Ex-CEO da Americanas é preso pela Interpol em Madri em investigação por fraude

Miguel Gutierrez, que comandou a empresa por 20 anos, teve prisão preventiva pedida na Operação Disclosure, da Polícia Federal, que apura as responsabilidades na fraude bilionária

Operação deflagrada pela Polícia Federal, que resultou na prisão de ex-CEO, busca apurar responsabilidades sobre a fraude contábil bilionária na Americanas
28 de Junho, 2024 | 12:42 PM

Bloomberg Línea — Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas (AMER3) por 20 anos, foi preso pela Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) em Madri na manhã desta sexta-feira (28), informou em nota a Polícia Federal brasileira.

Gutierrez foi alvo de um dos dois mandados de prisão preventiva da Operação Disclosure, deflagrada na quinta-feira (27) para apurar responsabilidades pela fraude contábil de R$ 25,3 bilhões na varejista brasileira, revelada em janeiro de 2023.

O executivo, que tem cidadanias espanhola e brasileira, passou mais de duas décadas na empresa e comandava a varejista durante o período da fraude. Ele está na Espanha desde meados de 2023.

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Anteriormente, negou as acusações por meio de seus advogados, autodenominando-se “bode expiatório”. Seus advogados disseram na quinta-feira que “ele nunca participou ou teve conhecimento de qualquer fraude” e que colabora com as autoridades sempre que necessário.

O segundo mandado de prisão é contra a ex-diretora Anna Saicali, que era responsável pela fintech do grupo, a Ame Digital. Considerada foragida pela PF, ela teria deixado o Brasil no dia 15 rumo a Portugal, segundo o jornal Folha de S.Paulo.

Os dois tiveram seus nomes incluídos na lista de Difusão Vermelha (Red Notice), sistema usado para encontrar pessoas no exterior e cumprir ordens de prisão emitidas em seus países de origem. As defesas dos dois investigados ainda não foram localizadas para comentar o caso.

A extradição de Gutierrez teria de ser solicitada pelas autoridades brasileiras, segundo o tratado vigente entre os dois países. Um obstáculo ao sucesso de um eventual pedido é a cidadania espanhola do executivo, uma vez que os países não costumam extraditar seus próprios cidadãos.

O STF (Supremo Tribunal Federal) teria de aprovar o pedido, que seria analisado depois pelo Ministério da Justiça, antes de seguir para tramitar na Justiça espanhola.

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Os dois mandados de prisão preventiva foram emitidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Ontem, equipes da PF cumpriram 15 ordens de busca e apreensão em residências de ex-diretores da Americanas no Rio de Janeiro. Também foi determinado o sequestro de bens e valores de ex-diretores que totalizam mais de R$ 500 milhões, segundo a PF, que não divulgou os nomes dos executivos.

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Os investigadores apuram crimes como manipulação de mercado, uso de informação privilegiada (insider trading), associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Fraude na Americanas

A Americanas entrou em recuperação judicial (RJ) em janeiro do ano passado, após o substituto de Gutierrez, Sergio Rial, revelar ao mercado, em fato relevante, “inconsistências contábeis” estimadas na época em R$ 20 milhões.

Ele também renunciou ao cargo e, no mês passado, disse que passou a integrar o time de sócios da gestora Crescera Capital (ex-Bozano).

A Americanas tem como acionistas de referências o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. A companhia começou, no primeiro semestre, a pagar cerca de 8 mil credores, entre eles os maiores bancos do país.

Os três empresários, que ficaram conhecidos no mercado por apostas em grandes companhias em setores como alimentos e bebidas, se comprometeram com um aporte de R$ 12 bilhões no plano de reestruturação da Americanas.

Eles, que possuem a holding LTS Invstments (iniciais de seus sobrenomes), ainda não se manifestam publicamente sobre a Operação Disclosure.

-- Com informações da Bloomberg News.

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.