Bloomberg Línea — Durante mais de 60 anos de história, a WEG (WEGE3) contou com somente três CEOs. Alberto Kuba é o quarto a comandar o conglomerado industrial catarinense e, em sua visão, o maior desafio será manter o crescimento sem disrupção mas atento às megatendências da economia, como a da transição energética.
O executivo, presente na companhia há 21 anos, assumiu o cargo em abril deste ano. Sucedeu Harry Schmelzer Jr., que esteve no comando por 16 anos. Anteriormente, somente um dos fundadores da WEG e seu filho tinham ocupado o posto em uma das maiores e mais internacionalizadas empresas do país.
“Um CEO que fica quatro anos, por exemplo, não tem uma verdadeira curva de aprendizado. O mundo muda muito em um período de sete a dez anos e investimos nos nossos negócios no longo prazo”, disse Kuba em entrevista à Bloomberg Línea.
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Em meados dos anos 2000, a companhia faturava R$ 1 bilhão e não tinha fábricas fora do Brasil. De lá para cá, a fabricante catarinense iniciou um forte processo de internacionalização e hoje acumula 63 unidades fabris no mundo, com uma receita de R$ 32 bilhões.
Kuba, que anteriormente comandou as operações na China e, mais recentemente, foi o superintendente da divisão de Motores Elétricos Industriais, explicou que a WEG tem sete divisões, que trabalham com ciclos e capex (investimentos) diferentes entre si.
“Quando assumi o cargo de CEO, gastei muito tempo para entender e ligar os pontos para construir a WEG do futuro. Queremos crescer sem nenhuma disrupção e todos os investimentos precisam estar ligados com as megatendências do mercado.”
Ele destacou que a WEG vai manter o foco no desenvolvimento de novas tecnologias. “Não somos uma empresa que vai mudar o mundo com inovações disruptivas. Queremos desenvolver tecnologias que ajudem negócios de diferentes segmentos e que vão se destacar muito no futuro.”
O executivo disse que a companhia vem crescendo a um ritmo de dois dígitos nos últimos anos e, por diversas vezes, essa expansão ocorreu por meio de aquisições.
“Nossa estratégia de internacionalização tem dois balizadores: o primeiro são os M&As [aquisições] que envolvem negócios maduros, em segmentos que a WEG já domina. O segundo pilar são as aquisições de empresas menores com alta tecnologia.”
A empresa catarinense comprou recentemente uma operação americana de sistemas de armazenamento de energia – negócio conhecido como BESS, na sigla em inglês.
“A WEG está colocando bastante foco no mercado norte-americano, com a política de incentivos à produção local no país”, explicou Kuba.
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Segundo ele, a companhia já investiu em aumento de capacidade de transformadores nos Estados Unidos e na compra de duas novas fábricas de motores elétricos.
Além dos Estados Unidos, a empresa também busca oportunidades no mercado indiano e na Europa. “Queremos atender com mais valor agregado a partir de Portugal. Também compramos fábricas de produtos de nicho na Itália e na Holanda. Já a China nunca sai do nosso radar, mesmo com o país em desaceleração. A WEG tem avançado por lá.”
Mercados globais
O conglomerado teve três fases de internacionalização.
A primeira aconteceu na década de 1970, quando a companhia começou a exportar seus produtos. Em meados de 1990, a empresa decidiu abrir filiais fora do país, o que significou não depender somente de distribuidores para vender no exterior.
O terceiro e maior movimento de internacionalização ocorreu no início dos anos 2000, com a compra de fábricas de concorrentes, o que começou por México, Argentina e China.
“Havia inúmeras dificuldades nesse processo, relacionadas à cultura e ao conhecimento do mercado local. A WEG comprou empresas em segmentos em que desejava escalar os negócios, mas levamos um tempo para aprender a operar lá fora. Perdemos dinheiro e pessoas”, contou.
A aquisição mais recente da WEG aconteceu na Turquia.
A brasileira comprou a empresa turca Volt Electric, com capacidade de produção de um milhão de motores por ano, por US$ 88 milhões. Foi a 25ª aquisição da WEG fora do Brasil. A companhia possui atualmente 63 parques fabris em 17 países.
Ainda em setembro, a empresa anunciou um plano de investimento de R$ 670 milhões no Brasil e no México para os próximos cinco anos.
Na operação mexicana, haverá a ampliação de capacidade de produção e a construção de uma nova planta. Em Itajaí, Santa Catarina, a companhia deve dobrar a capacidade de produção de fios; e, em Guaramirim, também no estado, a meta é expandir a área de fundição.
A WEG também anunciou um plano de investimentos de cerca de R$ 500 milhões para aumentar a capacidade de produção de transformadores no país, com os recursos destinados para as fábricas de Betim, em Minas Gerais, e Gravataí, no Rio Grande do Sul.
“O negócio de transformadores cresceu muito. [O investimento] é uma forma de abastecer o mercado com preços competitivos”, disse Kuba.
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Para analistas do time de equity research do Itaú BBA, em relatório no fim de setembro, os investimentos da WEG sustentam a visão de que as margens da companhia apontam para um crescimento.
A expansão, segundo os analistas, tem como base um cenário positivo de preços no negócio de transformadores na América do Norte e a melhoria do mix de receitas.
“Além disso, o anúncio evidencia os esforços contínuos da empresa para verticalizar suas operações e aumentar suas vantagens competitivas. Mantemos nossa visão otimista sobre a WEG”, disseram.
Presente na transição energética
Quase 60% da receita da WEG em 2023 veio de produtos lançados nos últimos cinco anos, uma das métricas que a companhia utiliza para estimular a inovação. “Não é algo que perseguimos a todo custo, mas nós colocamos foco na inovação tecnológica”, explicou Kuba.
Segundo ele, foram investidos R$ 838 milhões em pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica em 2023, com destaque para áreas relacionadas à transição energética.
“Investimos em uma linha completa de estações de recarga. Estamos trabalhando com as montadoras para evoluir para carregadores maiores e aqueles que podem ser usados nas casas dos consumidores.”
O executivo contou que a WEG deve concentrar esforços na eletrificação e na digitalização das linhas de produção da indústria. “Não queremos reduzir os postos de trabalho nas empresas. A ideia é eliminar as operações que têm periculosidade e muita repetição.”
Em sua avaliação, a transição energética é um caminho sem volta, embora a velocidade do processo ainda seja uma incógnita. “Vamos usar cada vez mais produtos com maior eficiência energética”, disse.
‘Surfar as oportunidades’
Kuba lembrou que, nos últimos vinte anos, o mundo passou por inúmeras crises - como a do subprime nos Estados Unidos que deu origem à crise financeira global de 2008, a crise do petróleo em 2015 e a pandemia de covid-19. “É difícil prever desafios maiores do que tivemos nos últimos vinte anos.”
Com o Acordo de Paris para redução de gases de efeito estufa no mundo, assinado no fim de 2015, ele ressaltou que a transição energética tem conquistado mais espaço na pauta das empresas, ainda que em uma velocidade aquém do esperado.
“Para atingirmos as metas [de redução das emissões] em 2030, as empresas terão que investir duas ou três vezes mais do que o que foi investido em 2023. São oportunidades que a WEG vai surfar”, disse o executivo.
“Meu papel como CEO é preparar a empresa para aproveitar esse período e estamos desenvolvendo novos produtos em geografias diversas”, acrescentou.
Para prover tranquilidade nesse processo, ele ressaltou que o caixa é uma das fortalezas da companhia. “Ter um caixa forte permite que a empresa possa sobreviver a momentos turbulentos. De maneira geral, os juros estavam altos no mundo todo nos últimos anos, mas nós tínhamos um caixa robusto.”
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