Retomada de shoppings contrasta com crise de varejistas na economia e na bolsa

Ações de grupos como Allos e Multiplan saltam 60% e 30%, respectivamente, neste ano com mix de negócios, enquanto redes como Casas Bahia e Magalu acumulam perdas

Brasileiros retomam hábitos de consumo, mas não de maneira indiscriminada, o que gera diferenças no ritmo de crescimento de segmentos
Por Leda Alvim - Giovanna Bellotti Azevedo
28 de Dezembro, 2023 | 05:01 PM

Bloomberg — Os shoppings brasileiros estão de volta à graça dos consumidores, em recuperação de anos de prejuízos, enquanto varejistas lutam para sobreviver às altas dívidas e à acirrada concorrência online.

As ações da Allos (ALOS3) subiram quase 60% neste ano, rumo ao maior salto anual desde 2019. Os papéis de empresas pares como Multiplan (MULT3) e Iguatemi (IGTI11) tiveram ganhos de cerca de 30%, superando o Ibovespa, índice de referência da bolsa de valores brasileira, que avançou mais de 20%.

Os ganhos vêm em meio a uma recuperação dos lucros, que se espera que continue à medida que o crescimento econômico acelera e as taxas de juros diminuem. A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, conhecida como Alshop, estima que as vendas de Natal tenham alcançado R$ 70 bilhões em 2023, um aumento de 5,6% em relação ao ano passado.

Trata-se de uma reviravolta para um setor que foi duramente atingido pelo fechamento obrigatório durante a pandemia, pelo aumento da concorrência com o comércio eletrônico e pelas altas taxas de juros - fatores que estão afetando o desempenho de alguns dos maiores varejistas do país.

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É também um cenário diferente do observado nos Estados Unidos, onde os hábitos de consumo se voltaram para serviços e experiências como férias e shows de Taylor Swift, o que reduziu a movimentação em shoppings.

“Há uma dicotomia entre o desempenho dos varejistas e o dos shoppings”, disse Thiago Lima, gestor de fundo de dívida e chefe de investimento imobiliário da gestora JGP, que tem exposição tanto à Allos quanto à Multiplan. “Um shopping center é um mercado físico onde o desempenho de um varejista individual não importa. O que importa é a combinação de opções e serviços.”

Os gigantes do varejo do Brasil enfrentaram dificuldades com altas taxas de juros e maior escrutínio de investidores e analistas após o colapso surpresa da Americanas (AMER3) em janeiro.

A Casas Bahia (BHIA3), anteriormente conhecida como Via e uma das redes varejistas mais populares do país, teve que vender ações com um desconto acentuado em uma oferta subsequente em setembro para ajudar a pagar dívidas.

Suas ações proporcionaram aos investidores os piores retornos neste ano dentro do Ibovespa, com queda de 81%. As ações do concorrente Magazine Luiza (MGLU3) caíram 21% no ano.

  Ações de empresas de shopping center superam em desempenho as de varejistas na bolsa brasileira desde o começo de 2023

O descolamento também se aplica à renda fixa, com os investidores se sentindo mais confortáveis em deter dívidas de operadores de shopping, que possuem imóveis que podem servir como garantia caso a empresa precise de mais financiamento, disse Lima. Os varejistas, em sua maioria, têm relativamente poucos ativos físicos.

Vale ressaltar que algumas redes de moda brasileiras - também encontradas em shoppings - estão se saindo melhor do que seus concorrentes físicos. A Vivara (VVAR3) e a C&A (CEAB3) têm apresentado desempenho superior ao Ibovespa, sendo que a última teve um aumento de cerca de 250% neste ano com um desempenho considerado “impressionante” no setor de vestuário.

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A Allos, a ação com o melhor desempenho do setor, lançou uma série de vendas de participação para aumentar o caixa que pode ser utilizado para financiar expansões. A empresa - resultado da fusão da Aliansce Sonae com a brMalls - vendeu o equivalente a cerca de R$ 1,8 bilhão desde setembro.

Os shoppings brasileiros devem continuar a apresentar resultados fortes em 2024, escreveu a analista sênior da Fitch Natália Brandão no início de dezembro. Com aluguéis ajustados pela inflação, altas taxas de ocupação e poucos calotes, as empresas poderão manter margens elevadas e aumentar a geração de caixa, afirmou a agência de classificação de risco.

Oferecer não apenas lojas mas também salões de beleza e academias oferece um impulso ao setor, de acordo com Fanny Oreng, analista do Santander.

“Os shoppings nos Estados Unidos estão muito focados no varejo, portanto se tornam um destino de compras em vez de uma opção de entretenimento”, disse. “Em um país como o Brasil, em que a economia é supercíclica, os operadores de shoppings sempre tiveram que adaptar o mix de lojas e se reinventar.”

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