Bloomberg Línea — Cinco anos depois do início dos problemas da Braskem (BRKM5) envolvendo a operação de sal-gema em Maceió, no Alagoas, a companhia enfrenta uma nova tormenta diante do risco de rompimento de uma mina no bairro de Mutange.
A prefeitura declarou situação de emergência por 180 dias na capital alagoana na quarta-feira (29) devido ao risco iminente de colapso da mina nº 18, mantida pela Braskem, na região da Lagoa Mundaú.
A Defesa Civil de Maceió informou que o deslocamento vertical acumulado da mina em questão é de 1,42 metro e a velocidade de aprofundamento é de 2,6 centímetros por hora. O órgão também permanece em alerta máximo “devido ao risco iminente de colapso”.
As ações da companhia petroquímica caíam 6,85% nesta sexta-feira (1º), por volta das 17h10 (horário de Brasília). Os papéis acumulavam queda de 11,88% nesta semana diante do aumento dos riscos de colapso da mina.
Nesta sexta-feira, a agência de classificação de riscos Fitch Ratings informou em nota que o colapso iminente da mina em Maceió “poderá impactar materialmente o fluxo de caixa da Braskem e pressionar seu rating”. A agência acrescentou que, no momento, as consequências de um possível incidente ainda são incertas.
A Fitch destacou que o evento “poderá aumentar substancialmente as ações contra a empresa” e “prejudicar a sua capacidade de acesso aos mercados de capitais, uma vez que os investidores estão mais restritos e preocupados com questões ESG”.
“Em nossa opinião, o novo processo de R$ 1 bilhão movido contra a empresa está em fase inicial e precisa seguir o rito apropriado, o que pode levar meses. A Fitch irá monitorar a situação e não presumirá desembolsos até que a empresa seja legalmente obrigada a fazer o pagamento”, disse a agência.
Na quinta-feira (30), a Braskem informou ao mercado ter sido intimada em ação civil pública com valor atribuído à causa pelos autores de R$ 1 bilhão. A ação foi ajuízada pelo Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado de Alagoas e Defensoria Pública da União contra a companhia e o município de Maceió.
Em agosto, a Fitch revisou a perspectiva do rating da Braskem para negativo devido à probabilidade de permanência da alavancagem em níveis altos por mais tempo.
O cenário base da agência não contempla desembolsos adicionais além dos anunciados anteriormente. A previsão da Fitch considera um pagamento total de aproximadamente R$ 7,5 bilhões (cerca de US$ 1,5 bilhão) até 2025. “Espera-se que o fluxo de caixa seja negativo em 2023 e 2024, em R$ 4,5 bilhões e R$ 3,5 bilhões respectivamente, principalmente devido a essas liquidações”, diz a Fitch. Em 2025, a agência prevê que o fluxo de caixa se torne positivo em aproximadamente R$ 1 bilhão.
Em julho deste ano, a Braskem firmou um acordo com o município de Maceió para o pagamento de R$ 1,7 bilhão em indenização, compensação e ressarcimento relacionados a danos patrimoniais. À época, analistas de mercado avaliaram de forma positiva o acordo, visto como um passo significativo para a resolução do imbróglio. No entanto, alertaram para outros desdobramentos do caso, incluindo custos de encerramento da operação, por exemplo.
Segundo uma fonte a par do assunto ouvida pela Bloomberg Línea, que pediu para não ser identificada porque as discussões são privadas, o novo problema pode custar uma cifra na casa de “centenas de milhões de reais” para a Braskem, embora a companhia não tenha uma estimativa fechada para o caso.
Com o novo problema detectado na operação alagoana, o grupo petroquímico vive uma nova – e importante – onda de incertezas.
O caso pode respingar inclusive em sua controladora Novonor (ex-Odebrecht), que negocia a venda de sua participação de 50,1% do capital votante na petroquímica. Segundo analistas de mercado, o imbróglio em Alagoas tem sido um fator decisivo para a precificação da fatia à venda da companhia.
A Petrobras (PETR3, PETR4) detém ainda outros 47% do capital votante na Braskem. Na semana passada, executivos da estatal disseram que estão avaliando todas as opções em relação à petroquímica, mas ressaltaram que a Braskem não é a única alternativa para atuação no setor.
Para fontes de mercado ouvidas pela Bloomberg Línea, é cedo para avaliar a extensão dos impactos do problema em Alagoas, que parecia estar caminhando para uma solução.
A prefeitura de Maceió ordenou na quinta-feira (30) a desocupação da região, incluindo a transferência de pacientes do Hospital Sanatório para outras unidades hospitalares. São cinco bairros envolvidos no caso e, no total, mais de 55 mil pessoas já foram removidas de suas casas desde o início do caso, em 2018.
Como começaram os tremores em Maceió
A operação de extração de sal-gema da Braskem foi encerrada em maio de 2019, após uma série de fissuras em ruas e casas de três bairros de Maceió colocar em risco milhares de moradores. As primeiras rachaduras começaram a aparecer em 2018.
A petroquímica mantinha a operação há mais de quatro décadas, em uma atividade que envolvia poços de 900 a 1.200 metros de profundidade em um lago para extrair sal-gema, matéria-prima usada na produção de plástico. A unidade abastecia a planta Pontal da Barra, também em Maceió, que passou a operar com sal importado do Chile.
A Braskem informou em nota que vem adotando medidas para o fechamento definitivo dos poços de sal, conforme plano apresentado às autoridades e aprovado pela Agência Nacional de Mineração (ANM). “Esse plano registra 70% de avanço nas ações e a conclusão dos trabalhos está prevista para meados de 2025″, diz.
A companhia acrescenta que, de 35 cavidades, nove receberam recomendação de preenchimento com areia. “Destas, cinco tiveram o preenchimento concluído; em outras três os trabalhos estão em andamento; e uma já está pressurizada, indicando não ser mais necessário o preenchimento com areia. Além dessas, em outras cinco cavidades foi confirmado o status de autopreenchimento”.
Conforme nota, “as demais 21 cavidades estão sendo tamponadas e/ou monitoradas, sendo que em sete o trabalho já foi concluído”. As atividades para preenchimento da cavidade 18 estavam em andamento e foram suspensas preventivamente devido à movimentação atípica no solo.
A petroquímica destacou que “continua mobilizada e monitorando a situação da mina 18″, tomando “todas as medidas cabíveis para minimização do impacto de possíveis ocorrências”.
Segundo a empresa, há monitoramento “para garantir a detecção de qualquer movimentação no solo da região e viabilizar o acompanhamento pelas autoridades e a adoção de medidas preventivas”.
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