Bloomberg — A maior fabricante de açúcar e etanol do Brasil, a Raízen (RAIZ4), analisa possíveis vendas de ativos e decidiu interromper projetos de construção de novas usinas, em um esforço para reduzir a dívida depois que os custos dos empréstimos dispararam no país com a alta dos juros.
A empresa, uma joint-venture entre a Cosan (CSAN3) e a gigante petrolífera Shell, passa por uma revisão “profunda” de seu portfólio, disse o CEO, Nelson Gomes, a analistas durante uma call de resultados nesta segunda-feira (17).
O Banco Central aumentou a taxa básica de juros em quase três pontos percentuais desde setembro para tentar manter a inflação sob controle, bem como ancorar as expectativas. A taxa está atualmente em 13,25% ao ano.
Leia mais: Raízen estuda sócio para etanol de segunda geração e venda da Oxxo, dizem fontes
Segundo a mediana das expectativas do mercado no boletim Focus, a Selic encerrará 2025 em 15% ao ano.
“O rápido aumento das taxas de juros nos trouxe um considerável senso de urgência neste momento, de modo que possamos tomar todas as medidas necessárias para trazer a empresa de volta a uma posição estável e equilibrada”, disse Gomes.
As ações da Raizen recuaram cerca de 54% no último ano.
O CEO não revelou quais ativos seriam colocados à venda, mas disse que os principais negócios de açúcar, etanol e distribuição de combustível no Brasil e na Argentina continuariam como o foco da empresa. A Raízen também tem reduzido seu “braço” comercial, acrescentou Gomes.
O diretor financeiro (CFO), Rafael Bergman, disse que a empresa só levará adiante as duas usinas de etanol de segunda geração que estão atualmente em construção, e se absterá de acrescentar novos projetos que haviam sido planejados anteriormente.
Leia mais: Cosan, de Rubens Ometto, vende R$ 9 bi em ações da Vale para reduzir a dívida
A Raízen registrou um prejuízo líquido no quarto trimestre de R$ 2,6 bilhões de reais, muito distante de um lucro médio de R$ 365 milhões nas estimativas dos analistas compiladas pela Bloomberg.
A produção de açúcar da empresa caiu depois que algumas de suas plantações de cana foram atingidas pela seca, e também registrou um encargo de R$ 618 milhões de “certas operações comerciais” envolvendo contratos futuros de açúcar e etanol.

As ações da Raízen chegaram a cair 7,3% no início do pregão da B3 nesta segunda-feira, antes de reduzir e depois reverter as perdas. Perto das 16h30, subiam perto de 3,4%.
A empresa passou recentemente por uma série de mudanças de liderança, que levaram Nelson Gomes a assumir o comando em novembro de 2024. A mudança ocorreu no momento em que a Cosan se esforça para reduzir a sua alavancagem também elevada.
A Bloomberg News informou em novembro passado que a Raízen considerava a venda de uma participação em suas usinas de etanol de segunda geração.
As fraquezas do balanço patrimonial e a falta de clareza sobre os processos de recuperação da operação e de desalavancagem podem minar o otimismo de investidores no curto prazo, disse a analista do Itaú BBA Monique Greco em um relatório.
“No longo prazo, acreditamos que a história oferece uma proposta intrigante de risco-recompensa devido aos resultados potenciais de seu processo de recuperação recém-iniciado.”
Veja mais em bloomberg.com
Leia também
Ricardo Mussa deixa Cosan depois de 17 anos no grupo de Rubens Ometto
Raízen: plano é ser líder global em combustível sustentável de aviação, diz CEO
©2025 Bloomberg L.P.