‘Sell, sell, sell’: o plano da Embraer para superar Airbus e Boeing, segundo o CEO

A terceira maior fabricante de aviões do mundo tem crescido mais do que as rivais e tem ambições de longo prazo, conta o CEO, Francisco Gomes Neto, em entrevista à Bloomberg News

A fabricante brasileira de aviões tem se destacado no mercado e mantém as fábricas em funcionamento e o fluxo de entregas
Por Rachel Gamarski - Barbara Nascimento - Leda Alvim
16 de Janeiro, 2025 | 01:45 PM

Bloomberg — A Embraer vem traçando um caminho diferente das suas maiores rivais, em que mantém as fábricas em funcionamento e o fluxo de entregas.

A empresa começa 2025 em forte ritmo, após as entregas terem aumentado 14% no ano passado, e as ações, disparado 150% — a maior alta da bolsa brasileira —, enquanto a nota de crédito atingiu grau de investimento pelas agências de classificação de risco.

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O desempenho ocorreu apesar dos sérios obstáculos macroeconômicos enfrentados pelo Brasil, incluindo uma taxa de juros em dois dígitos e a desvalorização cambial.

“Vamos continuar com o sell, sell, sell, queremos encher os slots de produção nos anos seguintes, então vai ser um foco muito grande”, disse o CEO da companhia, Francisco Gomes Neto, em entrevista à Bloomberg News. Ele acrescentou que os resultados deste ano serão ainda melhores do que os que a companhia divulgará para o ano fechado de 2024.

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A terceira maior fabricante de aviões do mundo tem ambições de longo prazo para enfrentar o duopólio global da Boeing e da Airbus, mas as suas aeronaves menores e seu tamanho a transformam em uma concorrente distante – embora distinta.

Especialistas do setor dizem que a Embraer se beneficiou de uma reputação de excelência em engenharia e de um sólido histórico de projeto de novos aviões com orçamentos e prazos apertados.

Ações da Embraer se valorizam desde o fim de 2023 enquanto as de Boeing e Airbus enfrentam dificuldades

Cinco anos após a Boeing desistir do plano de comprar o braço comercial da gigante brasileira, a companhia com sede em São José dos Campos (SP) prospera por conta própria no mercado global de jatos particulares e regionais e tornou-se uma das maiores histórias de sucesso da América Latina.

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O desempenho é muito contrastante com o de suas maiores rivais, à medida que a Boeing trabalha para se reconstruir após um ano brutal e as fábricas da Airbus enfrentam obstáculos persistentes na cadeia de fornecimento. A dinâmica poderá abrir portas para a Embraer expandir seu portfólio.

Neto, que lidera a empresa desde 2019, disse à Bloomberg News que um novo programa de aeronaves não é uma prioridade no curto prazo. Mas em outubro passado deu a entender que a Embraer estava estudando um novo jato para competir com o 737 da Boeing e o A320 da Airbus.

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Por enquanto, a empresa está concentrada em seu atual portfólio, ao mesmo tempo em que busca formas de estabilizar sua cadência de produção. Historicamente, as entregas tendem a atingir o pico no último trimestre do ano, mas Neto disse que quer equilibrar isso ao longo do ano.

“Outra coisa em que nós vamos avançar neste ano é o nivelamento da produção”, principalmente após os primeiros três meses do ano, disse o executivo, que acrescentou que os trimestres seguintes serão “muito mais equilibrados”.

Cargueiro C-390 da Embraer, principal modelo da companhia no segmento de defesa

Os analistas do setor estão confiantes de que a empresa tem espaço para crescer ainda mais em todos os segmentos, com margens mais fortes vindas da aviação comercial e um aumento nas encomendas na frente de defesa, beneficiada por um cenário geopolítico global desafiador.

A empresa entregou 206 aeronaves em 2024, das quais mais da metade eram jatos particulares. O Itaú BBA estima que a Embraer aumentará esse número em 2025, entregando até 220 aeronaves comerciais e jatos particulares.

Os aviões militares também são um ponto positivo para a Embraer. O seu avião de ataque Super Tucano recebeu encomendas de várias nações – do Paraguai a Portugal – e o C-390 Millennium garantiu compradores na Europa e na Ásia, incluindo uma encomenda recente da Coreia do Sul. A companhia espera ainda expandir seus negócios militares com os EUA.

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“Os orçamentos de defesa em todo o mundo estão aumentando, a geopolítica está mais complicada do que nunca e há uma margem muito boa para mais pedidos”, disse Stephen Trent, analista do Citi, que tem uma recomendação de compra para as ações da companhia.

As importações da América do Norte – principalmente dos EUA – representaram cerca de 56% dos componentes da Embraer nos últimos anos e a empresa também exporta para os EUA. Essa relação comercial bilateral representa um risco se o presidente eleito, Donald Trump, aplicar novas tarifas e o Brasil retaliar na mesma moeda.

Mas Neto minimizou a ameaça, dizendo que uma guerra comercial prejudicaria as empresas dos dois países. “Não podemos dizer o que vai acontecer, mas confiamos no bom senso de ambos os lados”, disse ele.

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