Ex-CEO da Americanas é preso pela Interpol em Madri em investigação por fraude

Miguel Gutierrez, que comandou a empresa por 20 anos, teve prisão preventiva pedida na Operação Disclosure, da Polícia Federal, que apura as responsabilidades na fraude bilionária

Por

Bloomberg Línea — Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas (AMER3) por 20 anos, foi preso pela Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) em Madri na manhã desta sexta-feira (28), informou em nota a Polícia Federal brasileira.

Gutierrez foi alvo de um dos dois mandados de prisão preventiva da Operação Disclosure, deflagrada na quinta-feira (27) para apurar responsabilidades pela fraude contábil de R$ 25,3 bilhões na varejista brasileira, revelada em janeiro de 2023.

O executivo, que tem cidadanias espanhola e brasileira, passou mais de duas décadas na empresa e comandava a varejista durante o período da fraude. Ele está na Espanha desde meados de 2023.

Leia mais: Americanas: ex-CEO e ex-diretores são alvo de operação da PF em fraude de R$ 25 bi

Anteriormente, negou as acusações por meio de seus advogados, autodenominando-se “bode expiatório”. Seus advogados disseram na quinta-feira que “ele nunca participou ou teve conhecimento de qualquer fraude” e que colabora com as autoridades sempre que necessário.

O segundo mandado de prisão é contra a ex-diretora Anna Saicali, que era responsável pela fintech do grupo, a Ame Digital. Considerada foragida pela PF, ela teria deixado o Brasil no dia 15 rumo a Portugal, segundo o jornal Folha de S.Paulo.

Os dois tiveram seus nomes incluídos na lista de Difusão Vermelha (Red Notice), sistema usado para encontrar pessoas no exterior e cumprir ordens de prisão emitidas em seus países de origem. As defesas dos dois investigados ainda não foram localizadas para comentar o caso.

A extradição de Gutierrez teria de ser solicitada pelas autoridades brasileiras, segundo o tratado vigente entre os dois países. Um obstáculo ao sucesso de um eventual pedido é a cidadania espanhola do executivo, uma vez que os países não costumam extraditar seus próprios cidadãos.

O STF (Supremo Tribunal Federal) teria de aprovar o pedido, que seria analisado depois pelo Ministério da Justiça, antes de seguir para tramitar na Justiça espanhola.

Leia mais: Ex-CEO da Americanas, em um ano de crise, foi acusado, ganhou fama e saiu do país

Os dois mandados de prisão preventiva foram emitidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Ontem, equipes da PF cumpriram 15 ordens de busca e apreensão em residências de ex-diretores da Americanas no Rio de Janeiro. Também foi determinado o sequestro de bens e valores de ex-diretores que totalizam mais de R$ 500 milhões, segundo a PF, que não divulgou os nomes dos executivos.

Os investigadores apuram crimes como manipulação de mercado, uso de informação privilegiada (insider trading), associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Fraude na Americanas

A Americanas entrou em recuperação judicial (RJ) em janeiro do ano passado, após o substituto de Gutierrez, Sergio Rial, revelar ao mercado, em fato relevante, “inconsistências contábeis” estimadas na época em R$ 20 milhões.

Ele também renunciou ao cargo e, no mês passado, disse que passou a integrar o time de sócios da gestora Crescera Capital (ex-Bozano).

A Americanas tem como acionistas de referências o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. A companhia começou, no primeiro semestre, a pagar cerca de 8 mil credores, entre eles os maiores bancos do país.

Os três empresários, que ficaram conhecidos no mercado por apostas em grandes companhias em setores como alimentos e bebidas, se comprometeram com um aporte de R$ 12 bilhões no plano de reestruturação da Americanas.

Eles, que possuem a holding LTS Invstments (iniciais de seus sobrenomes), ainda não se manifestam publicamente sobre a Operação Disclosure.

-- Com informações da Bloomberg News.