Procura-se um CEO: o executivo que lidera a busca por um novo líder para a Boeing

Steve Mollenkopf, discreto engenheiro que foi CEO da Qualcomm, entra em cena como novo presidente do conselho com a missão de encontrar quem vai liderar o turnaround da fabricante de aviões

Por

Bloomberg — Enquanto a Boeing (BA) busca um CEO para tirar a fabricante de aviões americana de sua pior crise em muitos anos, os membros do conselho da empresa estão determinados a encontrar um líder que possa renová-la do zero — o que significa que experiência profunda no setor aeroespacial não é necessariamente um requisito.

Isso abre a porta para pessoas de fora da indústria e aumenta o interesse nas intenções do executivo que lidera a busca: o presidente do conselho da Boeing, Steve Mollenkopf, ex-CEO da Qualcomm, engenheiro de formação que está acostumado a lidar com crises corporativas.

Mollenkopf não revela seus planos sobre o processo de busca. Em conversas particulares, ele tem sondado fornecedores da Boeing e clientes de companhias aéreas sobre suas frustrações para ter uma melhor noção da magnitude da “limpeza” que o próximo líder da empresa precisará realizar.

Seu método de coleta de informações sugere que a busca por um novo CEO ainda está nos estágios iniciais. A empresa de recrutamento executivo Russell Reynolds Associates auxilia no processo, segundo pessoas familiarizadas com o processo ouvidas pela Bloomberg News.

O movimento aumenta o interesse sobre a primeira aparição pública de Mollenkopf como presidente do conselho na reunião anual de acionistas da Boeing nesta sexta-feira (16).

Leia mais: A pressão de companhias aéreas e os bastidores da queda do CEO da Boeing

Embora essas reuniões sejam frequentemente mundanas, a sessão virtual será atentamente observada em busca de qualquer dica que Mollenkopf e o atual CEO Dave Calhoun, cuja saída já foi anunciada, possam dar sobre a situação da empresa.

Até mesmo a eleição de conselheiros terá um elemento de drama: a Glass Lewis, que representa acionistas, recomendou que os investidores votassem contra Calhoun e os conselheiros David Joyce e Akhil Johri, citando “preocupações significativas” sobre a cultura de segurança da fabricante de aviões depois das falhas em série nos últimos meses.

A escolha do sucessor de Calhoun é uma das decisões mais importantes em anos para os conselheiros da Boeing.

Os problemas do gigante do setor aeroespacial abrangem investigações federais sobre seus controles de qualidade de fabricação, tensões financeiras crescentes, uma possível acusação, uma revolta de clientes - as maiores companhias aéreas dos Estados Unidos - que levou a uma reviravolta na gestão e perda de participação de mercado para a concorrente europeia Airbus.

“Os meses e anos à frente são de importância crítica”, disse Mollenkopf em uma carta aos acionistas em abril. “O mundo precisa de uma Boeing saudável, segura e bem-sucedida. E é isso que vai conseguir.”

A queda vertiginosa da Boeing após um quase-catástrofe em janeiro em um avião 737 Max 9 da Alaska Airlines expôs os danos de uma mudança gradual na cultura ao longo de um quarto de século, que colocou mais foco nos retornos financeiros do que nos métodos de produção.

Quem assumir o lugar de Calhoun, que disse que ficará até o final do ano, no máximo, precisará reiniciar a cultura de segurança da empresa, consertar as relações com companhias aéreas e reconstruir a participação de mercado que vem diminuindo em favor da Airbus.

Dada a enormidade dos desafios, a Boeing não pode se dar ao luxo de conceder ao seu próximo líder um longo período de aprendizado.

Mas os negócios subjacentes não são fáceis de dominar para os executivos de fora, sendo uma mistura de engenharia altamente complexa, fabricação em grande escala e máquinas construídas com o mais alto padrão de segurança, disse Richard Aboulafia, consultor e analista de aviação de longa data.

“Você tem que amar essa indústria e ter um desejo profundo de consertar uma empresa com problemas graves”, disse Aboulafia sobre os atributos necessários para o próximo CEO da Boeing.

Leia mais: Morre segundo denunciante que alertou sobre segurança de aviões da Boeing

Empregados e investidores provavelmente não veriam com bons olhos a escolha de alguém do próprio conselho da Boeing após o desempenho misto de Calhoun, um executivo de longa data na empresa. O próprio Mollenkopf é membro do conselho desde 2020. Ele se recusou em dar entrevista para esta reportagem da Bloomberg News.

Experiência em crises

“Qualquer pessoa que esteja no conselho [da Boeing] há mais de um ou dois anos tem alguma explicação a dar”, disse Aboulafia.

Mollenkopf, de 55 anos, já viveu outras crises corporativas. Ele é engenheiro elétrico e inventor que possui três dúzias de patentes, além de diplomas da Universidade de Michigan e da Universidade Virginia Tech.

Em seus sete anos como CEO da Qualcomm, empresa na qual entrou logo após a faculdade, Mollenkopf enfrentou uma gama de desafios que ameaçaram tirar a fabricante de chips do mercado.

Pressionados pelo lobby de algumas das maiores empresas do mundo, reguladores da China, da União Europeia e dos EUA lançaram investigações que desafiaram o negócio mais lucrativo da Qualcomm: o licenciamento de tecnologia.

Mollenkopf enfrentou um desafio por parte de acionistas ativistas e uma aquisição hostil. A Apple, uma força dominante na indústria de telefonia móvel que é a base do negócio da Qualcomm, perseguiu uma amarga campanha legal contra a empresa.

Mollenkopf prevaleceu, mas por pouco. Um ponto em comum em tudo isso foi sua crença de que a melhor tecnologia vence no final.

Leia também: Consolidação do setor aéreo poderia reduzir o custo de capital, diz CEO da Azul

A Apple foi forçada a abandonar suas tentativas de derrubar o negócio de licenciamento de tecnologia da Qualcomm porque o desempenho da tecnologia da empresa de comunicações wireless era insubstituível.

A Apple ainda usa chips Qualcomm no iPhone até hoje. A tentativa de compra de US$ 117 bilhões da Broadcom foi frustrada pelo governo Trump.

Ao longo das reviravoltas, Mollenkopf nunca perdeu a compostura. Ele permaneceu um engenheiro discreto, focando seus comentários nos méritos de tecnologias específicas e evitando promessas agressivas ou exagero, segundo pessoas que o conhecem.

Esses mesmos atributos estarão em destaque quando ele liderar a busca pelo que é, sem dúvida, o trabalho mais difícil no setor corporativo americano no momento: fazer um turnaround da Boeing.

Os possíveis candidatos a CEO da Boeing

A seguir, uma lista de possíveis candidatos a CEO da Boeing, de acordo com relatórios de analistas e discussões com pessoas próximas às conversas. O processo de busca permanece e nenhum nome favorito surgiu:

  • Wes Bush, 63 anos— Ex-CEO da Northrop Grumman. “Alguém com integridade muito alta, uma grande reputação, alguém que seria bem recebido em Washington DC e pelos reguladores”, disse Ken Herbert, analista da RBC Capital Markets.
  • Larry Culp, 61 anos — CEO que ajudou a revitalizar a General Electric. O acordo de emprego de Culp com a GE vai até pelo menos 17 de agosto de 2024, de acordo com o documento da empresa. Nesse momento, ele seria elegível para um prêmio de ações único que vale mais de US$ 300 milhões aos preços de hoje. E alguns funcionários da Boeing podem não ver com bons olhos ter um quarto CEO com pedigree da GE.
  • Dave Gitlin, 54 anos — Membro do conselho da Boeing e CEO da Carrier Global que também se declarou publicamente fora da disputa pelo comando da empresa. “Ele preenche muitas caixas: jovem, enérgico, cara do setor aeroespacial do começo ao fim”, disse Herbert.
  • Stephanie Pope, 51 anos — Recém-nomeada COO da Boeing e chefe de sua divisão de aviões comerciais. Pope é bem conectada com clientes e em Wall Street e está no caminho para se tornar CEO, segundo Herbert, que a conhece há mais de uma década. Pope também é relativamente nova no alto escalão da Boeing. O endosso de Pope como próxima CEO durante uma recente teleconferência de resultados surpreendeu alguns investidores.
  • Pat Shanahan, 61 anos — Conhece a Boeing como ex-cliente, fornecedor e líder de engenharia com três décadas de experiência. Como CEO da Spirit AeroSystems, ele está em negociações para vender o maior fornecedor da Boeing de volta ao seu antigo proprietário corporativo. Na Boeing, Shanahan era mais conhecido por colocar o 787 Dreamliner nos trilhos após um início problemático.
  • Greg Smith, 57 anos — Presidente da American Airlines que anteriormente trabalhou desde o chão de fábrica até o cargo de diretor financeiro na Boeing. Ele é bem visto por investidores e clientes. Ele desempenhou um papel fundamental em manter a Boeing à tona durante a pandemia, desbloqueando os mercados de crédito com uma oferta de dívida de US$ 25 bilhões.

Veja mais em Bloomberg.com