Santander Brasil mira engajar cliente de alta renda em parceria com Live Nation

CEO Mario Leão diz que banco também deve lançar uma conta global como parte da estratégia para atingir 1 milhão de clientes de alta renda até o fim do ano

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Bloomberg Línea — A música virou a nova arma de bancos brasileiros para estimular o uso de cartão de crédito por clientes de alta renda, uma das principais alavancas da receita das instituições financeiras no segmento de pessoas físicas. De olho no potencial de vinculação de contas e venda de outros produtos e serviços bancários, o Santander Brasil (SANB11) espera ampliar sua base de correntistas com o apelo de atrações internacionais em apresentações no Brasil programadas para os próximos dois anos.

Esse é o principal objetivo da parceria recém-firmada pelo Santander Brasil com a Live Nation, principal empresa de entretenimento no mundo, composta por líderes do mercado global como Ticketmaster, Live Nation Concerts e Live Nation Sponsorship, disse o CEO do banco no país, Mario Leão, nesta quarta-feira (26), durante entrevista coletiva sobre o resultado do balanço do segundo trimestre.

“Fizemos parceria com a maior empresa de shows do mundo, a Live Nation, pelos próximos dois anos. Começa a partir de novembro com o show da cantora Alanis Morissette [que será em 14 de novembro no Allianz Parque, em São Paulo]”, disse o executivo.

O executivo explicou que o banco passará a ser o patrocinador master de todos os eventos da Live Nation realizados no Brasil.

“Vimos na música uma forma de engajar o cliente de alta renda, mas não só de alta renda, de uma maneira diferente. Os shows sao muito populares”, avaliou Leão.

Atualmente, alguns festivais com artistas nacionais e estrangeiros integram a estratégia de concorrentes do Santander, como o Itaú Unibanco (ITUB4), que patrocina o festival The Town, e o C6 Bank, que promove um festival chamado C6 Fest. O banco digital também ofereceu venda antecipada dos shows da cantora Taylor Swift em parceria com a Mastercard tanto em 2020, que acabaram cancelados, como neste ano.

“Os festivais são bacanas, mas já estão ocupados e são pontuais, duram uma semana. Preferimos a ideia de patrocinar shows individuais, pois assim falamos com os clientes de alta renda no ano inteiro, dando a oportunidade de que usem o cartão do banco para comprar ingressos ou parcelar os valores. Isso nos diferencia”, afirmou o CEO do Santander Brasil.

Em geral, clientes de cartões de crédito ganham preferência na hora de adquirir ingressos com a compra antecipada.

Conta internacional

Leão falou ainda da parceria do Santander com a American Express. No começo de 2022, o CEO anterior, Sergio Rial, destacava a aposta nos cartões da bandeira Amex para captar o cliente de alta renda e impulsionar o portfólio de benefícios para esse perfil de correntista.

“Gostamos da parceria com o Amex. É um complemento de nossa oferta, pois é um produto mais específico. Estamos desenvolvendo formas adicionais de crescer com o Amex”, disse Leão, sem dar detalhes.

Para surfar com a turnê para celebrar os 25 anos do álbum “Jagged Little Pill”, da canadense Alanis Morissette, o Santander ofereceu como benefício aos clientes uma pré-venda exclusiva com a opção de parcelamento das compras em até cinco vezes. Já durante o período de venda geral, o banco manteve o mesmo benefício para os clientes, enquanto os demais podem parcelar em três vezes.

O Santander trabalha com o plano de fechar 2023 com 1 milhão de clientes de alta renda, divulgado em abril. “Estamos já com quase 900 mil clientes de alta renda. Isso significa mais vinculação ao Select [segmento destinado a esse público] e mais investimentos. Vamos completar a oferta com o lançamento de uma conta internacional em breve”, adiantou.

Esse serviço tem se tornado cada vez mais comum entre bancos brasileiros, a exemplo do oferecido pelo C6 Bank, pelo BTG Pactual (BPAC11) e pelo Inter (INTR), além de fintechs especializadas como Nomad, Revolut, Wise e Avenue, adquirida pelo Itaú há um ano, entre outros players.

‘O pior já passou’

A ênfase do Santander ao segmento premium de clientes reflete a busca do banco para aumentar sua rentabilidade. No segundo trimestre, o ROAE (retorno sobre o patrimônio) atingiu 11%.

O CEO espera uma melhora do indicador nos próximos trimestres, mas evitou indicar guidance (meta), sinalizando o plano de levar o banco para o patamar de 15% e, depois, acima de 20%, mas não ainda neste ano, diante dos desafios macroeconômicos, como a inadimplência.

O lucro líquido recorrente cresceu 7,9% em três meses, subindo de R$ 2,140 bilhões no primeiro trimestre para R$ 2,309 bilhões no segundo. Só com comissões obtidas com o uso de cartões, o Santander faturou R$ 1,371 bilhão entre abril e junho, um aumento de 1,5% em três meses.

O CEO do banco disse que o custo de crédito segue melhorando com a qualidade das novas safras, que o portfólio continua em expansão, com um crescimento em negócios estratégicos, como o financiamento de automóveis, e uma dinâmica de portfólio com potencial de avançar nos próximos 12 a 18 meses.

“Há uma melhor performance em margem financeira, com tendência favorável para 2023. O pior já passou. Não estamos prevendo uma piora do cenário macro. A Fitch melhorou hoje o rating do Brasil, que fez o dever de casa. O dólar está caindo, e a Bolsa, subindo. Há uma boa vontade da Faria Lima com o novo governo″, avaliou Leão.

Visão do mercado

As units do Santander Brasil fecharam cotadas a R$ 24,35 (-0,34%) nesta quarta-feira, com valorização de 4% neste ano, abaixo do desempenho do Ibovespa (11%). O balanço do segundo trimestre foi avaliado por analistas de mercado como dentro das expectativas.

“Em linha com o esperado, o resultado do Santander Brasil mostra uma tendência de recuperação, permitindo que a carteira de crédito volte a crescer nos próximos trimestres, ainda que de maneira gradual”, avaliou José Eduardo Daronco, analista da Suno Research, em comentário à Bloomberg Línea.

O analista Pedro Leduc, do Itaú BBA, manteve a recomendação “underperform” (abaixo da média do mercado) para o papel do Santander Brasil, com preço-alvo de R$ 27, após a divulgação do balanço.

O analista considerou o resultado fraco, como esperado, notando que o lucro líquido de R$ 2,3 bilhões (e 11% de ROE) vieram em linha com os números do Itaú BBA e levemente abaixo do consenso.

Leduc acrescentou ainda que o resultado do trimestre foi ajudado pelo evento não recorrente da venda de participação (R$ 1,1 bilhão) na Webmotors, além da reversão de R$ 1,5 bilhão em provisões, bem como de R$ 2,7 bilhões relacionados à provisão por uma disputa sobre tributos (PIS/Cofins).

Daronco destacou o início da retração da inadimplência da carteira, principalmente de pessoa física, que ficou no mesmo patamar do ano passado, abaixo do que vinha sendo registrado.

“A diminuição é a consequência da política de crédito mais restritiva, que vigora desde o início do ano passado, quando os atrasos maiores que 90 dias elevaram-se consideravelmente. Por outro lado, como reflexo da política de crédito mais defensiva, o spread da carteira, isto é, a diferença entre o rendimento de juros e as despesas, diminuiu”, apontou Daronco.

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