Bloomberg — O Santander prevê receitas e rentabilidade mais altas neste ano de 2024, depois que novos clientes ajudaram a elevar a receita de empréstimos nos últimos meses de um ano recorde.
O banco com sede em Madri apresentou um lucro líquido de € 2,93 bilhões (US$ 3,17 bilhões) no quarto trimestre, superando os € 2,56 bilhões previstos por analistas em uma pesquisa da Bloomberg. O lucro do trimestre e o do ano inteiro foram os mais altos já registrados.
O Santander estabeleceu uma meta de crescimento de receita de um dígito médio neste ano, bem como um retorno sobre o patrimônio tangível de 16%, em comparação com 15,06% do ano passado. Também espera que sua taxa de eficiência fique abaixo de 43%, em comparação com 44,1% em 2023.
O maior banco da Espanha se beneficiou de 5 milhões de novos clientes adicionados no ano passado, o que ajudou a elevar a receita líquida de juros (NII, na sigla do setor) em 9,5% em relação ao ano anterior.
O Santander e seus concorrentes espanhóis, que dependem muito de clientes de varejo, foram alguns dos maiores beneficiários do ciclo de aumento de taxas recorde do Banco Central Europeu (BCE) no ano passado. À medida que o BCE freia esse movimento, por outro lado, esses mesmos bancos começam a sentir a desaceleração na receita de juros.
Na terça-feira (30), o maior concorrente espanhol do Santander, o Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), relatou receitas líquidas de juros muito abaixo das expectativas, assim como o Bankinter no início deste mês. Taxas e comissões melhores do que o esperado ajudaram o BBVA a compensar essa queda.
A presidente do conselho do Santander, Ana Botín, em entrevista à Bloomberg TV, disse esperar que a América Latina, incluindo o México, ajude a compensar qualquer fraqueza nos negócios de varejo europeus neste ano.
“A economia global como um todo será mais fraca”, disse ela. “Mas para nós será um ano melhor.”
As ações do Santander subiam 2% às 9h10 em Madri, com analistas destacando a meta de rentabilidade mais alta. Ao mesmo tempo, eles disseram que o lucro melhor do que o esperado refletiu em grande parte um impacto fiscal.
O que diz a Bloomberg Intelligence:
O Santander superou o consenso de analistas em 11% no lucro líquido do quarto trimestre, mas esse feito é de baixa qualidade - foi impulsionado principalmente por incentivos fiscais únicos relacionados ao leasing de veículos elétricos -, com lucro líquido aquém das estimativas de alta de dois dígitos em seus principais mercados, Espanha, Brasil e EUA. A meta de retorno sobre o patrimônio tangível do banco em 2024 enfrenta desafios, incluindo o crescimento da receita mais lento e um aumento do custo de risco.
Lento Tang, analista de bancos da Bloomberg Intelligence.
Efeito da queda dos juros
A queda nas taxas de juros reduz o que os bancos podem cobrar pelos empréstimos, enquanto os custos de financiamento, como os juros pagos sobre depósitos, tendem a ser mais lentos para cair. Uma exceção a essa regra é o Brasil, um de seus maiores mercados, onde o Santander consegue reduzir os pagamentos sobre depósitos mais rapidamente do que as taxas de empréstimos.
Fora da Espanha, o Santander e o BBVA também sofreram o impacto da desvalorização do peso argentino após a eleição do presidente Javier Milei em novembro passado. A moeda sul-americana caiu mais da metade em relação ao euro desde que Milei assumiu o cargo em dezembro.
Para reduzir a dependência da receita de juros e ampliar as taxas, Botín tem feito contratatações para a área corporate e de investment banking, especialmente nos EUA. Embora o banco espanhol já estivesse planejando expandir no mercado americano em 2022, isso ganhou velocidade após milhares de funcionários do Credit Suisse se encontrarem em busca de emprego quando o UBS assumiu seu rival em 2023.
Para os investidores, os ganhos também ofereceram uma visão inicial do impacto financeiro da nova estrutura corporativa, que terá um foco mais comercial em vez de geográfico. A empresa agora tem cinco grupos de negócios globais.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
CEO do Santander Brasil: Vamos buscar crescimento maior da carteira em 2024
Santander vê nova onda de ofertas de títulos corporativos no Brasil e em LatAm
