Renner vê evolução de modelo após investimentos e mira novas cidades, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Fabio Faccio conta como a rede varejista de moda bateu o consenso de mercado com uma estratégia que inclui de uso de tecnologia a ‘coleções coringas’

CEO da varejista de moda e lifestyle, Fabio Faccio,
08 de Novembro, 2024 | 05:18 AM

Bloomberg Línea — A Lojas Renner (LREN3) reportou no fim do dia na quinta-feira (7) um lucro líquido de R$ 255,3 milhões no terceiro trimestre, um crescimento de 48% em 12 meses. O resultado superou com folga o consenso de estimativas de analistas compiladas pela Bloomberg (R$ 185 milhões).

No período, a companhia elevou receitas e margens e reduziu despesas, o que encaminha um ano histórico em cima de alavancagem operacional. Mas não só isso. No mercado, essa recuperação tem se traduzido em uma valorização acumulada de 37% de sua ação em 12 meses.

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Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da varejista de moda e lifestyle, Fabio Faccio, destacou o quarto trimestre consecutivo de crescimento de lucro, em um ritmo acima da média do mercado.

O executivo apontou a previsão de expansão do parque de lojas em 2025 com a abertura de unidades em novas cidades com mais de 50 mil habitantes, mas disse que o número ainda está em estudo.

“Hoje estamos em 33% das cidades com mais de 50 mil habitantes. Ou seja, em 67% de cidades desse porte não temos presença. Poderíamos abrir lojas em 440 municípios. Esse é o tamanho do potencial para nossa expansão. Vemos muitas oportunidades em cidades novas”, disse o CEO.

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A expansão da rede de moda (veja mais abaixo) chega, portanto, em um momento de recuperação dos indicadores financeiros e operacionais, o que sinaliza perspectivas favoráveis.

“Batemos o consenso de mercado em diversos indicadores. A Renner entregou mais um forte trimestre com sólida evolução do nosso modelo de negócios”, disse Faccio.

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“Investimos muito nos últimos anos e estamos colhendo os frutos agora. O resultado reforça que estamos em uma posição bastante diferenciada”, disse o executivo.

O Ebitda, métrica de geração de caixa operacional, totalizou R$ 569,2 milhões entre julho e setembro, com aumento anual de 59,8%, novamente acima do previsto no consenso da Bloomberg (R$ 500,8 milhões).

A margem bruta de varejo, por sua vez, saltou de 53,6% para 54,7% em um ano. Foi o quarto trimestre consecutivo de alta.

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Segundo a Renner, essa melhora da margem refletiu - como disse Faccio - a evolução do modelo de negócios da companhia com a execução do que classificou como uma “moda mais ágil e flexível”. Isso significa que uma parcela maior da coleção foi desenvolvida e produzida durante a estação.

Coleções ‘coringas’

Essa combinação resultou em estoques ajustados e em níveis considerados saudáveis, com redução de 13 dias no prazo médio e maior giro, além de queda nos volumes de itens mais antigos.

“Os extremos climáticos deixam a vida mais imprevisível com as estações misturadas. Hoje temos coleções mais flexíveis, coringas, peças mais diversas que atendem a qualquer necessidade dos nossos consumidores. Isso nos dá mais assertividade nas coleções, independentemente das condições climáticas”, explicou o CEO.

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A rapidez na troca de roupas nas lojas se deve também, segundo Faccio, ao uso crescente de tecnologia, como IA (Inteligência Artificial), e à expertise de seus times de pesquisa e design, além da localização de seu novo CD (Centro de Distribuição) em Cabreúva, na Grande São Paulo, que envolveu investimento de R$ 600 milhões.

“Usamos a IA para produzir o que é necessário. Também economizamos energia, evitamos desperdício e temos um estoque mais enxuto. Isso ajuda a explicar o aumento da rentabilidade”, explicou Faccio.

A Renner também avançou em digitalização, com adoção de caixas de autoatendimento com tecnologia RFID (Radio-Frequency Identification, ou identificação por radiofrequência para coletar dados de etiquetas) em cerca de 250 lojas. Houve aumento de participação da funcionalidade na finalização de compras, com redução de filas - e, no fim do dia, aumento da venda por metro quadrado.

“Desta forma, houve também melhora na satisfação dos clientes, algo refletido no NPS [Net Promoter Score, métrica universal de satisfação] da companhia”, disse o CEO.

O CFO da Renner, Daniel Santos, presente na mesma entrevista, destacou o crescimento das receitas (12,1%) em ritmo superior ao das despesas (6,4%) no terceiro trimestre e a já citada melhora de 13 dias no prazo médio de estoques no período como fatores para explicar o aumento da margem bruta.

Em nove meses do ano, a companhia acumulou quase R$ 900 milhões em caixa.

Expansão de lojas e serviços financeiros

Nem o início do ciclo de alta da taxa básica de juros - a taxa subiu pela segunda vez no ano nesta semana, para 11,25% ao ano - deve tirar a Renner da rota de crescimento, segundo os executivos.

Há previsão de expansão tanto no número de lojas, ainda não definido, como alavancada pelo “braço” financeiro do grupo. É um movimento que já tem sido observado.

“Nosso modelo de análise de crédito está mais robusto na Realize, financeira da Renner, que contribuiu com lucro de R$ 58 milhões para o resultado operacional no terceiro trimestre. É um número bem expressivo”, disse o CFO da companhia.

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Em maio, a companhia reforçou a capacidade de atração de clientes pela financeira ao oferecer benefícios de cashback para clientes.

“Nosso modelo de concessão de crédito está mais inteligente e preciso do que no passado e atraímos os consumidores com benefícios. Estamos menos expostos à mudança dos juros”, disse Santos.

Na frente de expansão, o CEO da Renner disse que o ajuste no número de lojas da Camicado, marca para artigos de casa e decoração, já foi concluído, mas que estuda a possibilidade de voltar a abrir novas unidades após um aumento de 12% nas vendas no terceiro trimestre.

Ao fim de setembro, a Renner contava com 104 lojas da Camicado, três a menos do que há um ano.

Faccio disse que a Camicado atingiu níveis recordes de margem bruta para o terceiro trimestre, como consequência de maior participação das vendas de produtos da marca própria Home & Style, o que permitiu maior competitividade e gestão eficiente dos estoques, com menos remarcações.

Na marca Renner, a rede chegava a 442 lojas ao fim do terceiro trimestre, quatro a mais do que há um ano. Com 129 unidades, a Youcom, marca voltada para o estilo do jovem urbano, também teve aumento de margem decorrente da evolução na gestão comercial e de estoques.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.