrário o risco é “destruir a produção nacional”, disse Yuan.

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A Aço Brasil estima que as importações aumentarão 24% este ano, para 6,2 milhões de toneladas, apesar da adoção de medidas de proteção em junho.

"Vamos pelo menos impedir a entrada de produtos siderúrgicos com uma pegada de carbono maior, porque, caso contrário, será uma luta muito desigual", disse ela.

O setor siderúrgico responde por cerca de 4% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil - abaixo da média global de 7%.

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O Instituto do Aço destacou que, no Brasil, setores como o agronegócio são responsáveis por um terço da pegada de carbono do país, bem acima do setor industrial.

Yuan diz que, embora o setor não esteja se esquivando de reduzir suas emissões, isso não será suficiente para cumprir os compromissos do país.

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