Bloomberg Línea — O CEO da Petrobras (PETR3, PETR4), Jean Paul Prates, voltou a defender investimentos em exploração e produção (E&P) de óleo e gás, a despeito do crescente movimento de críticas a novos projetos de combustíveis fósseis no mundo.
No novo plano de negócios da estatal para o período de 2024 a 2028, anunciado na noite desta quinta-feira (23), está previsto um total de investimentos da ordem de US$ 102 bilhões, dos quais US$ 73 bilhões para E&P. Cerca de 67% do aporte no segmento será aplicado na camada do pré-sal, considerada menos poluente devido à alta produtividade por poço.
“O mundo ainda precisa de investimentos em E&P para que a demanda de energia seja atendida. Buscamos a reposição de reservas e o desenvolvimento de novas fronteiras exploratórias que assegurem o atendimento da demanda global de energia durante a transição energética com a menor pegada de carbono possível”, disse o executivo a jornalistas nesta sexta-feira (24).
Prates disse que o mundo vai priorizar a produção de petróleo com menos emissões e que a companhia não tem problemas para “assumir compromissos climáticos”.
“Se nós não produzirmos nosso petróleo, se não repusermos nossas reservas e não soubermos produzir petróleo menos carbonizado, outros irão produzir e exportar para nós. Não queremos isso”, comentou. “A pobreza energética no Brasil é uma realidade inegável, temos que pensar como prover energia acessível”, completou.
Segundo a companhia, o novo plano de negócios foi dividido em duas carteiras: uma de projetos que já estão praticamente sancionados e outra com aqueles que ainda estão em fase de avaliação.
Analistas do Itaú BBA apontaram a divisão como positiva. “Isso dá aos investidores maior clareza sobre o que esperar da empresa em termos de implantação potencial total de capex, incluindo novos projetos e aquisições”, disseram analistas do banco em relatório.
Fora a E&P tradciional, um dos principais focos da estatal deve ser o segmento de baixo carbono, cujos investimentos nos próximos cinco anos devem somar US$ 5,5 bilhões. A empresa ressaltou que projetos “transversais”, que não são de baixo carbono propriamente ditos, mas “conversam” com a área, devem somar outros US$ 3,9 bilhões.
Por enquanto, a ideia é investir em projetos de energias renováveis amplamente estabelecidos, como eólica onshore (em terra) e solar.
“Estamos prevendo dentro desses recursos pesquisa para área de eólica offshore [em alto-mar], para que, assim que seja votado o marco regulatório [do setor] e haja um leilão, nós estejamos prontos para dar um lance. Neste momento, estamos olhando eólica onshore e solar, que têm custos menores”, disse o diretor executivo de transição energética e sustentabilidade da Petrobras, Mauricio Tolmasquim.
Refinarias e fertilizantes no plano
Prates salientou que um dos caminhos para ajudar na descarbonização é a transformação das refinarias, que podem produzir novos insumos.
“Nós não vamos mais vender refinarias, pelo contrário, vamos investir para que se tornem parques industriais mais modernos e com produção de combustíveis e produtos de baixo carbono”, disse o executivo. “Já começamos a produzir diesel com conteúdo renovável e no novo plano essa produção vai ser ampliada”, acrescentou.
Ele destacou que a estatal vai voltar a investir em fertilizantes. Hoje, a Petrobras tem quatro unidades de produção, sendo duas arrendadas. O novo plano prevê a recuperação de uma planta desativada no Paraná (Ansa) e a conclusão de obras de uma outra unidade no Mato Grosso do Sul (UFN3).
“Estamos analisando a forma como isso vai ser feito, conversamos com possíveis parceiros na China. Podemos trazer sócios, mas nada ainda está definido. Nossa intenção é clara de entrar em fertilizantes, porque é importante para o Brasil e, do ponto de vista econômico, faz sentido no túnel da transição energética. Queremos estar no jogo”, disse.
Rentabilidade
Prates tentou passar a mensagem de que a Petrobras não está perdendo dinheiro com a nova política de preços dos combustíveis.
“Lançamos uma nova estratégia comercial que deu fim a era da subordinação automática ao PPI [preço de paridade de importação], em um país autossuficiente em petróleo e em grande parte autônomo em refino, sem impacto no nosso resultado”, disse.
Para o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman, até agora a nova política de preços dos combustíveis não afetou o resultado da Petrobras. “Por enquanto, as mudanças que nós vimos nas margens para o refino foram muito pequenas.”
Ele ressaltou, porém, que o desempenho da nova política deve ser acompanhado de perto por um longo tempo. “Hoje, a fórmula [de precificação] é mais subjetiva.”
O Itaú BBA apontou em relatório que as estimativas mais baixas para a produção de petróleo no novo plano podem ser uma fonte de frustração, bem como possíveis dividendos mais modestos nos próximos anos em comparação principalmente a outras petroleiras.
“Reconhecemos que pode haver alguma frustração em relação aos números de produção mais baixos e os modestos dividendos extraordinários implícitos, especialmente entre investidores de curto prazo.”
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