SBT aposta em modelo gratuito de streaming com anunciantes, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Daniela Beyruti, uma das sucessoras de Silvio Santos nos negócios, explica a estratégia da nova plataforma +SBT e os planos para a emissora de TV

Daniela Abravanel Beyruti, CEO do SBT, em evento de lançamento do +SBT (Foto: João Raposo/Divulgação)
02 de Agosto, 2024 | 05:26 AM

Bloomberg Línea — O SBT, uma das maiores e mais tradicionais emissoras de TV aberta do Brasil, decidiu buscar no mercado publicitário a fonte de recursos para executar os planos de crescimento de sua nova plataforma digital de streaming de vídeos, o +SBT, prevista para ser lançada oficialmente no próximo dia 18.

O grupo que completa 43 anos também neste mês não vai cobrar assinatura pelo acesso ao aplicativo que vai oferecer conteúdo de acervo próprio e licenciado, bem como inédito, além da programação do canal. É uma estratégia que difere da adotada pela maioria dos players no mundo, além da Globo no Brasil.

PUBLICIDADE

Em entrevista à Bloomberg Línea, Daniela Abravanel Beyruti, CEO do SBT e uma das seis filhas herdeiras do apresentador e fundador Silvio Santos, 93 anos, ressaltou a importância dos anunciantes na estratégia.

“Queremos que cresça, mas isso não depende apenas de nós. Como vamos oferecer o streaming de graça, o ritmo de crescimento depende dos anunciantes. É um negócio novo para nós”, disse Beyruti após evento que apresentou a plataforma ao mercado nesta quinta-feira (1 de agosto).

Leia mais: TV 3.0 vai derrubar as barreiras entre antena e internet, diz CFO da Globo

PUBLICIDADE

Será apenas a venda de cotas publicitárias que vai cobrir os custos e gerar receita para a emissora. Para a estreia da plataforma, o SBT fechou parcerias com cinco grandes empresas: Coca-Cola, Unilever, Seara, marca da JBS, Caixa Econômica Federal e Boticário.

Roberto Grosman, que lidera a área de transformação digital e de inovação do SBT, explicou que anunciantes poderão exercer o naming right de conteúdos determinados, ou seja, batizar com o nome de suas marcas qualquer um dos dez canais disponíveis na plataforma, de novelas e telejornais a filmes a séries. Além disso, será oferecido a eles realizar veiculações especiais dentro do canal escolhido.

“Nosso modelo de negócios é baseado integralmente na receita obtida com publicidade. Antes de lançar o streaming, criamos cinco cotas fundadoras, específicas para a plataforma. No futuro, teremos outras formas de anunciar, integradas com a TV”, disse Grosman, que anteriormente foi fundador em 1999 da Fbiz, uma das primeiras agências de marketing digital do país, entre outros cargos.

PUBLICIDADE

Grosman chegou ao SBT no fim de 2022 com a missão de tirar do papel e executar o projeto da plataforma digital do canal.

Ensaio para a TV 3.0

Beyruti, 48 anos, ocupa o cargo de CEO do SBT há um ano e meio. Anteriormente, trabalhou como conselheira da empresa por cerca de dez anos e liderou a diretoria artística e de programação. “Minha primeira vez na emissora foi em 2006 com o Ídolos [reality show de música que dirigiu].”

O projeto do +SBT teve início há dois anos e deve servir como um ensaio da emissora para avançar na chamada TV 3.0, uma nova tecnologia que visa conectar canais abertos com a internet e abrir oportunidades de maior segmentação de público para os anunciantes. Deve ser implementada no Brasil a partir de 2025.

PUBLICIDADE

Leia mais: Eletromidia mira Congonhas, cidade do Rio e linha laranja do metrô de SP, diz CEO

“A TV 3.0 representa um investimento alto. Conversamos sobre isso com outras emissoras, pois é um tema do setor. Cada emissora tem suas condições para o investimento. Da mesma forma que passamos do formato analógico para o digital, agora há essa etapa do digital para a TV 3.0″, disse a CEO.

Beyruti disse que as conversas sobre o tema e o cronograma de implantação são realizadas na esfera da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão).

A CEO do SBT apontou como seus principais desafios avançar na transformação digital e manter-se atualizada sobre as incessantes mudanças do setor.

“Há muito trabalho para fazer, pois o que vale amanhã não necessariamente o que funcionou ontem. Não podemos dormir no ponto. Temos que estar a toda hora vendo para onde caminham as coisas, pois a tecnologia muda muito rapidamente, bem como os hábitos dos telespectadores”, disse Beyruti.

Na agenda da executiva, uma das prioridades é concluir o planejamento e o orçamento da emissora para 2025. Para o streaming e para a TV aberta, a busca por novos patrocinadores é a ordem do dia. “Clientes são sempre bem-vindos. Gostaríamos de ter mais patrocinadores do nível que conseguimos para o lançamento do +SBT.”

Programação do +SBT

A plataforma digital de streaming SBT planeja exibir documentários sobre figuras marcantes da história da emissora, como Hebe Camargo (1929-2012), Gugu Liberato (1959-2019) e Jô Soares (1938-2022), de olho na demanda de seus telespectadores por atrações nostálgicas.

O fundador do canal, Silvio Santos, e os apresentadores Carlos Alberto de Nóbrega, Celso Portiolli, Christina Rocha e Carlos Massa, o Ratinho, também serão temas de documentários.

A diretora de conteúdo multiplataforma do SBT, Carolina Gazal, disse à Bloomberg Línea que nem todos os sucessos antigos exibidos pela emissora, como novelas hispânicas e filmes americanos, estarão disponíveis no streaming no primeiro momento, pois isso depende ainda de negociação com fornecedores.

“Em alguns conteúdos precisamos avaliar a questão dos direitos autorais. Vamos fazer isso com o tempo, gradualmente. Mas o lançamento da plataforma já trará conteúdos de parcerias, nostálgicos, dos anos 90 e 2000. Não é tudo, porque respeitamos os contratos antigos”, afirmou Gazal.

O SBT mantém mais de dez parcerias de fornecimento de conteúdo, incluindo players como BBC, Encripta, Millimages e Cisneros, segundo ela. A emissora planeja fechar também acordos com produtoras menores.

Leia mais: ‘Sucessores’: do Pão de Açúcar a novos negócios, as lições de Ana Maria Diniz

Sucessão e governança

A executiva falou também do processo de sucessão e de governança no Grupo Silvio Santos, que teve, segundo ela, um marco com a venda do PanAmericano para o BTG Pactual (BPAC11) em 2011, um negócio de R$ 450 milhões em momento em que o banco enfrentava dificuldades.

Recentemente, segundo informações de mercado, o grupo negociou a venda da Jequiti, empresa de cosméticos, para a farmacêutica Cimed, liderada por João Adibe, mas não houve acordo. O valor especulado por fontes para a transação também estava na casa de R$ 450 milhões.

“Nós seis [ela e as cinco irmãs] fizemos todo um processo de governança. Estamos bem envolvidas. Minhas irmãs estão bem atuantes. No Grupo Silvio Santos, a governança funciona há mais de dez anos”, afirmou.

Durante a apresentação da plataforma, Beyruti revelou a situação de saúde do seu pai, que está em recuperação após ter contraído a gripe H1N1.

“Ele [Silvio Santos] está super empolgado, em recuperação da H1N1. Falou que vai para a feira [de produtoras de conteúdo], dizendo que, ‘quando eu ficar bem, quando eu melhorar, eu vou para as feiras comprar filmes para o S. Para ele, o nosso streaming é o S, como a Netflix tem o N”, contou.

Leia também

Os novos influencers da Geração Z: lifestyle, viagens e patrimônio de milhões

A crise da Coteminas: da dívida com a Farallon Capital à venda da mmartan

Novo streaming de esporte com ESPN pode acelerar derrocada da TV paga

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.