Raízen: rápido aumento dos juros impôs senso de urgência, diz CEO

Nelson Gomes disse em call com analistas que a empresa passa por profunda revisão do portfólio, que inclui medidas como venda de ativos e redução de investimentos; ações sobem mais de 3%

Armazém com açúcar: Raízen busca reduzir a alavancagem diante do impacto financeiro de juros altos sobre a dívida (Foto: Jonne Roriz/Bloomberg)
Por Dayanne Sousa - Leda Alvim
17 de Fevereiro, 2025 | 04:54 PM

Bloomberg — A maior fabricante de açúcar e etanol do Brasil, a Raízen (RAIZ4), analisa possíveis vendas de ativos e decidiu interromper projetos de construção de novas usinas, em um esforço para reduzir a dívida depois que os custos dos empréstimos dispararam no país com a alta dos juros.

A empresa, uma joint-venture entre a Cosan (CSAN3) e a gigante petrolífera Shell, passa por uma revisão “profunda” de seu portfólio, disse o CEO, Nelson Gomes, a analistas durante uma call de resultados nesta segunda-feira (17).

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O Banco Central aumentou a taxa básica de juros em quase três pontos percentuais desde setembro para tentar manter a inflação sob controle, bem como ancorar as expectativas. A taxa está atualmente em 13,25% ao ano.

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Segundo a mediana das expectativas do mercado no boletim Focus, a Selic encerrará 2025 em 15% ao ano.

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“O rápido aumento das taxas de juros nos trouxe um considerável senso de urgência neste momento, de modo que possamos tomar todas as medidas necessárias para trazer a empresa de volta a uma posição estável e equilibrada”, disse Gomes.

As ações da Raizen recuaram cerca de 54% no último ano.

O CEO não revelou quais ativos seriam colocados à venda, mas disse que os principais negócios de açúcar, etanol e distribuição de combustível no Brasil e na Argentina continuariam como o foco da empresa. A Raízen também tem reduzido seu “braço” comercial, acrescentou Gomes.

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O diretor financeiro (CFO), Rafael Bergman, disse que a empresa só levará adiante as duas usinas de etanol de segunda geração que estão atualmente em construção, e se absterá de acrescentar novos projetos que haviam sido planejados anteriormente.

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A Raízen registrou um prejuízo líquido no quarto trimestre de R$ 2,6 bilhões de reais, muito distante de um lucro médio de R$ 365 milhões nas estimativas dos analistas compiladas pela Bloomberg.

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A produção de açúcar da empresa caiu depois que algumas de suas plantações de cana foram atingidas pela seca, e também registrou um encargo de R$ 618 milhões de “certas operações comerciais” envolvendo contratos futuros de açúcar e etanol.

Ações da Raízen perdem mais valor nos últimos doze meses do que a de dois dos seus pares listados na B3, a São Martinho e a Jalles Machado

As ações da Raízen chegaram a cair 7,3% no início do pregão da B3 nesta segunda-feira, antes de reduzir e depois reverter as perdas. Perto das 16h30, subiam perto de 3,4%.

A empresa passou recentemente por uma série de mudanças de liderança, que levaram Nelson Gomes a assumir o comando em novembro de 2024. A mudança ocorreu no momento em que a Cosan se esforça para reduzir a sua alavancagem também elevada.

A Bloomberg News informou em novembro passado que a Raízen considerava a venda de uma participação em suas usinas de etanol de segunda geração.

As fraquezas do balanço patrimonial e a falta de clareza sobre os processos de recuperação da operação e de desalavancagem podem minar o otimismo de investidores no curto prazo, disse a analista do Itaú BBA Monique Greco em um relatório.

“No longo prazo, acreditamos que a história oferece uma proposta intrigante de risco-recompensa devido aos resultados potenciais de seu processo de recuperação recém-iniciado.”

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